São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011

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Após calote, recessão é o novo fantasma

EUA escapam da moratória, mas cenário é sombrio; novos dados mostram a criação de empregos patinando

Serviços perdem fôlego, enquanto confiança da população na economia despenca; 78% acham que economia piorará


LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

O pacote fiscal anticalote foi assinado e entregue, mas o presidente Barack Obama não terá muito a festejar ao soprar as velas de seu 50º aniversário hoje: à sua frente, restará um cenário sombrio para a economia americana.
O convidado indesejado é o fantasma da recessão, que volta a rondar cidadãos, analistas e investidores em meio a dados negativos cada vez mais frequentes e o desânimo crescente da população.
"Não basta o Congresso evitar o desastre que evocou. Os legisladores devem voltar [do recesso] prontos para fortalecer a economia e levar mais americanos a trabalhar de novo", escreveu o secretário do Tesouro, Tim Geithner, no "Washington Post".
"Isso ajudaria a consertar o estrago feito em uma economia que já desacelerava."
Embora não haja sinais nítidos de recaída na recessão após a crise de 2008, há expectativa de piora: consumidor apático, demanda perdendo a força, desemprego persistente. Números divulgados ontem reforçaram os temores. A abertura de vagas no setor privado caiu a 114 mil em julho, de 145 mil, segundo a firma que processa as folhas de pagamento. Por sua vez, uma empresa de recolocação notou um salto de 60% nas demissões, para 66 mil.
Também perdeu fôlego o setor de serviços: o índice do Instituto de Gerenciamento de Suprimentos, que mede sua performance, foi de 53,3 a 52,7 em julho (abaixo de 50, o valor indica retração). As encomendas à indústria recuaram 1,9 ponto para 51,7.
"A economia americana ainda luta depois da crise de 2008, e sabemos que levam-se anos para se recuperar de algo assim", disse à Folha Jerome Powell, ex-subsecretário do Tesouro no governo de Bush pai e hoje no Centro de Políticas Bipartidárias.
Ele vê um começo no pacote para reduzir o deficit do país em US$ 2,1 trilhões até 2021.
A questão, como disse à Folha na sexta Frank Newport, do Gallup, "é que o americano médio está preocupado com demissões e falta de emprego". Rastreamento semanal do instituto mostrava ontem que 78% dos ouvidos esperam piora da economia.
Outro indício negativo é o mercado de títulos do Tesouro, onde a taxa de retorno para 10 anos oscila em 2,6% -antes da crise de 2008, pairava em 5%, recuo que indica aposta no resfriamento.
Há, por fim, um temor recorrente entre economistas ouvidos pela Folha nas últimas semanas: os novos cortes podem inibir mais os repasses do governo aos Estados e o crescimento, agravando o desemprego.
O setor público americano continua demitindo, e, embora o governo tenha deixado aberta a porta para novos estímulos, a realidade política hoje indica o contrário.
"O pacote terá enorme impacto nos Estados; os que abrigam quadros federais terão de lidar com a queda na arrecadação", observou Ron Haskins, expert em bem-estar social que serviu na Casa Branca e hoje está na Brookings Institution, em chat no site do centro de estudos.
"A redução dos gastos do governo federal acabará, provavelmente, afetando a economia como um todo."


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