São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

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Após início polêmico, viagem termina em sucesso

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

A viagem do presidente Bill Clinton, que começara em meio a grande controvérsia, acabou como um sucesso para ele, pelo menos em termos de política interna.
Mesmo os mais ferinos críticos do presidente norte-americano reconhecem que ele foi habilidoso, mas firme na defesa dos direitos humanos em discursos na China.
Líderes da oposição, que tinham esperança de explorar na campanha eleitoral de novembro (quando se renovam um terço do Senado e toda a Câmara federal) eventuais gafes de Clinton, admitem que o tema não vai ajudá-los.
No que se refere a resultados concretos, como se previa, a excursão foi improdutiva. Nenhum grande acordo, nem na área comercial nem no setor nuclear, foi fechado por Clinton na China.
Mas isso não parece ter incomodado muito os principais atores da política norte-americana. O que mais interessava a todos era como Clinton se comportaria em relação ao tema do respeito aos direitos humanos.
Graças, em parte, à boa vontade do governo chinês, o presidente pode voltar para casa com relevantes resultados para mostrar.
O fato de sua entrevista coletiva ter sido mostrada ao vivo e sem censura para a população chinesa (ainda que sem anúncio prévio e em horário de trabalho) foi um ponto importante para Clinton.
"Eu acho que o presidente fez um excelente trabalho ao falar para a TV e para a rádio chinesa", disse o mais importante líder da oposição, o presidente da Câmara, Newt Gingrich, que havia solicitado formalmente que Clinton não participasse da cerimônia oficial de recepção em Pequim, na praça Tiananmen (Paz Celestial), cenário da sangrenta repressão a manifestações estudantis pró-democracia, em 1989.
As denúncias de que o governo chinês tentou influenciar, com contribuições financeiras para o Partido Democrata (de Clinton), a campanha eleitoral de 1996 não chegaram a merecer muito destaque na viagem. Os líderes chineses negaram as acusações. Clinton disse que acredita neles. Por enquanto, o tema foi arquivado.
Clinton também melhorou sua imagem pessoal junto ao público norte-americano com a viagem à China. Ele apareceu com destaque na TV todas as noites sem ser importunado com questões sobre as investigações do promotor independente Kenneth Starr.
Ele pareceu descontraído e alegre, ao lado da mulher e da filha, nos trechos turísticos da programação e firme e decidido nas cerimônias públicas de Estado.
Na última entrevista coletiva que Clinton deu em solo chinês, um jornalista norte-americano lhe perguntou se ele se arrependia das críticas duras que fizera ao então presidente George Bush na campanha de 1992 pelo que dizia ser uma política fraca com a China.
"Na Casa Branca (sede do governo norte-americano), a gente passa a ter uma perspectiva diferente das coisas", disse Clinton, sem se desculpar pelo passado.



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