São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2010

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Iraniano desafia EUA em reunião nuclear

Em encontro sobre TNP, Ahmadinejad pede punição a Washington por ameaça de usar bomba contra países que não cumprem tratado

Hillary diz que "acusações gastas" de Teerã não são surpresa; Amorim prefere destacar "parte boa" de discurso de presidente do Irã

Richard Drew/Associated Press
Plenário da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, durante discurso do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, no início de conferência de revisão do TNP

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, aproveitou a conferência de revisão do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), na sede da ONU em Nova York, para defender o programa atômico de seu país e pedir punição aos países que ameaçam usar a bomba -referência aos EUA.
Washington vem impulsionando no Conselho de Segurança das Nações Unidas a imposição de uma nova rodada de sanções contra Teerã, cujo programa nuclear é suspeito de ter como objetivo a obtenção da bomba. O Irã nega.
Ontem, Ahmadinejad insistiu que seu programa tem fins apenas pacíficos. Ele afirmou que o Irã não vê a bomba como "fonte de honra e dignidade" e disse considerar "qualquer ameaça do uso de armas nucleares ou ataque contra instalações nucleares pacíficas uma quebra da paz e da segurança internacionais".
O iraniano sugeriu que os signatários do TNP -189, no total- encerrem a sua cooperação com o país "agressor e ameaçador".
Em abril, ao divulgar a revisão da sua política, os EUA afirmaram que não usarão armas nucleares contra países não nucleares, mas impuseram como condição que as nações respeitem o TNP e outros acordos.
Para Washington, Teerã desrespeita o tratado ao não se submeter a resolução da ONU que ordenou a suspensão de seu programa nuclear enquanto não se dissiparem as dúvidas sobre suas intenções. O Irã está, portanto, entre os países que os EUA poderiam atacar segundo sua doutrina.
Ahmadinejad subiu o tom ao dizer que Washington e seus aliados apoiam incondicionalmente Israel, apesar de o país ameaçar os vizinhos com terror e invasões e possuir um arsenal nuclear não declarado.
Nesse momento, algumas das delegações presentes deixaram o plenário, entre elas as dos EUA, do Reino Unido e da França. Aquelas que ficaram aplaudiram o pronunciamento do presidente iraniano.

Hillary e Amorim
O discurso do iraniano foi rebatido pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que usou o seu pronunciamento para dizer que o Irã "fará o que puder para desviar a atenção de sua própria história e tentar evitar prestar contas".
"Ouvimos as mesmas acusações gastas, falhas e às vezes bárbaras contra os EUA e outros países. Isso não é surpresa", afirmou Hillary. "Seremos julgados pelas nossas ações."
O Brasil foi representado na abertura da conferência, que vai até o fim deste mês, pelo chanceler Celso Amorim.
Em seu pronunciamento, ele classificou o TNP de "injusto" e voltou a defender o desarmamento das potências nucleares.
Amorim evitou comentar o discurso do presidente iraniano. "O [presidente] Ahmadinejad fala por ele, eu falo por mim. Não quero entrar nessa coisa de impressões [sobre o discurso]. Prefiro pegar a parte boa, não vou entrar na retórica", afirmou o ministro.
A parte boa, para o brasileiro, foi o início da fala do iraniano, quando ele disse que já aceitou acordo para a troca de seu urânio pouco enriquecido por urânio enriquecido no exterior a nível suficiente para uso médico, mas não para fins militares.
"[O secretário-geral da ONU] Ban Ki-moon diz que a bola está na nossa quadra. Para nós, é um acordo aceito. Devolvemos a bola para a quadra daqueles que devem aceitar a nossa proposta", disse Ahmadinejad.
Na prática, porém, as exigências do Irã -de que a troca seja feita em solo iraniano e de que seja o Irã a definir a quantia de urânio envolvida na operação- inviabilizam o acordo, que visa assegurar que Teerã não tenha estoque suficiente do combustível para produzir a bomba.


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