São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Grupo terrorista islâmico aceita Estado palestino e abandona projeto de criação de país islâmico na região

Hamas agora aceita diálogo com Israel

DA REDAÇÃO

No que poderá marcar uma reviravolta radical em seus objetivos, o Hamas, o principal grupo terrorista palestino, anunciou ontem que apoiava a criação de um Estado palestino e que aceitaria participar da negociação de uma trégua duradoura com Israel.
A intenção do grupo confessional e terrorista foi expressa por um de seus principais dirigentes, o xeque Hassan Yousef, em entrevistas à Associated Press e ao jornal israelense "Haaretz".
O Hamas foi criado em 1985 e foi vital na primeira Intifada -começada em 1987-, que consistiu em ataques palestinos a objetivos israelenses.
Na Cisjordânia e em Gaza é uma rede filantrópica e assistencial formada em torno das mesquitas. Mas seu braço militar, as clandestinas Brigadas Izzedine Al Qassam, assumiu atentados contra objetivos de Israel.
Foi responsável por uma onda terrorista que, em março de 1996, matou cerca de 60 israelenses e permitiu que, dentro de Israel, o clima de insegurança favorecesse a vitória eleitoral do Likud e a conquista da chefia do governo por Binyamin Netanyahu, favorável ao congelamento de concessões aos palestinos previstas nos Acordos de Oslo.
O Hamas defendia a criação de um Estado islâmico dentro das fronteiras da Palestina dos tempos do protetorado britânico, o que implicava o desaparecimento de fato do Estado de Israel.
Chefe do Hamas na Cisjordânia, Yousef pode não estar sendo sincero. Para alguns, seu grupo quer ganhar tempo para não ficar isolado nas semanas que precedem a eleição, de 9 de janeiro, do sucessor de Iasser Arafat como presidente da Autoridade Nacional Palestina. É ainda possível que o Hamas queira fortalecer a candidatura presidencial de Marwan Barghouti, que, embora líder do Fatah, grupo palestino laico, foi um forte aliado seu na Intifada.
Yousef disse textualmente que "o Hamas aceita a criação de um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967 e [a negociação de] uma trégua de longo prazo [com o Estado de Israel]".
Afirmou se tratar de uma posição "inédita" de seu grupo e que, "para nós, uma trégua significa que os dois lados em guerra possam conviver lado a lado, com segurança e paz, durante determinado período a ser renovado".
O ministro palestino Saeb Erekat disse anteontem que Abu Mazen, chefe interino da OLP, havia notado "mudanças reais" nas posições do Hamas.
Na quarta-feira o Hamas disse que boicotaria a eleição. Mas Yousef disse ontem que ele queria participar da política palestina.
"O Hamas é parte da equação palestina, o que significa que nosso grupo negociará com o outro lado [Israel]", disse Yousef.
Sua declaração coincide com a de Mahmoud Zahar, líder do Hamas em Gaza, para quem negociações de cessar-fogo podem começar na semana que vem "desde que Israel cesse suas agressões contra os palestinos".
Hani Masri, editorialista do jornal palestino "Al Ayyam", disse que o Hamas está enfraquecido financeiramente desde que os EUA e a União Européia o classificaram de grupo terrorista.
Israel tem obtido sucesso na repressão a suas lideranças, como com o atentado que matou o xeque Ahmed Yassin, em março último. Esses fatores, somados à exaustão dos palestinos com sucessivos atentados, põem em risco a sobrevivência do grupo.
Abu Mazen se reunirá na semana que vem, na Síria, com o líder do Hamas, Khaled Mashaal, para a negociação de uma trégua antes das eleições, disseram à Associated Press dirigentes palestinos.


Com agências internacionais


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