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Uribe diz que pode negociar pessoalmente com cúpula das Farc
Presidente linha-dura defende negociação em área desmilitarizada com tempo e metas pré-determinados; para analistas, iniciativa difere do processo que fracassou em 2002
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Pela primeira vez, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, se disse disposto a se encontrar pessoalmente com a cúpula das Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia)
como parte das negociações para um processo de paz.
"Se isso for necessário para
poder aperfeiçoar a paz, para
poder dar um passo fundamental em direção à paz, estou disposto a fazê-lo. Que não fique a
menor dúvida", disse Uribe à
rádio Caracol, sobre um eventual encontro com o secretariado das Farc. Mas, acrescentou,
isso "não parece ser o fundamental neste momento".
A declaração de Uribe é parte
de uma série de movimentos
tanto do governo quanto das
Farc em torno da negociação de
uma zona desmilitarizada para
que aí se dê a troca de seqüestrados por guerrilheiros presos,
o que daria então início a um
processo de paz para pôr fim a
quatro décadas de conflito.
Anteontem, Uribe autorizou
seu comissário para a paz, Luis
Carlos Restrepo, a iniciar as
conversas para a criação dessa
zona -horas depois que as Farc
divulgaram uma carta aberta
em que listavam uma série de
condições para o processo.
Apesar de Uribe não ter entrado em detalhes, dá-se como
certo que a zona em discussão
engloba os municípios de Pradera e Florida, no departamento de Valle del Cauca, como
queria a guerrilha de esquerda.
Uribe disse, porém, que a força pública só deixará o que chamou de "zona de encontro",
quando o comissário para a paz
e as Farc definirem as condições da área, incluindo possivelmente um cessar-fogo -o
que é um ponto de discórdia.
"Neste momento, falta definir duas condições: primeiro, o
tamanho da área e, segundo, se
vai haver presença armada das
duas partes, de uma das partes
ou de nenhuma das partes",
disse à Folha Alfredo Rangel,
que, como assessor de Segurança Nacional do ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002), participou das frustradas negociações de paz com a
guerrilha, encerradas em 2002.
"A guerrilha diz que só entra
na área se o Exército sair e ela
passar a controlá-la militarmente. O governo defende que
não haja presença armada nem
da guerrilha nem do Estado",
explicou o analista militar.
Uribe disse ainda que a negociação deve ter um limite de
tempo e um cronograma com
metas claras. "Tenho medo de
um processo prolongado, cheio
de complicações, que não avance, e de que muitos setores do
país entrem em pânico pensando que as Farc simplesmente
estão ganhando tempo para
que o governo passe e se recuperem militarmente."
As Farc pediram a desmilitarização dos dois municípios
por 45 dias, especificadamente
para fazer a troca humanitária.
Para dar continuidade ao
processo de paz, porém, exigem a desmilitarização dos departamentos (Estados) de Caquetá e Putumayo, o fim da
ofensiva militar em todo o país
e a suspensão das ordens da
captura para os integrantes do
Estado-Maior das Farc, entre
outros pontos.
Passado
A possibilidade de criação de
uma zona desmilitarizada traz
à tona o fantasma das negociações lideradas por Pastrana,
que incluiu, um 1998, a criação
de uma área desmilitarizada
em Caguán com 45 mil km2 sob
controle da guerrilha.
Mas para Carlos Lozano, que
participou dos contatos iniciais
entre governo e Farc, as duas
situações são distintas. "Desta
vez é uma área pequena, que
seria desmilitarizada por um
tempo limitado e apenas para o
acordo humanitário", disse o
diretor do semanário "Voz".
"As condições não são explícitas, mas o governo não pretende desmilitarizar uma zona
tão grande e com regras tão
frouxas como em Caguán",
afirmou Rangel.
Com agências internacionais
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