São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2006

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Uribe diz que pode negociar pessoalmente com cúpula das Farc

Presidente linha-dura defende negociação em área desmilitarizada com tempo e metas pré-determinados; para analistas, iniciativa difere do processo que fracassou em 2002

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

Pela primeira vez, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, se disse disposto a se encontrar pessoalmente com a cúpula das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) como parte das negociações para um processo de paz.
"Se isso for necessário para poder aperfeiçoar a paz, para poder dar um passo fundamental em direção à paz, estou disposto a fazê-lo. Que não fique a menor dúvida", disse Uribe à rádio Caracol, sobre um eventual encontro com o secretariado das Farc. Mas, acrescentou, isso "não parece ser o fundamental neste momento".
A declaração de Uribe é parte de uma série de movimentos tanto do governo quanto das Farc em torno da negociação de uma zona desmilitarizada para que aí se dê a troca de seqüestrados por guerrilheiros presos, o que daria então início a um processo de paz para pôr fim a quatro décadas de conflito.
Anteontem, Uribe autorizou seu comissário para a paz, Luis Carlos Restrepo, a iniciar as conversas para a criação dessa zona -horas depois que as Farc divulgaram uma carta aberta em que listavam uma série de condições para o processo.
Apesar de Uribe não ter entrado em detalhes, dá-se como certo que a zona em discussão engloba os municípios de Pradera e Florida, no departamento de Valle del Cauca, como queria a guerrilha de esquerda.
Uribe disse, porém, que a força pública só deixará o que chamou de "zona de encontro", quando o comissário para a paz e as Farc definirem as condições da área, incluindo possivelmente um cessar-fogo -o que é um ponto de discórdia.
"Neste momento, falta definir duas condições: primeiro, o tamanho da área e, segundo, se vai haver presença armada das duas partes, de uma das partes ou de nenhuma das partes", disse à Folha Alfredo Rangel, que, como assessor de Segurança Nacional do ex-presidente Andrés Pastrana (1998-2002), participou das frustradas negociações de paz com a guerrilha, encerradas em 2002.
"A guerrilha diz que só entra na área se o Exército sair e ela passar a controlá-la militarmente. O governo defende que não haja presença armada nem da guerrilha nem do Estado", explicou o analista militar.
Uribe disse ainda que a negociação deve ter um limite de tempo e um cronograma com metas claras. "Tenho medo de um processo prolongado, cheio de complicações, que não avance, e de que muitos setores do país entrem em pânico pensando que as Farc simplesmente estão ganhando tempo para que o governo passe e se recuperem militarmente."
As Farc pediram a desmilitarização dos dois municípios por 45 dias, especificadamente para fazer a troca humanitária.
Para dar continuidade ao processo de paz, porém, exigem a desmilitarização dos departamentos (Estados) de Caquetá e Putumayo, o fim da ofensiva militar em todo o país e a suspensão das ordens da captura para os integrantes do Estado-Maior das Farc, entre outros pontos.

Passado
A possibilidade de criação de uma zona desmilitarizada traz à tona o fantasma das negociações lideradas por Pastrana, que incluiu, um 1998, a criação de uma área desmilitarizada em Caguán com 45 mil km2 sob controle da guerrilha.
Mas para Carlos Lozano, que participou dos contatos iniciais entre governo e Farc, as duas situações são distintas. "Desta vez é uma área pequena, que seria desmilitarizada por um tempo limitado e apenas para o acordo humanitário", disse o diretor do semanário "Voz".
"As condições não são explícitas, mas o governo não pretende desmilitarizar uma zona tão grande e com regras tão frouxas como em Caguán", afirmou Rangel.


Com agências internacionais

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