São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / SUPERTERÇA

Megavotação mobiliza 24 Estados hoje

McCain deve consolidar candidatura entre governistas, mas indicação na oposição segue incerta entre Hillary e Obama

Sistema republicano facilita concentração, e democrata dispersa; vitória prematura pode prejudicar senador do Arizona ao afastá-lo de foco

Charles Dharapak/Associated Press
McCain (à dir.) recebe apoio do ex-rival Giuliani em Nova Jersey


DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Os EUA abrigam hoje o mais importante evento na temporada de primárias para escolher os concorrentes dos dois principais partidos às eleições presidenciais, em 4 de novembro. Na chamada Superterça, quase metade dos 50 Estados americanos promove suas prévias, no que pode delinear o rumo da corrida eleitoral e sepultar candidaturas.
No campo republicano, a perspectiva é a de que o senador John McCain, do Arizona, confirme seu favoritismo e dê um salto em direção à vaga do partido, sufocando a candidatura dos rivais Mitt Romney e Mike Huckabee. Já entre os democratas, prevêem analistas e pesquisas, a disputa entre Barack Obama e Hillary Clinton deve continuar indefinida.
"Na Superterça pode dar Hillary, pode dar Obama, pode dar empate. Não é possível prever. Tudo indicava, uma semana atrás, que Hillary sairia da Superterça com boa vantagem de delegados [representantes na convenção partidária]. Mas Obama cresceu nas pesquisas desde então e pode até superá-la", disse à Folha Sanford Gordon, analista político da Universidade de Nova York.
Na média das últimas pesquisas nacionais tabuladas pelo site Real Clear Politics, McCain tem 42,8% da preferência dos eleitores contra 24,5% de Romney. Já Hillary abre sobre Obama vantagem de apenas 2,5 pontos percentuais -somente logo depois da prévia em Iowa, vencida pelo senador em 3 de janeiro, o intervalo foi menor, 2,3 pontos, para logo em seguida crescer para até dez pontos.
A imprevisibilidade do campo democrata não está relacionada apenas às pesquisas, mas ao método de contagem de delegados. Em geral, na disputa do Partido Republicano, quem vence em um Estado fatura todo o pacote de delegados. A projeção de vitória de McCain se deve especialmente ao fato de ele ser mais forte nos Estados mais populosos (e, por isso, com mais delegados), como Califórnia e Nova York. No Partido Democrata, o número de delegados em cada Estado é, em geral, fracionado, podendo ser proporcional à vitória em cada condado, por exemplo. É por essa dinâmica peculiar que, mesmo tendo menos votos em Nevada, Barack Obama conquistou no Estado um delegado a mais do que Hillary.
Na véspera da disputa, os candidatos viajaram o país intensificando os ataques contra os rivais. Obama têm lembrado que Hillary, ao contrário dele, votou no Senado a favor da invasão do Iraque. Já ela passou o dia dizendo que o plano para o sistema público de saúde proposto por ele não contempla todos os cidadãos.
Mitt Romney, por sua vez, continua afirmando que John McCain não é conservador o suficiente e votou contra cortes de impostos no governo George W. Bush. McCain, agindo como favorito, levou ao palco alguns dos muitos apoios à sua candidatura, do ex-candidato Rudolph Giuliani ao governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.
"Romney está fazendo o que pode, mas a vitória de McCain na Superterça não dará chance a mais ninguém. É muito provável que ele e Mike Huckabee desistam nos próximos dias", diz Michael P. McDonald, analista político do Instituto Brookings, em Washington.
Para McDonald, essa vitória precoce pode ter pontos negativos para McCain, na disputa contra os democratas. "Hillary e Obama continuarão sob os holofotes, aparecendo o dia todo na TV e recebendo doações de dinheiro. Enquanto isso McCain não será mais notícia. Estar na mídia é importante para vencer aqui, especialmente porque influencia o voto de quem não tem partido."

Metade dos delegados
Os Estados de hoje dão direito a 2.064 do total de 4.049 delegados democratas e a 1.081 dos 2.380 delegados republicanos. Parte desse número -um quarto para os democratas, um oitavo para os republicanos-, contudo, corresponde a superdelegados ou delegados livres, políticos atuantes nos partidos que votam como querem.
A tendência é que muitos deles sigam o vencedor na prévia de seu Estado, mas isso só se saberá na convenção.
Excluídos superdelegados e delegados livres, estão em jogo hoje 41% dos delegados democratas e 39% dos republicanos.


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