São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

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VENEZUELA

Ex-chavista, diplomata acusa o governo de violar os direitos humanos; governistas o chamam de hipócrita

Embaixador na ONU renuncia e ataca Chávez

Juan Barreto - 3.mar.2004/France Presse
Oposicionista escorrega após chutar bomba de gás durante protesto anteontem em Caracas


DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, sofreu um duro golpe ontem com a renúncia de seu embaixador na ONU, Milos Alcalay. O diplomata afirmou que não pode compactuar com um governo que tem violado os direitos humanos e feito ameaças à democracia, além de colocar uma série de entraves à convocação de um referendo sobre a manutenção do presidente no cargo.
Alcalay, um diplomata de carreira que representa o seu país há 30 anos, até ontem não havia demonstrado nenhuma discordância em relação a Chávez.
O embaixador disse na sua carta de renúncia enviada ao chanceler venezuelano, Jesus Arnaldo Pérez, que se guia por princípios de proteção dos direitos humanos, de transparência democrática e de apoio a um diálogo aberto na diplomacia internacional.
"Lamentavelmente, a Venezuela está operando à margem desses princípios fundamentais, com os quais mantenho o meu compromisso. Por causa disso, é com o coração partido que renuncio ao meu posto", afirmou.
Alcalay disse que decidiu renunciar ao seu posto só agora porque Pérez, que recentemente se tornou chanceler, disse que todos os diplomatas devem seguir o "processo revolucionário" de Chávez, e não apenas defender uma política de Estado.
Até o fechamento desta edição, não havia uma resposta oficial do governo à renúncia. Porém o chavista Tarek William Saab, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento, disse que a decisão de Alcalay foi hipócrita. "Alcalay parece um hipócrita porque todos se lembram dele como um apologista e defensor, em termos extremos, da política externa do governo Chávez."
A decisão de Alcalay foi tomada em meio a mais uma onda de protestos e de violência na Venezuela. A oposição está se manifestando contra a decisão do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) de considerar válidas apenas 1,8 milhão de um total de mais de 3 milhões de assinaturas recolhidas para a convocação de um referendo sobre o mandato de Chávez. A Constituição prevê um mínimo de 2,4 milhões. O CNE, de maioria chavista, exige que ao menos 600 mil pessoas confirmem as suas assinaturas em um processo previsto para ocorrer entre os dias 18 e 22.
Após o fim da coleta das assinaturas, em dezembro, a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o Centro Carter-que atuam como observadores independentes- disseram não ter visto irregularidades no processo conduzido pela oposição e pediram que o CNE não se apegasse a tecnicalidades.
Para os dois órgãos, a melhor saída no momento é a oposição se mobilizar para a confirmação das assinaturas do referendo. Os opositores moderados são a favor de seguir adiante. Já os mais radicais dizem que Chávez irá minar todas as iniciativas deles e defendem mais protestos de rua.
Uma mulher de 50 anos morreu ontem após soldados lançarem gás lacrimogêneo contra opositores de Chávez na cidade de Machiques -oito pessoas já morreram nas manifestações da última semana no país. Os opositores organizarão uma grande manifestação no país amanhã.

Com agências internacionais


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