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Embaixador dos EUA é cético sobre diálogo com Teerã
José Varella/Folha Imagem
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O embaixador Thomas Shannon, antes de encontro com Lula
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O novo embaixador dos EUA
no Brasil, Thomas Shannon,
disse ontem, após apresentar
credenciais ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que é "uma
coisa boa o Brasil ter um canal
direto para se comunicar com o
Irã", mas se mostrou cético
quanto aos resultados dessa investida diplomática.
"A questão é saber se o Irã
tem o mesmo interesse pelo
diálogo. Até este momento, parece que não. E é importante
que os países interessados em
procurar uma solução tenham
de medir suas ações e avaliar se
elas se baseiam em resultados."
"Todos os países, inclusive os
EUA, têm que medir a eficácia
de sua diplomacia pelos resultados, e não só pelos processos.
Todos os países estão buscando
uma maneira de começar o diálogo, a aproximação e o engajamento com o Irã", disse ele,
qualificando a situação do país
como "complicada e difícil".
Segundo Shannon, o Brasil
está liberado para agir como
bem entender. "Como país soberano, não precisa de alguma
licença ou permissão para
atuar de uma maneira compatível com os seus interesses nacionais. Vamos respeitar as decisões tomadas pelo governo do
Brasil", disse ele.
Refletindo a posição de Washington, disse que "o Brasil teve um papel importante, como
poucos países no mundo, em
comunicar ao Irã as preocupações da comunidade internacional a respeito do seu programa nuclear e, especialmente,
da falta de transparência também sobre direitos humanos".
Venezuela e Honduras
Shannon advertiu o governo
do presidente Hugo Chávez na
Venezuela, que é aliado do Irã e
igualmente "vive um momento
difícil": "A nossa mensagem ao
governo venezuelano é não reprimir, mas abrir espaço e ouvir o povo venezuelano".
Disse que os EUA "têm esperanças" de que as Américas, inclusive o Brasil, reconheçam o
novo presidente de Honduras,
Porfírio "Pepe" Lobo em reunião no México neste mês.
EUA e Brasil se uniram na
condenação ao golpe de Estado
contra o presidente Manuel Zelaya, mas discordaram quanto à
legitimidade das eleições.
Segundo Shannon -que, ainda na condição de número um
do Departamento de Estado
americano para o hemisfério
Ocidental, patrocinou o acordo
assinado em outubro entre Zelaya e o governo golpista, que
depois acabou não sendo integralmente cumprido-, as eleições foram o "maior feito" em
Honduras e precisam ser analisadas "em fatos, não em retórica ou ideologias".
No caso do Haiti, onde os
EUA assumiram o controle do
aeroporto e do espaço aéreo e
assim incomodaram o Brasil,
Shannon disse que o ambiente
depois do terremoto era nervoso, exigia ações rápidas de várias partes do mundo e essas
coisas são normais.
O importante, disse, é que,
"desde 1965 [segundo ano da
ditadura militar brasileira],
nunca estivemos trabalhando
tão juntos como na Minustah
[força de paz da ONU comandada pelo Brasil]".
Apesar da lista de divergências entre Brasil e EUA, Shannon disse que as relações não
podem se pautar em questões
pontuais.
"O presidente Obama e a secretária de Estado, Hillary
Clinton, têm uma visão mais
ampla, mais estratégica, mais
geopolítica, da importância do
Brasil não apenas como parceiro bilateral, mas também global", disse ele, que já discute a
melhor data para a vinda tanto
do presidente quanto da secretária ao Brasil, possivelmente
ainda neste semestre.
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