São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Embaixador britânico vê guerra civil no Iraque

Memorando confidencial diz que divisão do país é mais provável que democracia

Opinião é compartilhada por comandante das forças americanas no Oriente Médio; Rumsfeld diz ser contra retirada "prematura"

DA REDAÇÃO

O Iraque está mais próximo de uma guerra civil do que de se tornar uma democracia, concluiu o embaixador britânico William Patey em memorando confidencial enviado ao primeiro-ministro Tony Blair, que veio à tona ontem.
"A perspectiva de uma guerra civil de baixa intensidade e de uma divisão de fato do Iraque é mais provável neste estágio que uma transição de sucesso a uma democracia estável", afirmou. O Reino Unido fez parte da coalizão que participou da invasão do Iraque ao lado dos EUA, em 2003, e tem cerca de 7.000 soldados no país.
Segundo o embaixador, a situação não é incontrolável, mas será "confusa e difícil" pelos próximos dez anos. A opinião consta do relatório final de Patey, que está deixando o Iraque, e é compartilhada pelo comandante das forças americanas no Oriente Médio, general John Abizaid, que afirmou ao Senado dos EUA que haverá uma guerra civil caso a atual violência sectária não seja debelada.
Abizaid disse que a disputa em Bagdá está num estágio "decisivo". "Está claro que a situação operacional e tática em Bagdá chegou a um ponto que requer forças de segurança adicionais, tanto dos EUA quanto do Iraque." Na última semana, os EUA decidiram deslocar 3.700 soldados de Mosul, no norte do Iraque, para a capital, devido à gravidade da situação em Bagdá, tomada por milícias armadas xiitas e sunitas.
O general Peter Pace, chefe-de-gabinete adjunto, demonstrou a mesma preocupação de Abizaid, dizendo, porém, que entrar numa guerra civil ou evitá-la depende dos iraquianos. "Há a possibilidade de que a situação se desenvolva para uma guerra civil.". O pessimismo dos generais e do embaixador é condizente com declaração do secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, que se posicionou contra a retirada das tropas "prematuramente".
Nos EUA, é crescente a insatisfação com a presença no Iraque -há cerca de 130 mil soldados no país, e a escalada da violência pôs por terra a expectativa de um retorno próximo. No ano passado, o general George Casey, comandante das forças no Iraque, dissera esperar uma redução significativa do número de soldados neste ano.
O quadro descrito pelo embaixador britânico não fez Tony Blair mudar sua opinião sobre a guerra. Segundo ele, o relatório corrobora sua crença de que os países ocidentais têm papel fundamental na luta contra o extremismo. Ele foi recebido com fortes críticas na volta de sua visita aos EUA -onde foi discutir o conflito com o presidente George W. Bush-, por não ter exigido um cessar-fogo imediato no Líbano, na contra-mão de outros países.

Texto Anterior: Bush sofre pressão por fim de embargo à ilha
Próximo Texto: Argentina: Oposição usa TV para lançar a candidatura de Lavagna
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.