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IRAQUE OCUPADO
Reestruturação das Forças Armadas americanas depende de avaliação de estratégia usada contra o Iraque
EUA discutem futuro da doutrina Rumsfeld
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Donald Rumsfeld, o secretário
da Defesa dos EUA, tem uma nova batalha pela frente, e não é com
nenhum dos países que os EUA
consideram "o eixo do mal", como Irã ou Coréia do Norte.
Rumsfeld precisa agora convencer seus próprios militares de que
sua doutrina de ataque rápido
com forças terrestres leves, mas
pesadamente apoiadas pela aviação, foi a principal responsável
pela vitória militar no Iraque.
Está em jogo não só o futuro orçamento militar da maior potência do planeta, mas a estruturação
básica de suas Forças Armadas.
Por exemplo, em vez dos pesadões tanques M-1 Abrams de 60
toneladas cada, a ponta-de-lança
do Exército dos EUA poderá ser
constituída por veículos de apenas 20 toneladas, mas mais bem
providos de tecnologias de aquisição de alvo, comunicação e controle de tiro e capazes de deslocamento por avião.
Em vez de laboriosamente reunir forças durante semanas, lentamente esperando equipamento
vindo por mar, tropas muito mais
ágeis seriam despachadas de
aviões de transporte ou de navios
anfíbios já em patrulha em áreas
sensíveis.
O sucesso dos fuzileiros navais,
uma tropa fundamentalmente
"leve", é um ponto a favor da doutrina Rumsfeld. Mas mesmo os
marines foram apoiados por tanques e artilharia pesada. E quem
suportou o maior peso dos combates foi a "pesadona" e tradicional 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada com seus 250 M-1 Abrams.
Foram gastos US$ 3 bilhões em
munição contra o Iraque -de balas de fuzil e granadas de mão a
obuses calibre 155 mm e mísseis.
O Pentágono planeja substituir
esse arsenal aos poucos, de preferência comprando munição de
projeto mais moderno.
A pergunta que começa a ser
feita é simples: até que ponto o
Iraque foi um bom teste da doutrina? As Forças Armadas iraquianas se derreteram por causa
da forma como foi feito o ataque,
ou o colapso aconteceria de qualquer jeito? Várias comissões no
Pentágono já foram criadas para
estudar as "lições" desta guerra.
Um "falcão" aliado de Rumsfeld, o vice-presidente Dick Cheney, afirmou que a vitória foi uma
"prova positiva do sucesso de
nossos esforços em transformar
nossos militares".
Para Cheney, com menos da
metade das tropas terrestres empregadas em 1991 para expulsar
os iraquianos do Kuait, e com
dois terços do poderio aéreo, "um
objetivo muito mais difícil foi obtido".
Sem dúvida que tomar o Iraque
é um objetivo teoricamente mais
difícil que meramente limpar o
Kuait dos invasores. Mas, em
1991, o Exército do Iraque ainda
tinha 1 milhão de homens e cerca
de 5.000 tanques, contra 350 mil
homens e 2.000 tanques agora.
Prever o resultado de uma guerra, ou mesmo prever qual guerra
poderá acontecer um dia, não é
nem de longe uma ciência exata.
O próprio Rumsfeld elencou
certa vez alguns eventos seminais
do século 20 que chegaram de
surpresa e não foram previstos
pelos estadistas em suas épocas: a
crise econômica de 1929, a ascensão do nazismo e do fascismo na
Europa, a Guerra da Coréia, a
queda do xá do Irã e o espetacular
fim do comunismo no Leste Europeu.
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