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EPIDEMIA
Promiscuidade é um dos principais motivos para a rápida disseminação da doença na ilha dinamarquesa
Aids ameaça esquimós da Groenlândia
KATHERINE BUTLER
do "The Independent", em Nuuk
Os esquimós enfrentam hoje a
maior ameaça à sua sobrevivência
desde que missionários dinamarqueses levaram a varíola à Groenlândia, em 1733.
Os médicos temem que o país esteja prestes a mergulhar numa epidemia de Aids. Os doentes se reúnem quase todos os dias, pela manhã, na escadaria de madeira ao
lado do supermercado Brugsen.
De início, são dois ou três, depois outros aparecem, aparentemente vindos do nada, carregando sacos de plástico cheios de garrafas de cerveja para ajudá-los a
suportar mais um dia nas ruas da
capital da ilha, Nuuk.
De vez em quando, descem até o
porto de Nuuk para mudar de
ares. Os que estão em pior situação
se dirigem ao novo centro de tratamento de Aids montado no hospital geral da cidade.
Todos em Nuuk chamam o hospital Rainha Ingrid de sanatório
-resquícios da época em que a
tuberculose era a doença que mais
matava na Groenlândia.
As novas descobertas, resultantes de quatro anos de pesquisa
com a doença na Groenlândia, são
"alarmantes", segundo Morten
Winthereik, médico dinamarquês
do Rainha Ingrid.
Ele está convencido de que o perigo de uma epidemia de Aids em
grande escala no país é grande e
está pedindo pesquisas urgentes
sobre a nova linhagem do vírus
encontrada na Groenlândia.
Já há mais de 80 casos confirmados entre a população inuit (esquimó), que chega a apenas 50 mil
habitantes. Acredita-se que haja
muitos outros que não chegaram a
ser registrados porque as vítimas
abandonaram suas comunidades
pequenas e fechadas, optando pelo anonimato na Dinamarca.
O padrão de contaminação difere daquele da Europa, onde os índices estão estagnando ou começando a cair. Segundo Winthereik,
"considerando-se o tamanho da
população e o índice de aumento,
os números são alarmantes".
Winthereik começou a estudar o
assunto em 1994, quando médicos
de Sisimiut (320 km ao norte de
Nuuk) observaram um aumento
estrondoso no número de casos.
Em 1993, havia apenas dois casos
conhecidos de contaminação por
HIV na Groenlândia. No ano seguinte, havia sete. Em 1995, 14.
A cada ano o número de novos
casos aumenta, principalmente
em Sisimiut e na capital. As comparações indicam que a Aids está
aumentando três vezes mais rapidamente na Groenlândia do que
na Europa. O tempo entre a contaminação e a manifestação da
doença na região é muito menor
-às vezes de apenas seis meses.
Promiscuidade
O que mais preocupa a comunidade médica na Groenlândia é a
disseminação do HIV numa população cujo comportamento sexual é cientificamente descrito como promíscuo.
Embora a maioria dos casos conhecidos de Aids se restrinja às
pessoas que vivem nas ruas, grupo
formado por alcoólatras, desempregados e sem-teto na faixa etária
dos 40 aos 50 anos, teme-se que
um número grande de jovens
groenlandeses, para quem o sexo
descompromissado é seu modo de
vida habitual, possa morrer se a
doença se espalhar.
Winthereik descreve o comportamento sexual na capital como
sendo "de alto risco". Os sábados
à noite em Nuuk são quase uma
atração turística, devido à intensidade da vida noturna e ao amplo
consumo de álcool. "Todo mundo bebe, não há lugar aonde ir, então o jeito é fazer festa", diz Inga
Kasser, da rádio local KNR.
Tradução de Clara Allain
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