São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2001

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TESE

Pesquisador diz que Walter Benjamin não se matou, mas foi morto a mando de Stálin

Morte de Benjamin tem nova teoria

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Meio século depois de sua morte, o corpo do filósofo judeu-alemão Walter Benjamin (1892-1940) continua causando polêmica. De acordo com o estudioso Stephen Schwartz, o ensaísta da primeira geração da Escola de Frankfurt foi assassinado a mando do ditador russo Joseph Stálin e não se suicidou, a versão oficial.
A tese foi publicada há alguns dias por Schwartz no semanário político conservador "The Weekly Standard", baseado em Washington, e desde então tem agitado o ambiente acadêmico.
Segundo o que se sabia até agora, na noite de 26 de setembro de 1940, num pequeno hotel de Portbou, na costa da Catalunha, o autor de "A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica" suicidou-se tomando uma overdose de morfina.
Decidiu se matar depois de fugir dos nazistas na França, cruzar os Pirineus e ter sua permanência proibida na Espanha. Ele foi encontrado por Henny Gurland, uma das quatro mulheres que o acompanhavam nessa viagem que possivelmente terminaria nos EUA.
De acordo com Stephen Schwartz, estudioso da relação entre o comunismo e a intelectualidade nos anos 30, parte dessa história é mentira. A fuga aconteceu e Gurland foi mesmo a primeira a encontrar Walter Benjamin morto, mas ele teria sido assassinado pela polícia secreta soviética a mando de Stálin.
Entre as evidências que apresenta, está a autópsia oficial, que determina como causa da morte de Benjamin "hemorragia cerebral" e afirma que não foram encontradas drogas em seu sangue nem em seu aparelho digestivo.
Ainda, Schwartz diz que a única fonte a ter declarado o suicídio foi a própria Henny Gurland, militante de extrema esquerda que teve comportamento suspeito no caso e cujo marido, Arkadi, seria ele próprio um espião soviético.
Primeiro, Henny disse ter destruído as duas notas de suicídio que teriam sido escritas por Benjamin e entregues a ela, uma sem destinatário e outra para seu amigo, o filósofo Theodor Adorno. Depois, resumiu as duas numa nota escrita em francês por ela.
Além disso, há o caso do manuscrito desaparecido. De acordo com relatos da época, o filósofo carregava o tempo todo consigo durante a fuga uma pesada mala que conteria os originais de um livro inédito, "o mais importante para mim", segundo declarou. O texto nunca foi encontrado.
Walter Benjamin não era estranho ao comunismo, apesar de nunca ter pertencido oficialmente ao partido. Esteve em Moscou pelo menos uma vez e era amigo íntimo do dramaturgo Bertolt Brecht e de Adorno, ambos apoiadores em graus diferentes do regime de Joseph Stálin.
O filósofo passou a atacar Stálin à época do pacto entre a então União Soviética e a Alemanha de Hitler e a conviver com alguns dos mais famosos ex-simpatizantes ou opositores do russo, como o intelectual Arthur Koestler.
"Em suma, Benjamin não vivia num ambiente seguro", disse o estudioso Stephen Schwartz ao jornal "The New York Times". "Participava de um submundo povoado por pessoas perigosas."
"Nenhuma das novas evidências contradiz a teoria do suicídio", disse o alemão Momme Brodersen, autor da prestigiada "Walter Benjamin: A Biography".


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