São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2007

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CPI francesa investigará acordo com Líbia

Com apoio de Sarkozy, Parlamento vai apurar se soltura de enfermeiras búlgaras envolveu venda de armas pela França

Governo francês nega que acordo sobre material bélico seja contrapartida para que Trípoli soltasse acusados de contaminar crianças líbias

DA REDAÇÃO

A Assembléia Nacional da França deve criar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar se um acordo de venda de armas e equipamentos de segurança para a Líbia está vinculado à libertação de cinco enfermeiras búlgaras e um médico palestino que estavam presos no país africano.
A criação da CPI, solicitada pelo presidente da Assembléia, Bernard Accoyer, atende a um pedido que a oposição socialista ao governo do presidente Nicolas Sarkozy já vinha fazendo desde que se descobriu o negócio da venda de material bélico, que inclui mísseis antitanque.
Tanto Accoyer, pertencente ao bloco majoritário do Parlamento, pró-Sarkozy, como o próprio presidente manifestaram seu apoio à iniciativa.
A pressão pelas investigações começou na quarta passada, quando Seif al Islam, filho do ditador líbio, Muammar Gaddafi, deu detalhes sobre a negociação para a soltura do grupo. Os seis estavam presos havia oito anos e foram condenados à morte, sob acusação de haverem contaminado mais de 426 crianças com o HIV -segundo especialistas, a infecção ocorreu devido à falta de higiene do hospital líbio.
Junto com a União Européia, a França intermediou as negociações para a libertação e, durante o processo, Sarkozy reativou um acordo nuclear de 2006 pelo qual Paris venderá a Trípoli reatores nucleares para a produção de eletricidade (veja quadro abaixo).
Entretanto, segundo disse Islam em entrevista ao jornal "Le Monde", o contrato de compra de material bélico foi incluído no acordo para a soltura dos búlgaros.
Ato contínuo, o governo francês desmentiu Islam.
Mas ontem admitiu a existência do contrato da venda das armas, embora negue que ele tenha sido parte do acordo de libertação dos médicos. Segundo o Ministério da Defesa da França, a venda já estava sendo discutida "havia meses". Falta apenas a assinatura da Líbia para o fechamento do negócio, que segundo fonte do país é de cerca de US$ 400 milhões.

Primeiro contrato
"Como podemos tolerar, numa democracia, que uma venda de armas seja anunciada pelo filho do Gaddafi?", protestou então François Hollande, secretário-geral do Partido Socialista francês. O ditador líbio era, até poucos anos, considerado um patrocinador do terrorismo e um pária no Ocidente.
Ontem o Ministério da Defesa declarou que a venda das armas foi autorizada em fevereiro, três meses antes de Sarkozy ser eleito, insistindo que não há relação entre o caso dos médicos e o contrato, a ser firmado entre as subsidiárias francesas da européia EADS e Trípoli.
O contrato é o primeiro para compra e venda de armas entre a Líbia e um país europeu desde 2004, quando a UE suspendeu sanções que vigoravam contra o país de Gaddafi desde 1990.
Trípoli começou a se reaproximar dos governos ocidentais em 2003, quando Gaddafi anunciou que abria mão de manter armas de destruição em massa.


Com agências internacionais


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