São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2010

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"O assassino de Rabin não venceu"

Filha tenta preservar legado do premiê israelense morto em 1995; crime impulsionou ceticismo quanto à paz

Quinze anos depois da morte do seu pai, Dália Rabin prega a retomada imediata da negociação com os palestinos

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Completa 15 anos hoje o assassinato do premiê Yitzhak Rabin, maior trauma político da história de Israel e do qual, para muitos, o país jamais se recuperou.
A esperança gerada entre israelenses e palestinos pelo processo de paz conduzido por Rabin de 1993 à sua morte deu lugar ao intenso ceticismo que prevalece hoje. À Folha, Dália Rabin, filha do premiê, disse que o legado do pai vive e defendeu o diálogo para chegar a um acordo nos termos "que ambos os lados conhecem" -dois Estados para dois povos.
Após curta trajetória como deputada, Dália, 60, se afastou da política e hoje é diretora do Centro Rabin. Sua missão, diz, é não deixar que o trauma vire esquecimento.

Folha - Diz-se que todo israelense lembra onde estava no dia da morte de Rabin. A sra. teme o esquecimento? Dália Rabin - O tempo faz a sua parte. Em 15 anos, as memórias esmaecem. Nosso trabalho aqui no Centro Rabin é cuidar de que mesmo crianças conheçam a história.

Pessoas, incluindo ex-assessores do seu pai, acham que o assassino Yigal Amir venceu, pois conseguiu barrar a paz.
Não. Eu ouço os premiês, um após o outro, e nenhum deles inventou uma forma diferente de resolver o conflito. Todos concordam que a solução é dois Estados para dois povos. O assassino não venceu. Com certeza [Amir] causou um dano, mas também houve outros que ajudaram.

Muitos acusam políticos hoje no poder, inclusive o premiê, Binyamin Netanyahu, de ter contribuído para o clima de incitação. O que a sra. acha?
O que eu penso falei diretamente a eles.

Pesquisa mostrou que 18% dos israelenses são favoráveis a reduzir a pena de Amir. O que faria se isso ocorresse?
O que você acha? É claro que me oporia e faria tudo para impedir. Nunca disse que deixaria o país e peço que isso não seja repetido. Minha mãe, quando Netanyahu venceu, disse que fugiria, mas depois voltou atrás.

Qual é o legado do seu pai?
Muito permanece. Se andar pelo país, verá que toda cidade tem uma rua ou escola com o nome dele. Apesar dos opositores que tentam apagar a memória, a sua marca ficou.

Por que seu maior legado, o diálogo de paz, está mais vivo em livros que na realidade?
Essa pergunta você deve fazer a herdeiros [políticos].

O que precisa mudar?
Sentar amanhã de manhã com os palestinos para conversar. E chegar ao acordo cujos parâmetros os dois lados conhecem.

A sra. foi citada dizendo que, antes de ser assassinado, Rabin quis parar o processo de paz por causa do terrorismo.
Alguns me disseram após a morte que, se o terror continuasse, ele pararia. Uma vez que o processo de Oslo foi elaborado em fases, em cada uma delas havia uma avaliação. Não acho que ele pensou em acabar com Oslo.

Rabin temia um atentado?
Infelizmente não. Ele nunca pensou que um judeu seria capaz de pegar numa arma para matá-lo.

E a família?
Eu me preocupava. Infelizmente, não o suficiente.

Como filha, do que mais sente falta em Rabin?
Da segurança que ele me dava.


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