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GUERRA SEM LIMITES
"América, você perdeu, eu venci", diz Moussaoui após o anúncio; papel dele nos atentados não ficou claro
Júri poupa a vida do único condenado do 11/9
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O único condenado até agora
pelos ataques terroristas de 11 de
Setembro teve sua vida poupada
por decisão do júri. O cidadão
francês de origem marroquina
Zacarias Moussaoui, 37, deve passar o resto de seus dias numa prisão federal norte-americana por
seu papel naquele dia, recomendaram os jurados, em decisão polêmica anunciada no final da tarde de ontem em Alexandria, cidade vizinha a Washington, no Estado da Virgínia.
A pena capital vinha sendo pedida pela Promotoria do caso e
-em certos momentos de um
julgamento caótico- até pelo
próprio réu, que chegou a ter sua
sanidade mental questionada tanto pela defesa quanto pela juíza.
Alguns familiares das vítimas e lideranças conservadoras temiam,
no entanto, que a morte patrocinada pelo Estado do suposto terrorista e suposto membro da Al
Qaeda tivesse o efeito oposto e fizesse dele um mártir a ser reverenciado por facções terroristas
islâmicas do mundo.
"América, você perdeu. Eu venci", disse Moussaoui, desafiante,
ao deixar a corte. O presidente
dos EUA, George W. Bush, disse
que a "luta contra o terror não termina neste caso" e que "o mal não
vencerá".
O júri, composto de nove homens e três mulheres, chegou à
decisão depois de 41 horas de deliberações divididas em sete dias.
As opções eram morte por injeção
letal ou prisão perpétua sem direito a liberdade condicional. A sentença formal será lida pela juíza
Leonie Brinkema hoje, às 11h de
Brasília.
Para os jurados, ao mentir sobre
o que sabia ao ser preso, em 16 de
agosto de 2001, o réu permitiu que
fossem cometidos os atentados, o
que fez dele cúmplice dos 19 terroristas que seqüestraram os
aviões. Seu papel no ataque, porém, não é claro e pode ter sido
aumentado pelo próprio condenado, em busca de notoriedade e
reconhecimento entre radicais islâmicos.
"Quinta aeronave"
Embora estivesse preso no dia
11 de setembro de 2001, Moussaoui se declarou culpado de
"conspiração terrorista" no ano
passado.
Disse que sabia dos planos daquele dia e que seu papel era fazer
o mesmo com uma suposta quinta aeronave, que atingiria a Casa
Branca. Dizendo-se membro da
Al Qaeda, afirmou que se matriculara em uma escola de aviação
com esse objetivo.
Para isso, contaria com a ajuda
do britânico Richard Reid, conhecido como o "homem do sapato-bomba", detido durante um vôo e
atualmente cumprindo prisão
perpétua nos Estados Unidos
-Reid nega que o francês tivesse
qualquer função naquele dia.
Moussaoui foi preso no Estado de
Minnesota, acusado de violações
das leis migratórias.
A defesa se concentrou em desqualificá-lo mentalmente via depoimento de especialistas em psiquiatria legal.
Ele sofreria de paranóia, esquizofrenia, euforia e ilusões de grandeza, segundo seus advogados,
aliás substituídos diversas vezes a
pedido do réu.
Descrito por amigos da França e
do Reino Unido, onde estudou
nos anos 90, como uma pessoa
"normal" que teria se encantado
pelo discurso de radicais islâmicos, Moussaoui tinha um pai violento que também sofria de problemas mentais.
Nos últimos dois meses, enquanto observava as testemunhas
e evidências arroladas pela promotoria, o francês se mostrava
impassível na maior parte do
tempo e arrogante quando se manifestava. Depois de ouvir depoimentos de 30 pessoas que perderam membros da família naquele
dia, escutar gravações de recados
deixados por algumas das quase
3.000 vítimas e participar da primeira exibição pública do que
restou da gravação da cabine de
comando do vôo 93, que acabou
no solo da Pensilvânia, Moussaoui foi indagado se ajudaria de
novo em um plano que levasse a
um ataque semelhante.
"A qualquer hora, em qualquer
lugar", respondeu.
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