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Nobel de Literatura russo apóia guerra
DANIEL VERNET
do "Le Monde"
O escritor Alexander Soljenitsin, 80, Nobel de Literatura de
1970, não deixa dúvidas sobre seu
apoio ao conflito tchetcheno. "A
Rússia precisa combater o terrorismo", afirma. "Não somos nós
os agressores -são eles."
Ele atribui aos tchetchenos a
culpa pelos atentados que deixaram mais de 300 mortos na Rússia
este ano. "Enquanto esse perigo
continuar a existir, não devemos
depor nossas armas."
Quando se recorda que Soljenitsin criticou a primeira guerra na
Tchetchênia (94-96), sua postura
causa espanto. Terá o prisioneiro
de 13 anos em campos de trabalhos forçados na era soviética, o
ermitão exilado nos EUA por 20
anos, se alinhado à opinião geral?
As críticas à primeira campanha tinham as sementes de sua
postura atual. Ele deplorava a debilidade das ações militares, a perda de vidas (sobretudo dos soldados russos) e condenava a "falha
política grave" em enfraquecer os
russos no Cáucaso e nas regiões
de maioria muçulmana, acelerando a fragmentação da Rússia.
Propunha abandonar a Tchetchênia à própria sorte, repatriar
os russos de lá, expulsar os tchetchenos da Rússia e fechar as fronteiras entre os dois.
Soljenitsin tinha certeza do resultado: em muito pouco tempo
os tchetchenos teriam pedido para serem novamente ligados à pátria-mãe russa, já que, para ele, essas nações pequenas não poderiam constituir Estados viáveis.
Os governos pós-soviéticos que
comandam a Rússia desde 1991,
diz Soljenitsin, não conseguiram
restabelecer os laços dos povos do
Cáucaso com a "Grande Mãe
Rússia", deixando-se desviar do
bom caminho pelas fantasias ocidentais sobre direitos humanos.
Teria se esquecido do que ele
mesmo disse em seu livro "O Arquipélago Gulag"? No campo de
trabalhos forçados, conheceu um
povo deportado por Stálin, digno
de admiração porque não cedia
aos estratagemas cruéis dos guardas. "É uma nação", escreveu
aquele Soljenitsin, "sobre a qual a
psicologia da submissão não
exerce efeito. Não são rebeldes
isolados -é a nação inteira. São
os tchetchenos."
Tradução de Clara Allain
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