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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Reestruturação das Forças Armadas americanas depende de avaliação de estratégia usada contra o Iraque

EUA discutem futuro da doutrina Rumsfeld

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Donald Rumsfeld, o secretário da Defesa dos EUA, tem uma nova batalha pela frente, e não é com nenhum dos países que os EUA consideram "o eixo do mal", como Irã ou Coréia do Norte.
Rumsfeld precisa agora convencer seus próprios militares de que sua doutrina de ataque rápido com forças terrestres leves, mas pesadamente apoiadas pela aviação, foi a principal responsável pela vitória militar no Iraque.
Está em jogo não só o futuro orçamento militar da maior potência do planeta, mas a estruturação básica de suas Forças Armadas.
Por exemplo, em vez dos pesadões tanques M-1 Abrams de 60 toneladas cada, a ponta-de-lança do Exército dos EUA poderá ser constituída por veículos de apenas 20 toneladas, mas mais bem providos de tecnologias de aquisição de alvo, comunicação e controle de tiro e capazes de deslocamento por avião.
Em vez de laboriosamente reunir forças durante semanas, lentamente esperando equipamento vindo por mar, tropas muito mais ágeis seriam despachadas de aviões de transporte ou de navios anfíbios já em patrulha em áreas sensíveis.
O sucesso dos fuzileiros navais, uma tropa fundamentalmente "leve", é um ponto a favor da doutrina Rumsfeld. Mas mesmo os marines foram apoiados por tanques e artilharia pesada. E quem suportou o maior peso dos combates foi a "pesadona" e tradicional 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada com seus 250 M-1 Abrams.
Foram gastos US$ 3 bilhões em munição contra o Iraque -de balas de fuzil e granadas de mão a obuses calibre 155 mm e mísseis. O Pentágono planeja substituir esse arsenal aos poucos, de preferência comprando munição de projeto mais moderno.
A pergunta que começa a ser feita é simples: até que ponto o Iraque foi um bom teste da doutrina? As Forças Armadas iraquianas se derreteram por causa da forma como foi feito o ataque, ou o colapso aconteceria de qualquer jeito? Várias comissões no Pentágono já foram criadas para estudar as "lições" desta guerra.
Um "falcão" aliado de Rumsfeld, o vice-presidente Dick Cheney, afirmou que a vitória foi uma "prova positiva do sucesso de nossos esforços em transformar nossos militares".
Para Cheney, com menos da metade das tropas terrestres empregadas em 1991 para expulsar os iraquianos do Kuait, e com dois terços do poderio aéreo, "um objetivo muito mais difícil foi obtido".
Sem dúvida que tomar o Iraque é um objetivo teoricamente mais difícil que meramente limpar o Kuait dos invasores. Mas, em 1991, o Exército do Iraque ainda tinha 1 milhão de homens e cerca de 5.000 tanques, contra 350 mil homens e 2.000 tanques agora.
Prever o resultado de uma guerra, ou mesmo prever qual guerra poderá acontecer um dia, não é nem de longe uma ciência exata.
O próprio Rumsfeld elencou certa vez alguns eventos seminais do século 20 que chegaram de surpresa e não foram previstos pelos estadistas em suas épocas: a crise econômica de 1929, a ascensão do nazismo e do fascismo na Europa, a Guerra da Coréia, a queda do xá do Irã e o espetacular fim do comunismo no Leste Europeu.


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