São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

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Cheney dá início a roteiro anti-Moscou

Vice-presidente americano chega ao Azerbaijão em viagem que inclui Geórgia e Ucrânia; Rice anuncia US$ 1 bilhão a Tbilisi

Visita a Baku busca promover rota alternativa para petróleo e gás do mar Cáspio; em Kiev, número 2 dos Estados Unidos encontrará convulsão política


DA REDAÇÃO

O vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, chegou ontem ao Azerbaijão, primeiro destino de uma visita de dois dias a ex-repúblicas soviéticas que inclui ainda Geórgia e Ucrânia. O tour, até agora o mais explícito desafio ao novo protagonismo russo na região, visa reforçar os laços com os governos pró-Ocidente, sobretudo Tbilisi, a quem Washington anunciou US$ 1 bilhão em ajuda para o pós-conflito com Moscou.
Em Baku, capital azerbaijana, Cheney não deixou dúvidas quanto às razões da visita. "Nos encontramos à sombra da recente invasão russa da Geórgia. Acreditamos que devemos trabalhar com o Azerbaijão em rotas alternativas para o livre fluxo dos recursos [energéticos]", disse. O país é chave para o escoamento do gás e do petróleo do mar Cáspio por rotas que evitem o território russo.
Antes de encontrar o presidente azerbaijano, Ilham Aliyev -que, apesar da proximidade com os EUA, preserva relações com a Rússia e o Irã- Cheney teve encontro com executivos das petroleiras British Petroleum e Chevron. Depois, ao lado de Aliyev, disse que "o presidente Bush tem grande interesse no bem-estar e na segurança dos países da região".
Hoje, Cheney deve encontrar, em Tbilisi, Mikhail Saakashvili, que no mês passado desencadeou o conflito com a Rússia ao tentar retomar à força o território separatista da Ossétia do Sul, na prática sob tutela de Moscou desde 1992. A reação russa culminou com o reconhecimento pelo Kremlin, há nove dias, da independência da Ossétia do Sul e da também autonomista Abkházia.
A visita do mais alto representante americano desde o início do conflito ocorre um dia após o anúncio, pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, de US$ 1 bilhão para a recuperação econômica e da infra-estrutura não militar georgiana -o equivalente a cerca de 10% do PIB de antes do conflito. "Ainda não é hora de olhar para questões de assistência militar", disse Rice.
Segundo a chanceler, apenas US$ 570 milhões do total serão repassados ainda neste ano. O restante ficará a cargo da próxima administração, que assume em janeiro. Também ontem, o Fundo Monetário Internacional anunciou um empréstimo de US$ 750 milhões a Tbilisi.

Crise na Ucrânia
Na sua terceira e última parada, a Ucrânia, também prevista para hoje, Cheney encontrará um governo fortemente pró-Ocidente, mas em séria crise. Desde ontem, a coalizão entre o presidente Viktor Yushchenko e a premiê Yulia Tymoshenko, formada na Revolução Laranja anti-Rússia, em 2004, ameaça rachar por divergências sobretudo acerca da política externa.
Yushchenko acusa o partido da premiê de unir forças à oposição para votar pela redução dos poderes presidenciais, de adotar postura pró-Moscou na questão da Geórgia e de bloquear medidas para o ingresso na União Européia e na Otan, a aliança militar ocidental. O presidente ameaça convocar eleições antecipadas. Tymoshenko diz que Yushchenko age com vistas às eleições de 2009.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, disse que Moscou seguirá "atentamente" as visitas de Cheney. Na Armênia, país pró-Rússia que enfrenta disputa territorial com o Azerbaijão, o presidente do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, disse que o único objetivo americano com o tour de Cheney é fornecer apoio em troca de gás e petróleo.

Com agências internacionais



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