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ANÁLISE
É muito cedo para decretar o fim de Obama
Clinton, em 1994, teve derrota ainda maior que a de agora, reergueu-se, foi reeleito e terminou bem o mandato
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE SÃO PAULO
Há dois anos, quando Barack Obama foi eleito, não
faltou quem, de modo apressado (como agora se comprova), decretasse a morte do
Partido Republicano e do
movimento conservador na
política americana.
É conveniente, diante dos
resultados das eleições de
metade de mandato de anteontem, ser cauteloso e não
imaginar que o governo Obama está encerrado e que acabaram suas chances de reeleger-se em 2012.
Em 1994, Bill Clinton passou por situação até pior que
a de Obama: os republicanos
ganharam a maioria na Câmara (pela primeira vez em
40 anos) e Senado. E Clinton
não tinha cumprido nenhuma promessa de campanha.
O começo da convivência
de Clinton com um Congresso hostil foi muito difícil.
Durante 25 dias em 1995, a
administração pública federal americana ficou parada
porque não se chegava a um
acordo sobre o Orçamento.
Mas Clinton e o presidente
da Câmara dos Representantes de então, Newt Gingrich,
conseguiram se entender e
levaram o país a uma situação rara em sua história, com
superavits orçamentários entre 1996 e 2000.
Em 1996, Clinton se reelegeu sem grandes dificuldades e, apesar de ter sofrido
um processo de impeachment que por um triz não o tirou do poder (por causa de
suas estripulias no Salão
Oval), acabou o governo com
altos índices de aprovação.
DIVISÃO DEMOCRATA
Nada impede que Obama
também se saia bem na Presidência, apesar de seu partido
ser minoritário (só na Câmara, por sinal).
Para isso, no entanto, ele
sem dúvida terá de provocar
uma inflexão em suas políticas e também (talvez especialmente) na retórica.
Clinton não teve grande
dificuldade em se aproximar
do centro no espectro ideológico americano. Ele sempre
estivera mais ou menos ali.
Conteve os setores mais à
esquerda do partido com naturalidade e prazer.
Obama parece ter mais
problemas para fazer esse
movimento.
O Partido Democrata está
mais dividido agora do que
há 16 anos entre liberais (a
esquerda) e conservadores. A
desilusão dos liberais com o
presidente que lhes prometera muito mais do que poderia
entregar é enorme.
Mas Obama é um pragmático, acima de tudo. E extremamente frio. Fará o necessário para sobreviver e acumular capital para disputar a
reeleição.
Uma das providências
mais urgentes é ganhar a
confiança dos empresários.
Um dos motivos principais
por que a recuperação da
economia dos EUA tem sido
letárgica é a falta de investimentos do setor privado.
As reservas acumuladas
pelas 500 maiores empresas
não financeiras do país nestes dois anos são as maiores
em 50 anos.
Totalizam quase US$ 2 trilhões. Mas elas não investem
quase nada.
Por quê? Em boa medida,
porque não se sentem seguros quanto ao que a administração Obama vai fazer em
termos de regulação de suas
atividades, além de política
fiscal e tributária.
O presidente terá de mostrar serviço para reduzir o deficit público, acelerar exportações, convencer a comunidade de negócios a voltar a
investir e os aliados a pararem de sangrá-lo por dentro.
Não é fácil. Mas se Clinton
conseguiu, por que não ele?
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