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Dividida, Colômbia pede fim de seqüestros
Apesar de divergências sobre como enfrentar violência, milhares de colombianos vão às ruas por libertação de reféns das Farc
Simpatizantes de Uribe, a
maioria, vestiram
cor branca; oposicionistas
usaram preto e condenaram
também os paramilitares
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
JOHANNA CORTÉS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Divididos pelas camisas
brancas e pretas e por divergências sobre como enfrentar o
drama dos seqüestros, centenas de milhares de colombianos saíram ontem às ruas em
protesto contra a manutenção
de reféns pelas Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da
Colômbia).
Os de branco, a grande maioria, eram os partidários da linha
dura contra a guerrilha esquerdista, defendida pelo presidente Álvaro Uribe. Os de preto, os
oposicionistas do governo.
A maior marcha ocorreu em
Bogotá, onde uma multidão lotou o centro da cidade atendendo à convocação iniciada pela
internet há cerca de um mês e
encampada pelos principais
meios de comunicação do país.
Apesar da escolha do branco
como cor oficial, a maior parte
dos cartazes e das camisetas
trazia duras palavras de ordem
contra as Farc, que mantém
cerca de 750 seqüestrados.
"Farsantes, Assassinos, Rufiões, Covardes", lia-se em vários cartazes, com as iniciais
das Farc em destaque.
Uribe x Chávez
Sobrou também para o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e para a senadora oposicionista Piedad Córdoba, que conseguiram as recentes liberações da ex-congressista Consuelo González e da ex-candidata a vice-presidente Clara
Rojas, mas têm sofrido duras
críticas no país por declarações
favoráveis às Farc.
"Sem piedade, sem piedade",
gritava ao meio-dia um grupo
de universitários concentrados
na praça Bolívar, ponto final da
marcha, referindo-se tanto à
senadora quanto às Farc. Também fez sucesso camiseta pedindo: "Chávez go home".
O tom da marcha deixava claro que os manifestantes eram
na sua maioria simpatizantes
de Uribe, cuja popularidade subiu para cerca de 80% nas últimas semanas, em meio ao tiroteio verbal com Chávez.
"Sou a favor do que o presidente Uribe está fazendo, cercando a guerrilha para pressionar a liberação [dos reféns].
Quero que as Farc os soltem
sem condições", diz Johanna
Garzón, 30, professora de direito da Universidade Jorge Tadeo. "E já que Chávez quer tanto a guerrilha, que a leve para a
Venezuela, de presente."
Uribe não apareceu em nenhuma das centenas de marchas realizadas pelo país, mas
fez um pronunciamento elogiando a iniciativa. "Nossa voz
de gratidão a todos os colombianos que hoje expressaram
com dignidade e com fortaleza
a rejeição ao seqüestro e aos seqüestradores", afirmou a jornalistas, em visita à cidade de Valledupar. Também houve manifestações em outras cidades
do mundo (leia ao lado).
Insultos e socos
Pouco antes da chegada da
marcha, por volta das 10h locais, organizações de esquerda,
como o partido oposicionista
Pólo Democrático Alternativo
(PDA), promoveram uma concentração bem menor na mesma praça Bolívar. Em vez de
críticas diretas à guerrilha, predominavam pedidos para um
"acordo humanitário" entre o
governo e as Farc -posição
também defendida pelos familiares dos reféns, que preferiram não participar dos atos.
"Não concordamos com a
marcha porque consideramos
que não temos de estar contra
um ator armado, mas contra todos os atores armados", diz
Osana Medina, da ONG Caminho Pacífica das Mulheres pela
Paz, cujas dezenas de manifestantes portavam camisas negras com os dizeres: "Nenhuma
guerra em meu nome".
A presença dos dois grupos
na praça teve um momento de
tensão quando jovens de ambos os lados começaram a se insultar. "Chávez terrorista, entre na lista", "Uribe, amigo, o
povo está contigo", gritavam os
de camisa branca, em maior
número, contra os de camisa
negra, que respondiam: "Uribe,
paraco [paramilitar], o povo está cansado". A troca de insultos
terminou em socos e garrafas
voando, mas a confusão foi rapidamente encerrada por cerca
de dez policiais, que criaram
um cordão de isolamento.
"Aqui, há muitos sentimentos encontrados", afirma Daniel Garcia-Peña, ex-guerrilheiro do M-19 e um dos principais dirigentes do PDA. "Infelizmente, quando falam de "não
mais Farc", o que defendem é
acabar com a guerrilha a chumbo. Já temos mais de 50 anos
tentando fazer isso, mas a única
coisa que aconteceu foi segregar o país inteiro. Portanto, não
pensamos que se dará a liberação fazendo mais guerra."
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