São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

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Embaixador dos EUA é cético sobre diálogo com Teerã

José Varella/Folha Imagem
O embaixador Thomas Shannon, antes de encontro com Lula

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O novo embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, disse ontem, após apresentar credenciais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é "uma coisa boa o Brasil ter um canal direto para se comunicar com o Irã", mas se mostrou cético quanto aos resultados dessa investida diplomática.
"A questão é saber se o Irã tem o mesmo interesse pelo diálogo. Até este momento, parece que não. E é importante que os países interessados em procurar uma solução tenham de medir suas ações e avaliar se elas se baseiam em resultados."
"Todos os países, inclusive os EUA, têm que medir a eficácia de sua diplomacia pelos resultados, e não só pelos processos. Todos os países estão buscando uma maneira de começar o diálogo, a aproximação e o engajamento com o Irã", disse ele, qualificando a situação do país como "complicada e difícil".
Segundo Shannon, o Brasil está liberado para agir como bem entender. "Como país soberano, não precisa de alguma licença ou permissão para atuar de uma maneira compatível com os seus interesses nacionais. Vamos respeitar as decisões tomadas pelo governo do Brasil", disse ele.
Refletindo a posição de Washington, disse que "o Brasil teve um papel importante, como poucos países no mundo, em comunicar ao Irã as preocupações da comunidade internacional a respeito do seu programa nuclear e, especialmente, da falta de transparência também sobre direitos humanos".

Venezuela e Honduras
Shannon advertiu o governo do presidente Hugo Chávez na Venezuela, que é aliado do Irã e igualmente "vive um momento difícil": "A nossa mensagem ao governo venezuelano é não reprimir, mas abrir espaço e ouvir o povo venezuelano".
Disse que os EUA "têm esperanças" de que as Américas, inclusive o Brasil, reconheçam o novo presidente de Honduras, Porfírio "Pepe" Lobo em reunião no México neste mês.
EUA e Brasil se uniram na condenação ao golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya, mas discordaram quanto à legitimidade das eleições.
Segundo Shannon -que, ainda na condição de número um do Departamento de Estado americano para o hemisfério Ocidental, patrocinou o acordo assinado em outubro entre Zelaya e o governo golpista, que depois acabou não sendo integralmente cumprido-, as eleições foram o "maior feito" em Honduras e precisam ser analisadas "em fatos, não em retórica ou ideologias".
No caso do Haiti, onde os EUA assumiram o controle do aeroporto e do espaço aéreo e assim incomodaram o Brasil, Shannon disse que o ambiente depois do terremoto era nervoso, exigia ações rápidas de várias partes do mundo e essas coisas são normais.
O importante, disse, é que, "desde 1965 [segundo ano da ditadura militar brasileira], nunca estivemos trabalhando tão juntos como na Minustah [força de paz da ONU comandada pelo Brasil]".
Apesar da lista de divergências entre Brasil e EUA, Shannon disse que as relações não podem se pautar em questões pontuais.
"O presidente Obama e a secretária de Estado, Hillary Clinton, têm uma visão mais ampla, mais estratégica, mais geopolítica, da importância do Brasil não apenas como parceiro bilateral, mas também global", disse ele, que já discute a melhor data para a vinda tanto do presidente quanto da secretária ao Brasil, possivelmente ainda neste semestre.


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