São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010
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ENTREVISTA MAURICIO FUNES Forças de segurança foram superadas pela delinquência
CLÓVIS ROSSI COLUNISTA DA FOLHA Quando o presidente da República, sendo de um partido que enfrentou o Exército durante uma autêntica guerra civil, chama o Exército para outra guerra, esta do Estado contra o crime organizado, é porque a situação está próxima de sair do controle. É o que está acontecendo em El Salvador: o presidente Mauricio Funes, eleito pela Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, grupo guerrilheiro nos anos 80, acaba de colocar quase 40% dos efetivos das Forças Armadas para ajudar a polícia. Seu argumento, em entrevista exclusiva à Folha, por e-mail: "Há anos, nossas forças de segurança foram ultrapassadas pela delinquência e pelo crime organizado". Funes admite que a debilidade institucional de seu país -avaliação que vale para toda a América Central e outros países latino-americanos- "apresenta o risco de contaminação da maior parte das instituições do Estado, incluindo a polícia, o Ministério Público e o Judiciário". Apesar de recente, a entrada do Exército na luta contra o crime merece avaliação positiva: "Permitiu maior eficácia no controle territorial, dada a disputa entre o Estado e o crime organizado, sobretudo as quadrilhas e os cartéis da droga, que mantêm uma presença quase permanente em algumas zonas do país". ![]() Folha - El Salvador, como o México, está utilizando forças militares contra o crime organizado. Quais são as razões para uma ação que costuma ser muito polêmica, mais ainda em se tratando de um governo de esquerda? Mauricio Funes - A decisão de envolver o Exército em tarefas de segurança pública nada tem a ver com a ideologia do governo que a implementa. Não é um assunto de esquerda ou direita. O receio que tradicionalmente tiveram governos de esquerda está vinculado ao passado das Forças Armadas, quando usadas como parte do aparelho repressivo do Estado. Essa é uma realidade superada pelos acordos de paz de 1992. Desde então, o Exército se converteu em um corpo profissional, subordinado à autoridade civil. Em nosso caso, a própria Constituição, reformada em virtude desses acordos, confere à Força Armada as funções de defesa nacional e resguardo da soberania. Mas, sob condições excepcionais e por um tempo determinado, o Exército pode ser utilizado em tarefas de segurança pública, desde que a polícia tenha esgotado sua capacidade institucional para enfrentar a delinquência. Há anos, nossas forças de segurança foram ultrapassadas pela delinquência comum e pelo crime organizado. Este governo, que assumiu faz pouco mais de um ano, herdou uma polícia com orçamento pequeno, equipamento escasso e infiltrada pelo crime organizado em algumas áreas e comandos. O Exército não foi chamado para assumir tarefas de segurança pública em substituição à polícia. Seu trabalho complementa o que desenvolvem as forças policiais. Não militarizamos o país. A decisão do governo é a de empregar quase 40% dos efetivos militares em apoio à Polícia Nacional Civil.
O assassinato do candidato
do PRI ao governo do Estado
mexicano de Tamaulipas gerou a sensação de que o tráfico desafia a democracia diretamente. Como o problema
de segurança na América
Central é tão grave como o do
México, o governo salvadorenho também teme uma eventual desestabilização?
Há algum tipo de coordenação entre os países centro-americanos em segurança? É
possível enfrentar as "maras"
sem essa coordenação?
Já há resultados da ação das
Forças Armadas na área de
segurança pública? |
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