São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Nova geração de medicamentos nos EUA ataca ânsia de consumir drogas; vacinas devem chegar ao mercado nos próximos anos

Remédios mudam tratamento de viciados

DA REDAÇÃO

Uma nova geração de medicamentos está mudando as perspectivas no tratamento de dependentes químicos nos EUA. Remédios que aliviam a ânsia de consumir as drogas e vacinas para prevenir a dependência estão sendo testados -alguns até já estão disponíveis no mercado- como complemento aos programas tradicionais de reabilitação.
Na semana passada, o FDA (a agência americana de alimentos e medicamentos) aprovou o Campral -nome comercial para o acamprosato-, um medicamento para bloquear o "craving" ("fissura") pelo álcool. Em geral, esses remédios atuam nos receptores opióides cerebrais, diminuindo a ânsia pela droga, um dos componentes da dependência química.
Já as vacinas estimulam a produção de anticorpos, cuja molécula é maior que a da droga, o que acaba por impedir que a molécula da droga ultrapasse a barreira hematoencefálica (impede que a droga chegue ao cérebro), explica o psiquiatra Sergio Seibel, 59, presidente do Comitê Multidisciplinar de Estudos em Dependência do Álcool e outras Drogas, da Associação Paulista de Medicina. Assim, o usuário deixa gradativamente de sentir o "barato" proporcionado pela substância.
A vacina contra a cocaína é a promessa que está mais perto de ser realizada. Em fase experimental em universidades americanas, a vacina deve chegar ao mercado nos próximos anos. Vacinas contra a heroína, a nicotina e o ecstasy são bem mais incipientes, estão ainda em fase de estudos farmacológicos.
A nova geração de medicamentos não só dá esperança aos pacientes e a seus familiares como é uma "revolução" na visão sobre a dependência química. Para especialistas, os novos tratamentos possibilitarão que o problema seja visto -e tratado- como qualquer outra doença crônica.
Nos EUA, a utilização da buprenorfina -que pode ser comprada em farmácias- tem tirado os pacientes das clínicas de reabilitação e levado os adictos da heroína para os consultórios médicos, diminuindo o estigma de "viciados" e "junkies". A substância é uma alternativa à metadona, usada no tratamento para a dependência de opiáceos desde os anos 60.
Dos cerca de 10 milhões de americanos dependentes químicos, entre 180 mil e 200 mil são tratados com metadona. Só em Nova York são 36 mil pessoas. No ano passado, médicos norte-americanos prescreveram 80 mil receitas para a buprenorfina.
No Brasil, esses medicamentos estão disponíveis, mas o uso da heroína é bastante pequeno para a produção de dados. As substâncias que mais causam dependência entre os brasileiros são o álcool e o tabaco.
Apesar de as perspectivas serem positivas, "nenhuma substância é mágica", alerta Seibel. Os remédios, mesmo eficientes, são um suporte médico e devem fazer parte de uma "atitude". "Não se pode olhar a dependência apenas com um critério biológico", diz o psiquiatra, que ressalta a importância da psicoterapia e outras terapias mistas no processo.


Com o "New York Times"
Colaborou BERTA MARCHIORI, da Redação


Texto Anterior: Ataques matam sete iraquianos e 4 dos EUA
Próximo Texto: Panorâmica - Estranhos no paraíso: EUA ampliam rastreio de estrangeiros
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.