São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2001

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EUA

Empresário é acusado de fraude com ações que causou prejuízo de US$ 25 milhões na Bolsa e aponta perseguição política

PF prende americano suspeito de fraude

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal prendeu ontem em São Paulo um empresário americano acusado de envolvimento em uma fraude com ações que causou prejuízo de US$ 25 milhões a investidores da Bolsa de Valores de Nova York.
Peter Franklin Paul, 52, era procurado no país havia 16 dias, desde que o STF (Supremo Tribunal Federal) decretou sua prisão preventiva a pedido dos EUA.
O empresário foi detido em um hotel de luxo na região dos Jardins, zona oeste da capital. Com ele, estavam sua mulher e dois filhos. Paul usou nome falso ao se hospedar, segundo a PF.
O governo americano o acusa de ter inflado artificialmente o preço de ações de sua empresa do ramo de internet, por meio de empréstimos. Depois, teria faturado com a venda dos títulos a preço acima do compatível com o mercado. Em dezembro do ano passado, o golpe foi descoberto quando as ações estavam se desvalorizando e seus compradores contabilizavam os prejuízos.
Nessa época, Paul havia saído dos EUA com destino ao Brasil, onde permaneceu com visto de turista. Desde 96, dizem os advogados, ele tem negócios no país, na área de internet e informática, estimados em R$ 1 milhão.
O empresário disse ontem que está sendo perseguido politicamente nos EUA e, por isso, não quer retornar ao país.
Em junho deste ano, ele entrou com ação contra a ex-primeira-dama e atual senadora Hillary Clinton, alegando que ela não prestou contas dos US$ 2 milhões que recebeu dele durante a campanha ao Senado. "Fui induzido a contribuir, e, depois, negaram as contribuições. É tudo político."
Paul foi levado ontem à noite para a carceragem da Polícia Federal em São Paulo, de onde deve ser transferido para Brasília.
O STF irá decidir se aceita ou não o pedido de extradição feito pelo governo americano. "Vamos argumentar para que ele fique no Brasil para se defender das acusações, porque ele se sente mais seguro aqui", disse o advogado de Paul no Brasil, Francisco Hermano Pereira Lima, 55.
Sobre as acusações de fraude na Bolsa, o empresário afirmou que "o mínimo lucro que teria não valeria a pena com as ações [judiciais" que sofreria depois".
Para seus advogados, a queda nas ações das empresas de internet explica o prejuízo.
Não é a primeira vez que Paul tem problemas com a Justiça. No final dos anos 70, ele ficou três anos preso por ter jogado no mar uma carga de café para receber o dinheiro do seguro. Sua empresa de exportação, no caso, chegou a ter como sócio o governo cubano.
O empresário é conhecido das colunas sociais americanas. Representou artistas como Salvador Dali (1904-1989) e Andy Warhol (1928-1987). Em 99, ele se associou ao quadrinista Stan Lee, ex-Marvel Comics.
A senadora Hillary Clinton, logo que a ação de Paul veio a público, disse que não se lembrava de ter encontrado com o empresário alguma vez em sua vida. Afirmou que não comentaria as acusações porque a ONG de direita Judicial Watch estava por trás delas.
A partir do segundo ano e durante todo o resto do governo Clinton (1992-2000), o grupo abriu dezenas de ações contra o ex-presidente, a primeira-dama e membros de sua administração.
Procurados pela Folha ontem à tarde, tanto o escritório de Bill Clinton quanto o da senadora em Washington e Nova York não responderam às ligações.


Colaborou SÉRGIO DÁVILA, de Nova York


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