São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2001

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ENTREVISTA

Secretário Colin Powell diz que governo havia recebido "muitos sinais" de ataques terroristas

EUA tinham pistas dos atentados

JANE PERLEZ
DAVID E. SANGER


DO "THE NEW YORK TIMES"

O secretário de Estado Colin Powell declarou ontem que o governo Bush havia recebido "muitos sinais" de que terroristas estavam planejando ataques contra os EUA, mas que esforços intensos das agências de inteligência não conseguiram obter informação suficiente para deter os atentados do dia 11 de setembro.
No início do terceiro trimestre, "surgiram sinais de que algo estava por acontecer", disse Powell. "Mas jamais obtivemos informações fiéis ou alguma indicação do que estava por acontecer."
Em entrevista em seu escritório no Departamento da Defesa, Powell expressou frustração por, a despeito de meses de advertências, as informações não terem bastado para identificar os alvos golpeados. Embora tenha se mostrado otimista sobre o progresso da campanha mundial contra o terror, Powell deixou claro que o governo ainda estava no estágio inicial do processo de obter cooperação de outros países.
Powell insiste em que o governo está mostrando aos aliados e aos governos árabes moderados que há um caso convincente contra Osama bin Laden. Asseverou que todos os caminhos conduzem ao terrorista e sua rede, a Al Qaeda, ainda que tenha acautelado que não deveríamos pensar nessas evidências como um caso "que irá a julgamento em um tribunal".
Em lugar disso, funcionários do governo vêm informando os aliados quanto ao que ele chama de "boas provas", que estabelecem um vínculo entre os sequestradores dos aviões e Bin Laden.
"Trata-se de uma campanha multifacetada, com muitas peças trabalhando contra um inimigo comum", disse Powell. "O nome desse inimigo é terrorismo. E em sua mais ambiciosa manifestação, o inimigo se chama Al Qaeda, e o líder dessa terrível empreitada é Bin Laden, o responsável por essa tragédia contra a humanidade."
Powell descreveu em termos gerais o comunicado que enviou a embaixadas americanas em todo o mundo delineando o caso contra Bin Laden. Disse que o estudo descreve a história da rede terrorista e menciona os arquivos existentes de indiciamentos contra Bin Laden por seu suposto envolvimento nos atentados contra duas embaixadas americanas na África Oriental, em 1998. Também descreve evidências da responsabilidade de Bin Laden por "crimes passados contra os EUA e contra a civilização".
Embora o governo não tenha divulgado os documentos, como Powell sugeriu que talvez fizesse, ele declarou que "com o tempo emergirão informações suficientes" para convencer o povo dos EUA. "O caso jamais poderá ser descrito como circunstancial."
Powell mencionou o futuro do Afeganistão. A despeito de uma declaração de intenções do governo Bush na semana passada afirmando que o Taleban não representa o povo afegão, Powell não chegou a indicar que a derrubada desse governo é uma meta.
"Nosso objetivo, em primeira instância, é partir para o ataque contra a Al Qaeda e seu líder Bin Laden, bem como seus campos no Afeganistão", disse. "E o regime do Taleban terá um preço."
Tratando da possibilidade de que o Taleban talvez não sobreviva ao confronto iminente, o secretário Powell declarou que tinha esperança no surgimento de um novo governo que fosse "representativo" dos muitos grupos étnicos do Afeganistão.
"Espero que o povo afegão possa se ver sob a liderança de um governo que seja representativo de todas as pessoas do Afeganistão e que seja menos repressivo do que o agora existente." Ele mencionou a possibilidade de assistência econômica assim que o Taleban for eliminado. O governo Bush já reservou US$ 170 milhões em assistência humanitária.
Sobre seus planos recentemente revelados de declarar apoio do governo americano à criação de um Estado palestino, Powell disse que não decidiu ainda quando ou como delinear suas visões.
Depois de se manter afastada do conflito entre israelenses e palestinos pela maior parte do ano, a administração estava prestes a interferir quando dos ataques de 11 de setembro. Os atentados retardaram a sessão de abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova York, onde Bush planejava se reunir com o líder palestino Yasser Arafat. Powell pretendia discursar, delineando as idéias do governo americano para a solução do conflito. Ontem, o secretário sugeriu que o momento de retomada dessa iniciativa dependeria dos acontecimentos no Afeganistão.
Os alertas dos serviços de informações sobre ataques terroristas discutidos por Powell foram recebidos no segundo e terceiro trimestres, particularmente antes do feriado de 4 de julho e da conferência de cúpula dos países industrializados em Gênova, Itália, no mesmo mês. O secretário disse que o Departamento de Estado e as agências de inteligência estavam em alerta máximo contra o terrorismo e vinham tentando, por meio das embaixadas, desvendar os planos de Bin Laden.
"Houve diversos relatórios sobre os quais nos preocupamos mas nunca se cristalizaram."
Em junho e no começo de julho, agentes dos serviços de informações norte-americanos advertiram que Bin Laden e a Al Qaeda pareciam estar planejando ataques terroristas contra os interesses norte-americanos.
Em junho e julho, o Departamento de Estado divulgou relatórios advertindo que ataques eram iminentes em locais que iam do Oriente Médio ao Leste Asiático. O departamento advertiu sobre possíveis ataques contra instalações no Japão e na Coréia do Sul, bem como contra interesses americanos na península Arábica.


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