São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

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Movimento "Tea Party" busca inspirar Partido Republicano

Conservadores, que fazem convenção no Tennessee, querem livrar oposição de moderados

Radicalização, no entanto, pode acabar se voltando contra partido opositor nas urnas, já que independentes tendem a se alinhar ao centro

ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A NASHVILLE (EUA)

Quando perdeu seu emprego em uma empresa do ramo audiovisual em agosto último, a americana Kathy Boatman, 47, viu um lado positivo: poderia ajudar a impedir a "tomada socialista" que crê que o presidente Barack Obama planeja para o país. E a autointitulada "teapublicana" -republicana militante do movimento conservador "Tea Party"- já tem o caminho para isso: "limpar" o partido de oposição nos EUA dos moderados.
Com esse objetivo, Boatman deixou ontem o subúrbio de Phoenix (Arizona) onde vive e chegou a Nashville (Tennessee) para participar da primeira Convenção Nacional do Movimento "Tea Party" -o nome é referência à Festa do Chá de Boston, protesto antitaxação no século 18. O evento começou ontem e vai até sábado.
"Há muita gente desencantada com os partidos", disse ela à Folha. "Mas vamos trabalhar de dentro do Partido Republicano para trazer de volta os valores conservadores. Queremos respeito à Constituição, governo limitado, responsabilidade fiscal e pessoal."
Sua receita, porém, está longe da unanimidade. Entre as florestas artificiais e o luxo desavergonhado do hotel que sedia a convenção, repórteres e participantes do movimento não param de discutir este que promete ser o maior dilema da oposição: o "Tea Party", que vem se tornando a mais ruidosa oposição ao governo Obama, ajudará o Partido Republicano ou o afundará de vez?
"A base republicana é formada por conservadores, mas essa não é a fórmula para ganhar eleições", disse à Folha o analista político Thomas Mann, do Instituto Brookings. E enquanto o movimento já é mais bem avaliado do que os partidos Republicano e Democrata, o Instituto Pew de Pesquisas alerta que, historicamente, independentes e indecisos -que poderão fazer a diferença nas eleições legislativas de novembro- são atraídos pelo centro e não por extremistas.
Boa parte dos ativistas, porém, prefere ignorar as tendências. Jeffrey McQueen é um deles. Como Boatman, ele perdeu o emprego em 2009 e passou a apoiar a rede de conservadores.
"Sempre tivemos esse campo de batalha com republicanos de um lado e democratas do outro", disse ele à Folha. "O movimento "Tea Party" chega para reunificar o país. As lideranças estão apavoradas porque as pessoas estão começando a pensar como americanos em vez de republicanos ou democratas pela primeira vez."
Apavorado ou não, o Partido Republicano já deu mostras abertas de cisma. No dia 29, a proposta de defensores do "Tea Party" de criar um teste para a "pureza" dos políticos do partido provocou discussões ásperas em encontro do partido.
Pela proposta do republicano James Bopp, quem não concordasse com ao menos 8 de 10 mantras conservadores (como direito de portar armas e oposição ao casamento gay) não teria apoio financeiro da legenda.
Ao final, um texto mais leve foi aprovado. Não haverá teste de dez pontos, mas comitês deverão examinar histórico de votos de candidatos antes de oferecerem financiamento.


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