São Paulo, Quarta-feira, 04 de Agosto de 1999
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TRAGÉDIA AMERICANA
Família de costureiro que registrou morte de Kennedy será indenizada por confisco de filme
EUA pagarão US$ 16 mi por filme de JFK

MARCIO AITH
de Washington

Uma arbitragem privada definiu ontem em US$ 16 milhões o valor do filme amador de 26 segundos que registrou, em novembro de 1963, o assassinato do presidente norte-americano John F. Kennedy na cidade de Dallas, no Texas (sul dos EUA).
O dinheiro será pago pelo governo dos EUA aos herdeiros de Abraham Zapruder, o costureiro que foi a Dallas ver de perto o presidente Kennedy desfilar em carro aberto e acabou registrando as imagens de uma das maiores tragédias norte-americanas.
O filme está guardado desde 1978 num cofre dos Arquivos Nacionais, em Washington. Ele só foi confiscado pelo Departamento de Justiça em agosto passado.
Os US$ 16 milhões serão pagos à família Zapruder como uma forma de compensação. O governo não pode recorrer.
O Departamento de Justiça havia concordado em indenizar os herdeiros de Zapruder, mas havia oferecido somente US$ 750 mil.
A família do costureiro, morto em 1970, queria US$ 18 milhões. Os herdeiros argumentam que, se pudessem vendê-lo a interessados, poderiam arrecadar preços compatíveis a lances oferecidos em leilões de quadros do pintor holandês Van Gogh ou do artista pop Andy Warhol.
Outras duas pessoas gravaram o assassinato do presidente Kennedy em câmeras amadoras, mas as imagens em oito milímetros captadas por Zapruder são as mais nítidas e completas.
Em outubro passado, governo e herdeiros concordaram em transferir o filme formalmente para o domínio público e em contratar três árbitros para definir o valor da compensação, que é garantida pela Constituição nos casos de confisco de bens privados.
A decisão, que foi tomada pelos árbitros por dois votos a um, deveria ter sido anunciada no dia 19 de julho passado, mas foi adiada por causa do acidente de avião que matou John Kennedy Jr.
A indenização de US$ 16 milhões está limitada ao valor do filme e do rolo de plástico no qual está enrolado. A família Zapruder irá manter os direitos autorais sobre seu uso, como faz desde 1963.
Um pedaço do filme foi usado pelo diretor de cinema Oliver Stone no filme "JFK", de 91. Em 98, a família Zapruder licenciou as imagens para uma distribuidora de vídeos (a "MPI Home Video"), que o lançou comercialmente.
A manutenção dos direitos autorais pela família Zapruder provocou polêmica e dúvidas.
Alguns dizem que, como o filme já está em poder do governo norte-americano, teria sido mais interessante deixar que a família Zapruder processasse o Estado na Justiça, no lugar de aceitar uma arbitragem.


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