São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2001

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"Nossas qualidades ficaram essenciais"

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir três opiniões sobre a orfandade da classe média paulistana em relação aos EUA:
Renato Janine Ribeiro: professor de filosofia política da USP e autor de "A Etiqueta no Antigo Regime": "Os atentados nos EUA foram uma espécie de "my world" caiu para a classe média. Ela construiu sua identidade a partir da dificuldade de lidar com o Brasil.
Os EUA representavam o mundo ideal, onde era possível conciliar cidadania e consumo. Aqui, a cidadania é precária. É muito difícil dizer se haverá uma freada no americanismo da classe média.
A história das mentalidades anda mais devagar do que a história factual. A Revolução Francesa só chegou ao campo cem anos depois. O que está no horizonte é o fim do mundo unipolar. Há cinco anos, parecia que os EUA mandavam em tudo. Agora, estão sendo obrigados a negociar. O que parece estar no horizonte é que as nossas qualidades se tornaram fundamentais. Nós temos know-how de como lidar com uma sociedade multiétnica. O Brasil é a realização do sonho americano do "melting pot" e tem boas chances de se reerguer. A superação depende de lideranças políticas e culturais, porque a política passa pelo cotidiano e pelos agentes culturais".
Antonio Pedro Tota, professor de história da PUC-SP e autor de "Imperialismo Sedutor": "Não é a primeira vez que a elite brasileira se sente órfã. Em 14 de junho de 1940, quando a Alemanha invadiu Paris, a elite carioca mandou rezar missa pela desocupação da cidade. É um sentimento que se repete agora.
Esse culto aos EUA existe para uma parcela se diferenciar da população. Não acho que tenha acabado a hegemonia americana. Isso dura muito. Há um certo antiamericanismo no ar, mas isso logo passa. É muito cedo para fazer avaliações. Mas o abalo dos EUA pode ter aberto uma brecha no imaginário do brasileiro".
Mary Junqueira, pesquisadora da história dos EUA e autora de "Estados Unidos - A Consolidação de uma Nação": "Os EUA são um modelo de consumo para o brasileiro. Eram o lugar aonde se ia gastar dinheiro. É muito cedo para saber se essa mudança [sentimento de orfandade" é momentânea ou não".



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