São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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GUERRA SEM LIMITES

"América, você perdeu, eu venci", diz Moussaoui após o anúncio; papel dele nos atentados não ficou claro

Júri poupa a vida do único condenado do 11/9

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O único condenado até agora pelos ataques terroristas de 11 de Setembro teve sua vida poupada por decisão do júri. O cidadão francês de origem marroquina Zacarias Moussaoui, 37, deve passar o resto de seus dias numa prisão federal norte-americana por seu papel naquele dia, recomendaram os jurados, em decisão polêmica anunciada no final da tarde de ontem em Alexandria, cidade vizinha a Washington, no Estado da Virgínia.
A pena capital vinha sendo pedida pela Promotoria do caso e -em certos momentos de um julgamento caótico- até pelo próprio réu, que chegou a ter sua sanidade mental questionada tanto pela defesa quanto pela juíza. Alguns familiares das vítimas e lideranças conservadoras temiam, no entanto, que a morte patrocinada pelo Estado do suposto terrorista e suposto membro da Al Qaeda tivesse o efeito oposto e fizesse dele um mártir a ser reverenciado por facções terroristas islâmicas do mundo.
"América, você perdeu. Eu venci", disse Moussaoui, desafiante, ao deixar a corte. O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que a "luta contra o terror não termina neste caso" e que "o mal não vencerá".
O júri, composto de nove homens e três mulheres, chegou à decisão depois de 41 horas de deliberações divididas em sete dias. As opções eram morte por injeção letal ou prisão perpétua sem direito a liberdade condicional. A sentença formal será lida pela juíza Leonie Brinkema hoje, às 11h de Brasília.
Para os jurados, ao mentir sobre o que sabia ao ser preso, em 16 de agosto de 2001, o réu permitiu que fossem cometidos os atentados, o que fez dele cúmplice dos 19 terroristas que seqüestraram os aviões. Seu papel no ataque, porém, não é claro e pode ter sido aumentado pelo próprio condenado, em busca de notoriedade e reconhecimento entre radicais islâmicos.

"Quinta aeronave"
Embora estivesse preso no dia 11 de setembro de 2001, Moussaoui se declarou culpado de "conspiração terrorista" no ano passado.
Disse que sabia dos planos daquele dia e que seu papel era fazer o mesmo com uma suposta quinta aeronave, que atingiria a Casa Branca. Dizendo-se membro da Al Qaeda, afirmou que se matriculara em uma escola de aviação com esse objetivo.
Para isso, contaria com a ajuda do britânico Richard Reid, conhecido como o "homem do sapato-bomba", detido durante um vôo e atualmente cumprindo prisão perpétua nos Estados Unidos -Reid nega que o francês tivesse qualquer função naquele dia. Moussaoui foi preso no Estado de Minnesota, acusado de violações das leis migratórias.
A defesa se concentrou em desqualificá-lo mentalmente via depoimento de especialistas em psiquiatria legal.
Ele sofreria de paranóia, esquizofrenia, euforia e ilusões de grandeza, segundo seus advogados, aliás substituídos diversas vezes a pedido do réu.
Descrito por amigos da França e do Reino Unido, onde estudou nos anos 90, como uma pessoa "normal" que teria se encantado pelo discurso de radicais islâmicos, Moussaoui tinha um pai violento que também sofria de problemas mentais.
Nos últimos dois meses, enquanto observava as testemunhas e evidências arroladas pela promotoria, o francês se mostrava impassível na maior parte do tempo e arrogante quando se manifestava. Depois de ouvir depoimentos de 30 pessoas que perderam membros da família naquele dia, escutar gravações de recados deixados por algumas das quase 3.000 vítimas e participar da primeira exibição pública do que restou da gravação da cabine de comando do vôo 93, que acabou no solo da Pensilvânia, Moussaoui foi indagado se ajudaria de novo em um plano que levasse a um ataque semelhante.
"A qualquer hora, em qualquer lugar", respondeu.


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