São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2008

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Imagem do republicano muda com campanha

McCain contrariou histórico de conservador progressista

DO ENVIADO A PHOENIX

Há evidências de sobra indicando um possível fracasso de John Sidney McCain 3º, 72, na eleição de hoje. Se ele contrariar as previsões e se tornar o 44º presidente dos Estados Unidos, será mais uma história de superação na vida desse que pode ser o mais idoso americano a ocupar a Casa Branca num primeiro mandato.
McCain é filho e neto de militares, ambos almirantes. Acabou seguindo carreira na Marinha. Piloto, serviu no Vietnã. A partir daí sua vida mudou.
Em 26 de outubro de 1967, McCain foi abatido. Um míssil atingiu seu caça Skyhawk. Sobreviveu à queda, mas ficou muito ferido. Capturado pelos vietnamitas, foi encarcerado numa prisão em Hanói. Entrou na cela com 31 anos. Quando saiu, estava com 36.
Ao se lançar na política, em 1982, escolheu o Arizona para se candidatar a deputado. Conquistou o eleitorado, foi eleito e nunca mais saiu de Washington pelos 26 anos seguintes.
Com a credibilidade de seu passado na Marinha, McCain percebeu ter uma certa carta-branca como político. No Partido Republicano, é considerado um desgarrado, o mais progressista dos conservadores.
Depois de sua tentativa frustrada de se candidatar à Casa Branca em 2000, porém, resignou-se à escolha do partido. Apoiou George W. Bush. Paga um preço alto hoje. Na atual campanha, teve de ser direto ao debater com Barack Obama, procurando exorcizar a imagem de governista: "Eu não sou o presidente Bush".
A publicidade de McCain martela as expressões "experiência", "capacidade de liderar", "testado em momentos de crise". Apela diretamente ao patriotismo dos americanos. Compara-se ao adversário democrata "que nunca dirigiu nada" e só vai para a Casa Branca para "redistribuir riqueza".
McCain surpreendeu ao escolher para vice Sarah Palin, então desconhecida governadora do Alasca. Conservadora e hábil sobre o palanque, compensava dois predicados que o candidato republicano não possui para o público interno.
As pesquisas rapidamente captaram o momento. McCain empatou com o democrata Barack Obama na primeira quinzena de setembro. Mas um raio vindo de Wall Street abalou sua campanha. O estouro da bolha imobiliária e a iminência de uma das piores recessões desde a Segunda Guerra Mundial trouxeram novamente McCain e Bush, juntos, para o centro do palco político como responsáveis associados pela derrocada.
O republicano tentou reagir. Lançou um novo personagem na campanha, "Joe, o encanador" -a síntese do cidadão americano médio, empreendedor, que sofre quando o governo aumenta impostos. McCain tentou colar em Obama a pecha de "socialista". Em princípio, a estratégia ecoou apenas entre os que já estavam propensos a eleger o senador pelo Arizona.
Se conseguir superar as dificuldades hoje nas urnas, será uma das histórias mais extraordinárias do ex-piloto de caça McCain. Se perder, certamente sua carreira política entrará em uma fase crepuscular.
No caso de derrota, amargará uma inversão de sinais sobre seu legado. Entrou na campanha como um político flexível, conservador moderado. No espectro ideológico, está à esquerda dos últimos três presidentes eleitos pelo seu partido (Ronald Reagan e os dois Bush). Por conta de uma campanha errática, sairá do processo como alguém que cedeu aos ataques de baixo nível e foi responsável pelo lançamento nacional de Palin, sua antípoda em quase todos os aspectos. (FR)


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