São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

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Dividida, Colômbia pede fim de seqüestros

Apesar de divergências sobre como enfrentar violência, milhares de colombianos vão às ruas por libertação de reféns das Farc

Simpatizantes de Uribe, a maioria, vestiram cor branca; oposicionistas usaram preto e condenaram também os paramilitares

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

JOHANNA CORTÉS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Divididos pelas camisas brancas e pretas e por divergências sobre como enfrentar o drama dos seqüestros, centenas de milhares de colombianos saíram ontem às ruas em protesto contra a manutenção de reféns pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Os de branco, a grande maioria, eram os partidários da linha dura contra a guerrilha esquerdista, defendida pelo presidente Álvaro Uribe. Os de preto, os oposicionistas do governo.
A maior marcha ocorreu em Bogotá, onde uma multidão lotou o centro da cidade atendendo à convocação iniciada pela internet há cerca de um mês e encampada pelos principais meios de comunicação do país.
Apesar da escolha do branco como cor oficial, a maior parte dos cartazes e das camisetas trazia duras palavras de ordem contra as Farc, que mantém cerca de 750 seqüestrados. "Farsantes, Assassinos, Rufiões, Covardes", lia-se em vários cartazes, com as iniciais das Farc em destaque.

Uribe x Chávez
Sobrou também para o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e para a senadora oposicionista Piedad Córdoba, que conseguiram as recentes liberações da ex-congressista Consuelo González e da ex-candidata a vice-presidente Clara Rojas, mas têm sofrido duras críticas no país por declarações favoráveis às Farc.
"Sem piedade, sem piedade", gritava ao meio-dia um grupo de universitários concentrados na praça Bolívar, ponto final da marcha, referindo-se tanto à senadora quanto às Farc. Também fez sucesso camiseta pedindo: "Chávez go home".
O tom da marcha deixava claro que os manifestantes eram na sua maioria simpatizantes de Uribe, cuja popularidade subiu para cerca de 80% nas últimas semanas, em meio ao tiroteio verbal com Chávez.
"Sou a favor do que o presidente Uribe está fazendo, cercando a guerrilha para pressionar a liberação [dos reféns]. Quero que as Farc os soltem sem condições", diz Johanna Garzón, 30, professora de direito da Universidade Jorge Tadeo. "E já que Chávez quer tanto a guerrilha, que a leve para a Venezuela, de presente."
Uribe não apareceu em nenhuma das centenas de marchas realizadas pelo país, mas fez um pronunciamento elogiando a iniciativa. "Nossa voz de gratidão a todos os colombianos que hoje expressaram com dignidade e com fortaleza a rejeição ao seqüestro e aos seqüestradores", afirmou a jornalistas, em visita à cidade de Valledupar. Também houve manifestações em outras cidades do mundo (leia ao lado).

Insultos e socos
Pouco antes da chegada da marcha, por volta das 10h locais, organizações de esquerda, como o partido oposicionista Pólo Democrático Alternativo (PDA), promoveram uma concentração bem menor na mesma praça Bolívar. Em vez de críticas diretas à guerrilha, predominavam pedidos para um "acordo humanitário" entre o governo e as Farc -posição também defendida pelos familiares dos reféns, que preferiram não participar dos atos.
"Não concordamos com a marcha porque consideramos que não temos de estar contra um ator armado, mas contra todos os atores armados", diz Osana Medina, da ONG Caminho Pacífica das Mulheres pela Paz, cujas dezenas de manifestantes portavam camisas negras com os dizeres: "Nenhuma guerra em meu nome".
A presença dos dois grupos na praça teve um momento de tensão quando jovens de ambos os lados começaram a se insultar. "Chávez terrorista, entre na lista", "Uribe, amigo, o povo está contigo", gritavam os de camisa branca, em maior número, contra os de camisa negra, que respondiam: "Uribe, paraco [paramilitar], o povo está cansado". A troca de insultos terminou em socos e garrafas voando, mas a confusão foi rapidamente encerrada por cerca de dez policiais, que criaram um cordão de isolamento.
"Aqui, há muitos sentimentos encontrados", afirma Daniel Garcia-Peña, ex-guerrilheiro do M-19 e um dos principais dirigentes do PDA. "Infelizmente, quando falam de "não mais Farc", o que defendem é acabar com a guerrilha a chumbo. Já temos mais de 50 anos tentando fazer isso, mas a única coisa que aconteceu foi segregar o país inteiro. Portanto, não pensamos que se dará a liberação fazendo mais guerra."


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