São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2007

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Fantasma de Pablo Escobar assombra Uribe na Colômbia

Amante lança memórias e obriga presidente a desmentir amizade com traficante

Uribe acusa jornalista de atuar como "caluniador profissional" a serviço de Virginia Vallejo, autora do livro "Amando Pablo"

MARIE DELCAS
DO "MONDE"

Muito bonita e no passado muito rica, Virginia Vallejo está relembrando agora a história de seu amor por Pablo Escobar.
Ela afirma que seu amante, rei dos reis da cocaína e grande chefe do cartel de Medellín, morto em 1993, tinha entre seus amigos um certo Álvaro Uribe, que mais tarde se tornaria presidente da Colômbia.
O chefe de Estado reagiu imediatamente. "Jamais fui amigo de Pablo Escobar, mesmo quando isso era moda", ele declarou, em comunicado oficial distribuído em 1º de outubro. No dia seguinte, o presidente se pronunciou de maneira mais veemente. Em discurso no rádio, acusou Gonzalo Guillén, correspondente do "Nuevo Herald" (versão em espanhol do "Miami Herald"), de haver emprestado a Vallejo sua pena de "caluniador profissional", consagrada durante toda a vida à "injúria e difamação".
O jornalista do diário norte-americano exigiu que Uribe se retratasse e ameaçou recorrer à Justiça. O presidente colombiano tem razões para sua suscetibilidade. Na semana passada, o senador Mario Uribe, seu primo, foi considerado culpado por suposta cumplicidade com grupos paramilitares, por sua vez associados ao tráfico de drogas. Além disso, José Obdulio Gaviria, assessor do presidente, é primo de Escobar.
Estrela de televisão nos anos 80, Vallejo conta que o líder do cartel de Medellín "idolatrava" Álvaro Uribe. E diz que ela mesma considerava o então jovem líder político um homem muito simpático. "Um dos raros amigos de Pablo que tinha uma cabeça decente", ela escreve em seu livro de memórias, intitulado "Amando Pablo, Odiando Escobar".
A amante do chefe do tráfico tinha lá suas dúvidas: "Eu gostaria de saber como Pablo conseguiu fazer construir no país pistas de pouso, das quais despachava toneladas de cocaína, e além disso como conseguiu importar, em flagrante contrabando, girafas, contêineres inteiros de produtos, lanchas de seis metros de altura".
E um dos colegas de Escobar respondeu, segundo ela: "Pablo é o mais rico de todos porque é o mais astuto. Ele tem um amigo na direção da Aeronáutica, um rapaz jovem, filho de um dos primeiros grandes traficantes, um certo Uribe... Álvaro Uribe, creio".
Diretor da Aeronáutica Civil colombiana entre 1981 e 1983, Uribe, cuja família é de Medellín, era suspeito de ter concedido aos traficantes da cidade dezenas de licenças para a construção de pistas de pouso para aviões de pequeno porte.
"Minha passagem pela chefia da Aeronáutica Civil foi exaustivamente investigada", afirmou o presidente. Em julho de 2006, o correspondente do "Nuevo Herald" em Bogotá convenceu Vallejo a relatar o que sabia sobre o papel de Escobar nos assassinatos políticos dos anos 80. Abandonando o anonimato no qual vivia desde a morte de seu amante, Vallejo agora está refugiada nos EUA. "Suas memórias pessoais não me interessam. Nem mesmo li seu livro", disse Guillén. Ameaçado de morte, o correspondente deve deixar o país.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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