São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Em telegrama, embaixador britânico defende ditador para o Afeganistão

Carta vazou na França; análise é que esse seria "único modo realista" de unir país

ELAINE SCIOLINO
DO "NEW YORK TIMES"

Um telegrama codificado que vazou para um jornal francês cita o embaixador britânico no Afeganistão prevendo que a campanha militar liderada pela Otan contra o Taleban falhará. A melhor solução para o país, diz o diplomata, de acordo com o jornal, seria a instalação de um "ditador aceitável"
"A situação de segurança está piorando, assim como a corrupção, e o governo perdeu toda a credibilidade", diz o britânico Sherard Cowper-Coles, citado pelo autor do telegrama, François Fitou, vice-embaixador francês em Cabul.
O texto de duas páginas, enviado ao Palácio do Eliseu pelo Ministério das Relações Exteriores em 2 de setembro, vazou para o semanário satírico "Le Canard Enchainé", que reproduziu trechos na sua edição de quarta-feira. O telegrama diz que a presença militar liderada pela Otan tornava mais difícil estabilizar o país.
Em um prazo de 5 a 10 anos, o único modo "realista" de unir o Afeganistão seria o governo de "um ditador aceitável", diz Cowper-Coles, segundo o telegrama. "Nós devemos pensar em preparar a opinião pública" para este desfecho, acrescenta.
Autoridades britânicas afirmam que os comentários foram distorcidos e não refletem a política oficial do país. "Não cabe a nós comentar algo que é apresentado como trechos de um telegrama diplomático francês, mas as visões citadas não representam a abordagem do governo", disse uma porta-voz da Chancelaria. Ela confirmou, porém, que Fitou e Cowper-Coles se encontraram.
Autoridades francesas criticaram a divulgação do telegrama e deram início a investigações sobre o incidente. Claude Angeli, autor da reportagem e diretor executivo do "Le Canard Enchainé", defendeu a publicação: "O telegrama é autêntico, e relatamos o conteúdo com precisão".
A análise pessimista britânica vem em momento em que a França aumentou seu contingente militar no Afeganistão.
No encontro da Otan, em abril, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou o envio de 700 militares, aumentando o contingente para cerca de 3.000 homens. Ele foi criticado pela oposição socialista por ser próximo demais ao governo George W. Bush. As críticas se intensificaram após a morte de dez franceses em uma emboscada do Taleban, em agosto.
No telegrama, Fitou cita o embaixador britânico dizendo que um reforço militar "nos identificaria ainda mais como força de ocupação e multiplicaria os alvos" dos insurgentes.
Reconhecendo não haver alternativa ao apoio aos EUA no país, Cowper-Coles acrescenta: "Mas devemos dizer a eles que queremos ser parte de uma estratégia de vitória". A estratégia americana, diz, "está destinada a fracassar".


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