São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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PAZ AMEAÇADA
Líderes reúnem-se hoje com Albright em Paris; cessar-fogo é quebrado e mais 3 palestinos são mortos
Barak e Arafat negociam fim de violência

Associated Press
Palestino suspende braço com sangue de homem morto no confronto com soldados em Gaza


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Pelo menos três palestinos foram mortos ontem em confronto com soldados israelenses perto da colônia judaica de Netzarim, na faixa de Gaza ocupada.
O cessar-fogo firmado na noite anterior durou só até a metade do dia, criando um clima de ceticismo quanto aos resultados das conversações hoje em Paris envolvendo o premiê israelense, Ehud Barak, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, e a secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright.
Ontem foi o sexto dia consecutivo de enfrentamentos em Israel e nos territórios palestinos. Segundo a agência de notícias "Reuters", pelo menos 55 pessoas já morreram -43 palestinos, 9 árabes de Israel, 1 policial israelense, 1 soldado israelense e 1 civil judeu. Cerca de 1.300 ficaram feridas, a grande maioria palestinos. A agência "France Presse" afirma que os mortos nos confrontos já chegam a 63.
Os soldados israelenses, apoiados por helicópteros de guerra, atacaram ontem centenas de palestinos que protestavam perto da colônia de Netzarim. Um dos corpos teve o rosto despedaçado e não pôde ser identificado. Houve distúrbios também nas cidades de Hebron, Nablus e Ramallah, na Cisjordânia.
A trégua havia sido estabelecida por autoridades palestinas e israelenses na noite de segunda-feira, e soldados israelenses chegaram a ser mandados de volta para suas bases. O acordo, contudo, não durou até o início da tarde de ontem.
"Houve menos incidentes hoje (ontem) do que no dia anterior (19 morreram anteontem), mas, em geral, as mesmas coisas estão ocorrendo nos mesmos lugares", disse Giora Eiland, comandante do Exército israelense.
Os choques começaram na quinta-feira passada, após visita de Ariel Sharon (líder do partido oposicionista Likud) à Esplanada das Mesquitas, local sagrado para muçulmanos e judeus, em Jerusalém Oriental.

Negociações
Barak reuniu-se ontem com deputados árabes do Knesset (Parlamento) para tentar acalmar os ânimos da minoria árabe israelense (cerca de 20% da população). Eles têm realizado protestos violentos, e o governo israelense bloqueou estradas perto de suas cidades, no norte do país.
Barak e Arafat deverão se encontrar hoje com Albright em Paris. Num primeiro momento, o convite para a reunião entre os dois líderes foi rechaçado por Arafat, e Albright havia decidido conversar com eles separadamente. Mas, depois, o encontro direto entre os dois foi confirmado.
"Somos receptivos a qualquer encontro, mas, ao mesmo tempo, é preciso que Israel decida encerrar as suas agressões contra o povo palestino", afirmou Iasser Abed Rabbo, ministro da Informação palestino.
Barak retrucou dizendo que "somente medidas e decisões marcantes" da parte de Arafat "podem acabar com a crise e o banho de sangue". Israel afirma que o palestino poderia controlar os manifestantes, mas não o faz para obter ganho nas negociações.
Na quinta-feira, deve ocorrer uma reunião dos dois líderes com o presidente egípcio, Hosni Mubarak, no Cairo.
Desde a fracassada cúpula de Camp David (EUA), realizada em julho, houve um encontro informal entre Arafat e Barak no norte de Israel. Nenhum progresso, porém, foi obtido nas negociações de paz, emperradas principalmente pela falta de consenso sobre o futuro de Jerusalém Oriental, ocupada por Israel após a guerra de 1967.

Investigação internacional
Os palestinos têm afirmado que uma investigação estrangeira sobre as mortes dos últimos dias poderia oferecer condições para a retomada das negociações.
"Acreditamos que os crimes israelenses cometidos contra o nosso povo feriram o coração do processo de paz", disse um assessor de Arafat.
Do escritório de Barak, porém, veio uma negativa. "O premiê rechaça totalmente o pedido de um inquérito internacional sobre os incidentes nos territórios."

Nações Unidas
O Conselho de Segurança da ONU decidiu iniciar ontem discussões formais sobre a série de incidentes violentos na região.


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