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Em telegrama, embaixador britânico defende ditador para o Afeganistão
Carta vazou na França; análise é que esse seria "único modo realista" de unir país
ELAINE SCIOLINO
DO "NEW YORK TIMES"
Um telegrama codificado que
vazou para um jornal francês
cita o embaixador britânico no
Afeganistão prevendo que a
campanha militar liderada pela
Otan contra o Taleban falhará.
A melhor solução para o país,
diz o diplomata, de acordo com
o jornal, seria a instalação de
um "ditador aceitável"
"A situação de segurança está
piorando, assim como a corrupção, e o governo perdeu toda a credibilidade", diz o britânico Sherard Cowper-Coles, citado pelo autor do telegrama,
François Fitou, vice-embaixador francês em Cabul.
O texto de duas páginas, enviado ao Palácio do Eliseu pelo
Ministério das Relações Exteriores em 2 de setembro, vazou
para o semanário satírico "Le
Canard Enchainé", que reproduziu trechos na sua edição de
quarta-feira. O telegrama diz
que a presença militar liderada
pela Otan tornava mais difícil
estabilizar o país.
Em um prazo de 5 a 10 anos, o
único modo "realista" de unir o
Afeganistão seria o governo de
"um ditador aceitável", diz
Cowper-Coles, segundo o telegrama. "Nós devemos pensar
em preparar a opinião pública"
para este desfecho, acrescenta.
Autoridades britânicas afirmam que os comentários foram distorcidos e não refletem
a política oficial do país. "Não
cabe a nós comentar algo que é
apresentado como trechos de
um telegrama diplomático
francês, mas as visões citadas
não representam a abordagem
do governo", disse uma porta-voz da Chancelaria. Ela confirmou, porém, que Fitou e Cowper-Coles se encontraram.
Autoridades francesas criticaram a divulgação do telegrama e deram início a investigações sobre o incidente. Claude
Angeli, autor da reportagem e
diretor executivo do "Le Canard Enchainé", defendeu a
publicação: "O telegrama é autêntico, e relatamos o conteúdo
com precisão".
A análise pessimista britânica vem em momento em que a
França aumentou seu contingente militar no Afeganistão.
No encontro da Otan, em
abril, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou o envio de 700
militares, aumentando o contingente para cerca de 3.000
homens. Ele foi criticado pela
oposição socialista por ser próximo demais ao governo George W. Bush. As críticas se intensificaram após a morte de dez
franceses em uma emboscada
do Taleban, em agosto.
No telegrama, Fitou cita o
embaixador britânico dizendo
que um reforço militar "nos
identificaria ainda mais como
força de ocupação e multiplicaria os alvos" dos insurgentes.
Reconhecendo não haver alternativa ao apoio aos EUA no
país, Cowper-Coles acrescenta:
"Mas devemos dizer a eles que
queremos ser parte de uma estratégia de vitória". A estratégia
americana, diz, "está destinada
a fracassar".
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