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No último dia da campanha, Obama perde avó que o criou
Na véspera da eleição, democrata é avisado que Madelyn Dunham, 86, morreu um dia antes
Maratona de comícios é
mantida; em ataque final,
republicanos põem no ar
comercial que liga rival a
pastor radical renegado
DO ENVIADO A CHICAGO
Madelyn Dunham, a avó materna de Barack Obama -a
quem ele chamava de mentora,
apontada como principal responsável por sua educação e a
quem dedicou a vitória nas prévias democratas-, morreu. Ela
tinha 86 anos e sofria de câncer.
Segundo Jen Psaki, assessora
de imprensa de Obama, Dunham morreu na noite de anteontem em Honolulu, no Havaí, onde morou por quase quatro décadas. O candidato soube
na manhã de ontem, quando se
preparava para seu último dia
de comícios em Jacksonville,
na Flórida. Ao longo do dia,
participou dos eventos programados sem citar o ocorrido.
Após os primeiros rumores
chegarem à imprensa, no entanto, a campanha confirmou o
fato e soltou declaração conjunta de Obama e sua meia-irmã, a indonésia Maya Soetoro-Ng, na qual se referia à avó como "o pilar de nossa família".
Foi só à noite que ele a citou
em um comício, em Charlotte
(Carolina do Norte). "Ela morreu placidamente enquanto
dormia com minha irmã a seu
lado, então há alegria assim como lágrimas. Não falarei muito,
pois é difícil", disse. Mas lembrou que ela viveu a Grande
Depressão e a Segunda Guerra,
que trabalhou em uma linha de
montagem tendo um bebê de
quem cuidar e o marido servindo nas Forças Armadas, e que
ela era franca e humilde, uma
das "heroínas discretas que há
pelo país", trabalhando duro
para que filhos e netos vencessem. "É por isso que lutamos."
Madelyn Lee Payne Dunham
nasceu em Peru, Kansas, em 26
de outubro de 1922. Naquele
Estado, conheceu e se casou
com Stanley Dunham, já morto, com quem teria Ann. Os três
se mudaram para o Havaí, onde
Ann conheceu o queniano Barack Hussein Obama, sênior,
numa aula de russo. Com ele,
aos 18, teve Barack Obama. Os
dois se separaram logo, e ele só
veria o filho uma vez depois.
Os avós do candidato passaram a criar Obama quando ele
voltou da Indonésia, aonde tinha ido morar com a mãe e o
padrasto e onde nasceu sua
meia-irmã. Mas o papel principal coube à avó, que ascendeu
de secretária a vice-presidente
de um banco local, a primeira
mulher a ocupar o cargo.
Desde que o neto começou a
corrida à Presidência, já por
conta da saúde precária, Madelyn diminuiu suas aparições
em público.
"Civis"
Foi o momento delicado de
um dia em que o democrata
percorreu três Estados-pêndulo fazendo os últimos discursos
de sua campanha. Pela manhã,
em Jacksonvile, na Flórida; à
tarde, em Charlotte; e, à noite,
estava previsto um megaevento
em Manassas, na Virgínia. Nos
dois primeiros, as pesquisas
dão empate; no último, que não
vota em democrata desde 1964,
Obama está pouco à frente.
Pela manhã, em entrevistas a
TVs, o candidato reclamou do
tratamento dado a sua mulher,
Michelle, no começo da campanha. "Acredito que há um grupo de veículos republicanos ou
de direita que perseguiu minha
mulher de uma forma que eu
considero imprópria", disse à
âncora Katie Couric, para afirmar que via seus familiares como "civis" na guerra eleitoral.
Ao longo do dia, o comando
da campanha republicana colocou no ar comerciais que voltam ao caso do polêmico pastor
Jeremiah Wright, mentor religioso de Obama por vários anos
e que no começo do ano causou
constrangimento ao candidato
depois de vir a público uma série de discursos seus em que
atacava o que considerava racismo dos brancos dos EUA.
Um dos trechos do comercial
repete a polêmica frase: "Deus
salve a América? Deus amaldiçoe a América!". Logo após, a
locutora afirma: "Barack Obama. Muito radical. Muito arriscado". Até a semana passada,
McCain resistia a pressões do
partido para voltar ao tema do
líder religioso. Ontem, analistas republicanos ponderavam
que ele cedeu tarde demais.
Na noite de ontem, os dois
candidatos dariam entrevistas
no intervalo de um importante
jogo de futebol americano, na
emissora ESPN, com transmissão para o Brasil. As campanhas
disseram que eles falariam só
de esportes. Obama deve votar
hoje em Chicago, onde mora.
Antes, era prevista uma parada
em Indiana, Estado vizinho.
Em Jacksonville, falando a
9.000 pessoas, criticou John
McCain: "Lembra-se do que ele
disse, aqui, em 15 de setembro?
Naquele dia, mais de 5.000 empregos foram perdidos, e mais
de 7.000 hipotecas entraram
em concordata. Na véspera,
Alan Greenspan dissera que estávamos numa crise que ocorre
uma vez a cada século. Ainda
assim, John McCain disse aqui
que "os fundamentos da economia são sólidos'".
Os presentes vaiaram, e Obama respondeu: "Vocês não têm
de vaiar. Vocês têm de votar".
(SÉRGIO DÁVILA)
24%
é a chance de uma vitória arrasadora do candidato democrata, Barack
Obama, segundo o site
de análise estatística
fivethirthyeight.com
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