São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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TRAGÉDIA NOS EUA

Sob críticas, presidente promete aumentar ação de resgate; 300 militares no Iraque e no Afeganistão voltarão

Bush desloca 7.200 soldados à área arrasada

Susan Walsh - 02.set.05/Associated Press
George W. Bush se encontra com Ray Nagin, prefeito de Nova Orleans que pediu antes que as autoridades "movessem seus traseiros"


DA REDAÇÃO

Em mais um ato de reação às críticas que tem recebido por causa do trabalho de ajuda às vítimas do furacão Katrina, o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou ontem que mais 7.200 soldados chegarão às regiões atingidas.
Outra decisão foi a autorização para que 300 soldados que estão no Iraque e no Afeganistão voltem para ajudar suas famílias no Mississippi. São tropas da ativa e da reserva da Força Aérea cuja base de origem fica em Biloxi, cidade devastada no litoral do Estado.
"A magnitude da tarefa requer mais recursos", justificou Bush. "Não abandonamos nossos cidadãos numa hora de necessidade."
Anteontem, o presidente já havia tirado o dia para vistoriar áreas atingidas e fazer declarações, num esforço para amenizar as críticas de que demorou em agir após a passagem do Katrina.
Bush disse que 4.000 homens de batalhões de prontidão para ações já estão nas áreas atingidas e que outros 7.000 chegarão em 72 horas. São soldados da divisão aerotransportada e da cavalaria do Exército e fuzileiros navais.
A decisão foi anunciada depois de um encontro com os secretários da Defesa, Donald Rumsfeld, e da Segurança Interna, Michael Chertoff. O presidente tem sido questionado sobre a capacidade do país de lidar com o Iraque e a tragédia no sudeste americano.
O documentarista Michael Moore, crítico contumaz de Bush, engrossou o coro contrário em carta aberta. "Querido senhor, você teria idéia de onde estão os nossos helicópteros?", escreveu.
O presidente, que já estava com a popularidade em baixa diante das mortes de soldados no Iraque, usou seu programa ao vivo de rádio nos sábados para o anúncio de ontem, o que não é comum.
Segundo um oficial dos EUA no Qatar, os soldados autorizados a deixar o Iraque e o Afeganistão já começaram a desmobilizar-se e estarão em casa "o quanto antes". Outros cem que haviam sido liberados da base aérea em Biloxi tiveram a dispensa cancelada.
Além da cidade no Mississippi, outra das mais devastadas e sob saques é Nova Orleans. Ontem de manhã, a transferência de desabrigados do Superdome foi suspensa. Com isso, até 5.000 pessoas ainda ficaram no estádio e podem recomeçar a deixá-lo só hoje.
A previsão inicial era que o Superdome, onde as condições para os desabrigados são precárias, estivesse vazio até o final do dia de ontem. Militares que trabalham na evacuação disseram só ter sido avisados de que haveria a interrupção na chegada dos veículos.
"Se os ônibus continuassem a chegar, teríamos este lugar vazio já", afirmou o capitão Jean Clark.
As pessoas que souberam que teriam de esperar mais para deixar o Superdome não se revoltaram e ouviram sentadas as notícias. Após tumultos e até tiros nos últimos dias, desde ontem a evacuação vinha sendo feita de forma ordenada. Tina Miller chorou ao deixar o estádio e caminhar descalça até um ônibus. "Não imaginava que faria isso. Oh, Deus, eu achava que morreria aqui."
No Superdome, há lixo acumulado, apesar do esforço de limpeza das pessoas. Os banheiros não têm luz. "Quando temos vontade de ir ao banheiro, o que temos é uma caixa", contou Sandra Jones.
Apesar dessas condições, a remoção foi suspensa momentaneamente anteontem para que 700 hóspedes e funcionários do hotel Hyatt, próximo do estádio mas com situação melhor, fossem tirados de Nova Orleans. "Como é isso? Eles estão limpos, secos e são levados antes de nós", protestou Howard Blue, 22, que tentou se infiltrar no grupo mas foi contido.
Também foi anunciado ontem na cidade o cancelamento do próximo semestre letivo na Universidade Tulane, de 6.000 alunos.
O furacão provocou ainda o adiamento da visita oficial que o presidente da China, Hi Jintao, faria aos EUA nesta semana.

Com agências internacionais

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