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ENTREVISTA
Secretário Colin Powell diz que governo havia recebido "muitos sinais" de ataques terroristas
EUA tinham pistas dos atentados
JANE PERLEZ
DAVID E. SANGER
DO "THE NEW YORK TIMES"
O secretário de Estado Colin Powell declarou ontem que o governo Bush havia recebido "muitos
sinais" de que terroristas estavam
planejando ataques contra os
EUA, mas que esforços intensos
das agências de inteligência não
conseguiram obter informação
suficiente para deter os atentados
do dia 11 de setembro.
No início do terceiro trimestre,
"surgiram sinais de que algo estava por acontecer", disse Powell.
"Mas jamais obtivemos informações fiéis ou alguma indicação do
que estava por acontecer."
Em entrevista em seu escritório
no Departamento da Defesa, Powell expressou frustração por, a
despeito de meses de advertências, as informações não terem
bastado para identificar os alvos
golpeados. Embora tenha se mostrado otimista sobre o progresso
da campanha mundial contra o
terror, Powell deixou claro que o
governo ainda estava no estágio
inicial do processo de obter cooperação de outros países.
Powell insiste em que o governo
está mostrando aos aliados e aos
governos árabes moderados que
há um caso convincente contra
Osama bin Laden. Asseverou que
todos os caminhos conduzem ao
terrorista e sua rede, a Al Qaeda,
ainda que tenha acautelado que
não deveríamos pensar nessas
evidências como um caso "que irá
a julgamento em um tribunal".
Em lugar disso, funcionários do
governo vêm informando os aliados quanto ao que ele chama de
"boas provas", que estabelecem
um vínculo entre os sequestradores dos aviões e Bin Laden.
"Trata-se de uma campanha
multifacetada, com muitas peças
trabalhando contra um inimigo
comum", disse Powell. "O nome
desse inimigo é terrorismo. E em
sua mais ambiciosa manifestação,
o inimigo se chama Al Qaeda, e o
líder dessa terrível empreitada é
Bin Laden, o responsável por essa
tragédia contra a humanidade."
Powell descreveu em termos gerais o comunicado que enviou a
embaixadas americanas em todo
o mundo delineando o caso contra Bin Laden. Disse que o estudo
descreve a história da rede terrorista e menciona os arquivos existentes de indiciamentos contra
Bin Laden por seu suposto envolvimento nos atentados contra
duas embaixadas americanas na
África Oriental, em 1998. Também descreve evidências da responsabilidade de Bin Laden por
"crimes passados contra os EUA e
contra a civilização".
Embora o governo não tenha
divulgado os documentos, como
Powell sugeriu que talvez fizesse,
ele declarou que "com o tempo
emergirão informações suficientes" para convencer o povo dos
EUA. "O caso jamais poderá ser
descrito como circunstancial."
Powell mencionou o futuro do
Afeganistão. A despeito de uma
declaração de intenções do governo Bush na semana passada afirmando que o Taleban não representa o povo afegão, Powell não
chegou a indicar que a derrubada
desse governo é uma meta.
"Nosso objetivo, em primeira
instância, é partir para o ataque
contra a Al Qaeda e seu líder Bin
Laden, bem como seus campos
no Afeganistão", disse. "E o regime do Taleban terá um preço."
Tratando da possibilidade de
que o Taleban talvez não sobreviva ao confronto iminente, o secretário Powell declarou que tinha
esperança no surgimento de um
novo governo que fosse "representativo" dos muitos grupos étnicos do Afeganistão.
"Espero que o povo afegão possa se ver sob a liderança de um governo que seja representativo de
todas as pessoas do Afeganistão e
que seja menos repressivo do que
o agora existente." Ele mencionou
a possibilidade de assistência econômica assim que o Taleban for
eliminado. O governo Bush já reservou US$ 170 milhões em assistência humanitária.
Sobre seus planos recentemente
revelados de declarar apoio do
governo americano à criação de
um Estado palestino, Powell disse
que não decidiu ainda quando ou
como delinear suas visões.
Depois de se manter afastada do
conflito entre israelenses e palestinos pela maior parte do ano, a administração estava prestes a interferir quando dos ataques de 11 de
setembro. Os atentados retardaram a sessão de abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova York, onde Bush
planejava se reunir com o líder
palestino Yasser Arafat. Powell
pretendia discursar, delineando
as idéias do governo americano
para a solução do conflito. Ontem, o secretário sugeriu que o
momento de retomada dessa iniciativa dependeria dos acontecimentos no Afeganistão.
Os alertas dos serviços de informações sobre ataques terroristas
discutidos por Powell foram recebidos no segundo e terceiro trimestres, particularmente antes do
feriado de 4 de julho e da conferência de cúpula dos países industrializados em Gênova, Itália, no
mesmo mês. O secretário disse
que o Departamento de Estado e
as agências de inteligência estavam em alerta máximo contra o
terrorismo e vinham tentando,
por meio das embaixadas, desvendar os planos de Bin Laden.
"Houve diversos relatórios sobre os quais nos preocupamos
mas nunca se cristalizaram."
Em junho e no começo de julho,
agentes dos serviços de informações norte-americanos advertiram que Bin Laden e a Al Qaeda
pareciam estar planejando ataques terroristas contra os interesses norte-americanos.
Em junho e julho, o Departamento de Estado divulgou relatórios advertindo que ataques eram
iminentes em locais que iam do
Oriente Médio ao Leste Asiático.
O departamento advertiu sobre
possíveis ataques contra instalações no Japão e na Coréia do Sul,
bem como contra interesses americanos na península Arábica.
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