|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
memória
Luta política atropelou negociação
DA REDAÇÃO
Demanda de mais meio
século do leste boliviano,
as autonomias departamentais entraram de vez
na agenda política do país
em 2005, após a queda do
governo Carlos Mesa
(2003-2005).
As forças políticas da
Bolívia -polarizadas entre o "oriente", liderado
por Santa Cruz, e o "ocidente", o altiplano com
grande população indígena-, teceram acordo para
levar ao poder o presidente da Corte Suprema,
Eduardo Rodríguez.
Fazia parte do acerto
que o novo governo deveria encampar as demandas
do altiplano. A principal
era convocar uma Assembléia Constituinte.
Em contrapartida, os líderes de Santa Cruz exigiram que se aprovasse uma
consulta sobre autonomia
para os departamentos -à
diferença do Brasil, a Bolívia não é uma federação
com autonomia relativa
dos Estados. Também pediram eleição direta para
os governadores, até então
nomeados por La Paz.
Em dezembro de 2005,
foram eleitos o presidente
esquerdista Evo Morales e
os nove governadores
-seis oposicionistas. Em
articulação com os comitês cívicos (a elite econômica dos departamentos),
esses governadores se tornaram o braço mais forte
da oposição a Morales.
No ano seguinte, houve
a votação da Assembléia
Constituinte e, com ela,
um referendo nacional sobre as autonomias.
Foi aí que, para muitos
analistas, o governo de
Morales cometeu seu
maior erro político: fez
campanha contra as autonomias, ecoando um sentimento do altiplano segundo o qual os departamentos ricos, produtores
de gás e celeiro do país,
queriam liberdade administrativa para reter as riquezas que produziam.
O resultado do referendo consolidou a divisão do
país. O "sim" às autonomias ganhou em Santa
Cruz, Pando, Tarija e Beni.
O "não" venceu nos demais departamentos e no
voto nacional. Já os governistas ganharam a maioria
na Assembléia Constituinte, mas não os dois terços
necessários para passar o
texto sem negociar.
As manobras governistas para aprovar a Carta
por maioria simples, aliadas aos movimentos da
oposição para travar as
discussões, levaram o país
à dramática sessão para a
primeira aprovação do
texto (que ainda irá a referendo) num quartel de Sucre, em novembro.
Os governistas insistem
em que o projeto contempla a autonomia departamental. Os oposicionistas
discordam porque ele
também inclui autonomias regionais (subdepartamentais) e indígenas.
Além disso, resistem à fixação de limite para o tamanho das propriedades
rurais. Sua estratégia de
combate foi fazer novas
consultas sobre autonomia, sem lastro legal.
(FLÁVIA MARREIRO)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Elite reage à perda do poder nacional, diz ministro Índice
|