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"Nossas qualidades ficaram essenciais"
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a seguir três opiniões sobre
a orfandade da classe média paulistana em relação aos EUA:
Renato Janine Ribeiro: professor de filosofia política da USP e
autor de "A Etiqueta no Antigo
Regime": "Os atentados nos EUA
foram uma espécie de "my world"
caiu para a classe média. Ela construiu sua identidade a partir da dificuldade de lidar com o Brasil.
Os EUA representavam o mundo ideal, onde era possível conciliar cidadania e consumo. Aqui, a
cidadania é precária. É muito difícil dizer se haverá uma freada no
americanismo da classe média.
A história das mentalidades anda mais devagar do que a história
factual. A Revolução Francesa só
chegou ao campo cem anos depois. O que está no horizonte é o
fim do mundo unipolar. Há cinco
anos, parecia que os EUA mandavam em tudo. Agora, estão sendo
obrigados a negociar. O que parece estar no horizonte é que as nossas qualidades se tornaram fundamentais. Nós temos know-how
de como lidar com uma sociedade
multiétnica. O Brasil é a realização
do sonho americano do "melting
pot" e tem boas chances de se reerguer. A superação depende de lideranças políticas e culturais,
porque a política passa pelo cotidiano e pelos agentes culturais".
Antonio Pedro Tota, professor
de história da PUC-SP e autor de
"Imperialismo Sedutor": "Não é a
primeira vez que a elite brasileira
se sente órfã. Em 14 de junho de
1940, quando a Alemanha invadiu
Paris, a elite carioca mandou rezar missa pela desocupação da cidade. É um sentimento que se repete agora.
Esse culto aos EUA existe para
uma parcela se diferenciar da população. Não acho que tenha acabado a hegemonia americana. Isso dura muito. Há um certo antiamericanismo no ar, mas isso logo
passa. É muito cedo para fazer
avaliações. Mas o abalo dos EUA
pode ter aberto uma brecha no
imaginário do brasileiro".
Mary Junqueira, pesquisadora
da história dos EUA e autora de
"Estados Unidos - A Consolidação de uma Nação": "Os EUA são
um modelo de consumo para o
brasileiro. Eram o lugar aonde se
ia gastar dinheiro. É muito cedo
para saber se essa mudança [sentimento de orfandade" é momentânea ou não".
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