São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2007

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Cristina quer "fechar equação energética"

Candidata argentina defende em Brasília associação com Venezuela e Bolívia para integração regional na área de energia

Acusada pela oposição de usar a máquina pública na campanha, primeira-dama veio em avião presidencial e trouxe dois ministros

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em visita de seis horas a Brasília, a primeira-dama e candidata à Presidência argentina, Cristina Kirchner, defendeu que Brasil e Argentina se associem à Venezuela e à Bolívia para "fechar a equação energética da América Latina".
Cristina, que é senadora, afirmou que o desenvolvimento de projetos energéticos comuns com os países dos esquerdistas Hugo Chávez e Evo Morales exigirá que se "articule este processo de crescimento com um grande pragmatismo".
"Falamos com o presidente Lula sobre a necessidade de fechar a equação energética na América Latina, essencialmente porque, no mundo que virá, quem tiver energia assegurada terá investimentos. É preciso ter cabeça aberta para esse tema", afirmou a candidata, recebida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um almoço no Palácio da Alvorada.
A Argentina vive um gargalo energético -houve racionamento no último inverno- e, como o Brasil, teve problemas com o fornecimento de gás da Bolívia sob o comando de Morales, um protegido de Chávez.
A Casa Rosada, aliada de Chávez, defende a construção do Gasoduto do Sul, que cruzaria o continente levando gás da Venezuela para Brasil e Argentina. O governo brasileiro vem se mostrando cético quanto ao projeto. Num encontro entre Lula e Chávez, há dez dias, decidiu-se apenas retomar os estudos para o gasoduto.

Uso da máquina
Sob críticas da oposição, que a acusa de usar a máquina pública para se eleger, a primeira-dama visitou Brasília acompanhada dos ministros das Relações Exteriores, Jorge Taiana, e da Economia, Miguel Peirano. A comitiva utilizou uma aeronave presidencial da Argentina.
Ao presidente Lula, a primeira-dama disse que os projetos energéticos regionais seriam uma forma de "qualificar" a relação entre Brasil e Argentina.
Segundo o assessor de Relações Internacionais de Lula, Marco Aurélio Garcia, o presidente concordou com a idéia.
"Num mundo em que somos grandes produtores de commodities, de fortes processos de industrialização, estou convencida de que devemos qualificar mais ainda nossa relação", declarou Cristina, depois de se reunir com representantes de 14 empresas. "A razão da minha presença aqui é a reafirmação da associação estratégica entre Argentina e Brasil", disse ela.
Cristina -favorita na eleição marcada para o dia 28- disse ainda que Brasil e Argentina, as maiores economias do Mercosul, vivem a "oportunidade histórica e inédita" de "aproveitar essa associação para que isso se expanda em toda a região".

Círculo virtuoso
Aos empresários, Cristina defendeu "um círculo virtuoso" de crescimento: "A reindustrialização da Argentina, somada ao potencial industrial e de investimentos que tem o Brasil, deve ajudar a região a se expandir e criar um círculo virtuoso que nos coloque como bloco econômico e político frente ao mundo".
"Uma coisa importante que aproximou o governo brasileiro das questões da senadora é a idéia de que a América do Sul é efetivamente um pólo importante hoje. Se houver inteligência, pragmatismo na confecção de suas políticas econômicas, definições de caráter mais estratégico, pode ter uma inserção no mundo totalmente diferente", disse Garcia.
Segundo ele, Cristina não pediu apoio político de Lula na disputa eleitoral: "Seria uma coisa incompreensível que ela pedisse apoio aqui, até porque o presidente tem o título eleitoral em São Bernardo".


Colaborou LETICIA SANDER, da Sucursal de Brasília


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