São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2001

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O VOLUNTÁRIO

"Morrer pela minha bandeira me faz mártir"

DO ENVIADO A MURRE

"Leite?", pergunta Ahmed Shahzad ao servir o chá. Com um visual que lembra o guerrilheiro-padrão Che Guevara, de quem nunca ouviu falar, Shahzad explica seu ideal de vida com naturalidade, enquanto entorna o bule.
"Eu quero lutar pelo islã. Se for para morrer, vou sem medo, porque acredito que morrer lutando pela minha bandeira me faça mártir. E todo mártir vai para o Paraíso. Não tenho nada na terra que me prenda." Shahzad tem 19 anos. Aparenta ter mais, 25 talvez. Sua educação formal se resumiu a quatro anos frequentando uma madrassa em sua Lahore natal.
Ele falou à Folha ao lado de seu tutor militar, na sede da guerrilha Sheikhupura em Murre, onde são escolhidos jovens para a luta na Caxemira. (IG)

Folha - O que você fazia em Lahore?
Ahmed Shahzad -
Meu pai tinha um riquixá. Eu não tive muito estudo até ir para uma madrassa. Mas não tinha emprego lá.

Folha - O que o trouxe a Murre?
Shahzad -
Eu queria ser útil. Comecei a ler tudo aquilo que Israel, Índia e EUA fazem no mundo e vim para cá. Tudo o que o povo da Palestina e da Caxemira passam. Isso foi em 1997.

Folha - Como foi o treinamento? Você foi à Caxemira?
Shahzad -
A gente aprendeu sobre como morrer pelo islã e o valor que a vida fora daqui tem. Ainda não pude ir a combate.

Folha - O que sua família acha?
Shahzad -
Meus pais e irmãos se orgulham de mim. Eu quero combater o terrorismo dos EUA.

Folha - Como?
Shahzad -
Pedi para ser mandado para o Afeganistão assim que deixarem. Sei lutar.

Folha - O que você acha de Osama bin Laden?
Shahzad -
Ele é um herói, mas os EUA não estão atacando ele. Estão matando muçulmanos inocentes. Isso é errado.



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