São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2004

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LESTE EUROPEU

Tribunal rejeita resultado da eleição presidencial, que dera vitória a premiê; novo pleito será em 26 de dezembro

Supremo da Ucrânia convoca novo 2º turno

DA REDAÇÃO

A Suprema Corte da Ucrânia rejeitou ontem os resultados oficiais da eleição presidencial de 21 de novembro, que haviam dado vitória ao premiê Viktor Yanukovich, e decidiu que uma repetição do segundo turno deve ocorrer em 26 de dezembro.
A decisão foi vista como uma grande vitória para o candidato da oposição, Viktor Yushchenko.
Yushchenko entrara com um pedido de cancelamento dos resultados no tribunal, alegando que eles haviam sido fraudados. Não cabe apelação da sentença.
"Hoje a Ucrânia fez uma escolha pela justiça, pela democracia e pela liberdade", disse Yushchenko, falando de um palanque armado na praça da Independência, no centro de Kiev, a dezenas de milhares de simpatizantes que comemoravam a decisão. "Aconteceu graças a vocês."
Desde o anúncio da decisão, os manifestantes tocavam cornetas pintadas de laranja -a cor do partido do candidato- e agitavam bandeiras da mesma cor. Vários motoristas, ao passar perto da praça, tocavam a buzina três vezes, pontuando as sílabas de "Yush-chen-ko", que os manifestantes entoavam a cada vez que o candidato fazia uma pausa em seu discurso.
"Graças a vocês, não apenas centenas de milhares, mas milhões e milhões de ucranianos, nós fizemos a escolha definitiva."
Ao fim do discurso, os manifestantes entoaram o hino nacional, acompanhados por Yushchenko e seus aliados no palanque, que tomavam champanhe. O candidato jogou beijos à multidão.
A repetição de um segundo turno era a solução preferida por Yushchenko para a crise eleitoral, que já durava mais de dez dias no país e levara dezenas de milhares às ruas da capital.
O presidente Leonid Kuchma queria uma eleição totalmente nova, com a possibilidade de novos candidatos se inscreverem e um novo primeiro turno. Segundo alguns analistas, a intenção de Kuchma -que apoiou Yanukovich- era poder lançar um novo candidato e, assim, se afastar do premiê, cujo nome está ligado às alegações de crime eleitoral.
O presidente também faz pressão por uma reforma política que transferiria grande parte do poder do presidente ao Parlamento e, conseqüentemente, ao premiê.
Yushchenko disse que a oposição intensificaria a pressão sobre Kuchma para demitir Yanukovich do cargo de primeiro-ministro. No início da semana, o Parlamento ucraniano aprovou uma moção de desconfiança contra o governo do premiê, o que obriga seus membros a pedirem demissão e o presidente a aceitar o pedido em até 60 dias. Mas havia dúvidas sobre a legalidade da medida.
Yushchenko também pediu uma reforma da comissão eleitoral, afirmando que o órgão tinha "traído" a nação ao endossar a votação fraudulenta.
A decisão da Suprema Corte foi anunciada depois do anoitecer, mais de seis horas depois do início do segundo dia de reunião dos juízes para discutir a acusação de fraude. Os advogados de Yanukovich e da Comissão Eleitoral Central já haviam deixado o edifício. Olena Lukash, advogada de Yanukovich, recusou-se a fazer comentários sobre o veredicto ao ser contatada por telefone.
Nas bases eleitorais de Yanukovich, no leste da Ucrânia, alguns eleitores reagiram de forma irritada à decisão da Suprema Corte. "Temos um presidente: Viktor Yanukovich", disse Konstantin Sadalsky, apontando para uma tela em um café em Donetsk.
O Parlamento marcou sessões para todo o fim de semana para passar leis correspondentes ao veredicto, entre elas uma lei eleitoral para evitar fraudes.


Com agências internacionais


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