São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAXEMIRA
Pela primeira vez, governo de Nova Déli dialoga com principal grupo islâmico da região, que adota cessar-fogo
Índia e separatistas iniciam negociações

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo da Índia e o principal grupo separatista muçulmano da Caxemira, o Hizbul Mujahideen, iniciaram ontem negociações de paz. As duas partes anunciaram um cessar-fogo.
Essa é a primeira vez que Nova Déli dialoga com os rebeldes desde o início de sua insurgência, em 1989, na região de população majoritariamente muçulmana.
O encontro, realizado na cidade de Srinagar, ocorreu menos de 48 horas depois de uma ofensiva guerrilheira ter deixado pelo menos 90 mortos no Estado indiano de Jammu e Caxemira.
Segundo a Índia, os atentados foram promovidos por grupos islâmicos -apoiados pelo Paquistão- contrários à decisão do Hizbul Mujahideen de negociar.
O premiê indiano, Atal Behari Vajpayee, que foi à Caxemira prestar condolências a familiares de vítimas da ação terrorista, fez um chamado para que todos os grupos armados da região participem do processo de paz.
"Eu convido todos eles para conversar. Armas não vão ajudar. Estendemos nossa mão, e eles devem segurá-la", declarou.
Apesar do início do diálogo com o principal grupo rebelde, continuam os combates entre o Exército indiano e militantes de outras organizações. Pelo menos 11 pessoas morreram (entre eles dez separatistas) ontem.
Em Srinagar, os negociadores indianos conversaram durante 70 minutos com quatro comandantes guerrilheiros, dois dos quais chegaram ao local da reunião usando máscaras.
As partes concordaram em estabelecer duas comissões, de seis pessoas cada, que vão tentar elaborar um tratado de cessar-fogo.
Pouco antes do encontro, porém, o Hizbul Mujahideen ameaçou voltar à luta armada na próxima terça-feira se o governo indiano não aceitar a participação do Paquistão nas negociações de paz. Nova Déli rejeita essa proposta.
Índia e Paquistão têm disputas territoriais na Caxemira e já travaram guerras por causa de suas divergências nessa região (leia texto ao lado).
O governo paquistanês é acusado pela Índia de armar e treinar os grupos separatistas muçulmanos que atuam na porção indiana da Caxemira.
O premiê indiano acusou o país vizinho de ser o responsável pelos massacres cometidos esta semana. Segundo ele, os ataques foram organizados pelo grupo Lashkar-e-Taiba, baseado no Paquistão.
O líder paquistanês, general Pervez Musharraf, nega o envolvimento de seu país nos últimos atentados. Ele pediu à Índia que o diálogo em relação à Caxemira prossiga.
Em Nova Déli, a polícia teve de usar jatos d'água e gás lacrimogêneo para conter cerca de 500 ativistas do Conselho Mundial Hindu. Eles protestavam nas ruas contra os separatistas islâmicos.
Os manifestantes, que acusavam Islamabad pelas mortes que chocaram a Índia, foram impedidos de prosseguir em passeata rumo ao Alto Comissariado do Paquistão na capital indiana.
A Índia anunciou ontem ter matado quatro soldados do Paquistão próximo à linha que divide a Caxemira entre os dois países. A informação não foi confirmada pelo governo de Islamabad.
Um oficial do Exército disse que dois soldados paquistaneses foram baleados quando avançavam na direção de um posto militar indiano perto de Nowshehra.
"Nossas tropas perceberam alguma movimentação ao longo da Linha de Controle e viram um grupo de soldados paquistaneses avançando na direção de sua base. Na troca de tiros, dois soldados paquistaneses morreram. Seus corpos foram arrastados por seus companheiros em retirada", disse o militar indiano.
Segundo ele, outros dois soldados inimigos foram mortos na mesma região ao serem atingidos por disparos de artilharia.
Trocas de tiros e disparos de artilharia ocorrem com certa frequência ao longo dos 720 km da Linha de Controle, que separa a Índia do Paquistão na região da Caxemira.


Texto Anterior: Cigarros de chocolate levam ao fumo
Próximo Texto: Entenda a disputa pela Caxemira
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.