São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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No último dia da campanha, Obama perde avó que o criou

Na véspera da eleição, democrata é avisado que Madelyn Dunham, 86, morreu um dia antes

Maratona de comícios é mantida; em ataque final, republicanos põem no ar comercial que liga rival a pastor radical renegado


DO ENVIADO A CHICAGO

Madelyn Dunham, a avó materna de Barack Obama -a quem ele chamava de mentora, apontada como principal responsável por sua educação e a quem dedicou a vitória nas prévias democratas-, morreu. Ela tinha 86 anos e sofria de câncer.
Segundo Jen Psaki, assessora de imprensa de Obama, Dunham morreu na noite de anteontem em Honolulu, no Havaí, onde morou por quase quatro décadas. O candidato soube na manhã de ontem, quando se preparava para seu último dia de comícios em Jacksonville, na Flórida. Ao longo do dia, participou dos eventos programados sem citar o ocorrido.
Após os primeiros rumores chegarem à imprensa, no entanto, a campanha confirmou o fato e soltou declaração conjunta de Obama e sua meia-irmã, a indonésia Maya Soetoro-Ng, na qual se referia à avó como "o pilar de nossa família".
Foi só à noite que ele a citou em um comício, em Charlotte (Carolina do Norte). "Ela morreu placidamente enquanto dormia com minha irmã a seu lado, então há alegria assim como lágrimas. Não falarei muito, pois é difícil", disse. Mas lembrou que ela viveu a Grande Depressão e a Segunda Guerra, que trabalhou em uma linha de montagem tendo um bebê de quem cuidar e o marido servindo nas Forças Armadas, e que ela era franca e humilde, uma das "heroínas discretas que há pelo país", trabalhando duro para que filhos e netos vencessem. "É por isso que lutamos."
Madelyn Lee Payne Dunham nasceu em Peru, Kansas, em 26 de outubro de 1922. Naquele Estado, conheceu e se casou com Stanley Dunham, já morto, com quem teria Ann. Os três se mudaram para o Havaí, onde Ann conheceu o queniano Barack Hussein Obama, sênior, numa aula de russo. Com ele, aos 18, teve Barack Obama. Os dois se separaram logo, e ele só veria o filho uma vez depois.
Os avós do candidato passaram a criar Obama quando ele voltou da Indonésia, aonde tinha ido morar com a mãe e o padrasto e onde nasceu sua meia-irmã. Mas o papel principal coube à avó, que ascendeu de secretária a vice-presidente de um banco local, a primeira mulher a ocupar o cargo.
Desde que o neto começou a corrida à Presidência, já por conta da saúde precária, Madelyn diminuiu suas aparições em público.

"Civis"
Foi o momento delicado de um dia em que o democrata percorreu três Estados-pêndulo fazendo os últimos discursos de sua campanha. Pela manhã, em Jacksonvile, na Flórida; à tarde, em Charlotte; e, à noite, estava previsto um megaevento em Manassas, na Virgínia. Nos dois primeiros, as pesquisas dão empate; no último, que não vota em democrata desde 1964, Obama está pouco à frente.
Pela manhã, em entrevistas a TVs, o candidato reclamou do tratamento dado a sua mulher, Michelle, no começo da campanha. "Acredito que há um grupo de veículos republicanos ou de direita que perseguiu minha mulher de uma forma que eu considero imprópria", disse à âncora Katie Couric, para afirmar que via seus familiares como "civis" na guerra eleitoral.
Ao longo do dia, o comando da campanha republicana colocou no ar comerciais que voltam ao caso do polêmico pastor Jeremiah Wright, mentor religioso de Obama por vários anos e que no começo do ano causou constrangimento ao candidato depois de vir a público uma série de discursos seus em que atacava o que considerava racismo dos brancos dos EUA.
Um dos trechos do comercial repete a polêmica frase: "Deus salve a América? Deus amaldiçoe a América!". Logo após, a locutora afirma: "Barack Obama. Muito radical. Muito arriscado". Até a semana passada, McCain resistia a pressões do partido para voltar ao tema do líder religioso. Ontem, analistas republicanos ponderavam que ele cedeu tarde demais.
Na noite de ontem, os dois candidatos dariam entrevistas no intervalo de um importante jogo de futebol americano, na emissora ESPN, com transmissão para o Brasil. As campanhas disseram que eles falariam só de esportes. Obama deve votar hoje em Chicago, onde mora. Antes, era prevista uma parada em Indiana, Estado vizinho.
Em Jacksonville, falando a 9.000 pessoas, criticou John McCain: "Lembra-se do que ele disse, aqui, em 15 de setembro? Naquele dia, mais de 5.000 empregos foram perdidos, e mais de 7.000 hipotecas entraram em concordata. Na véspera, Alan Greenspan dissera que estávamos numa crise que ocorre uma vez a cada século. Ainda assim, John McCain disse aqui que "os fundamentos da economia são sólidos'".
Os presentes vaiaram, e Obama respondeu: "Vocês não têm de vaiar. Vocês têm de votar".
(SÉRGIO DÁVILA)

24%
é a chance de uma vitória arrasadora do candidato democrata, Barack Obama, segundo o site de análise estatística fivethirthyeight.com


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