São Paulo, sábado, 05 de março de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Jornalista italiana ia ao aeroporto após um mês de seqüestro; americanos dizem que tentaram parar carro

EUA abrem fogo contra refém libertada

DA REDAÇÃO

A jornalista italiana Giuliana Sgrena, 57, foi libertada ontem no Iraque após um mês de seqüestro, mas o momento de alívio acabou quando forças dos EUA atiraram contra o carro que a levava ao aeroporto em Bagdá. Um agente da inteligência italiana morreu, e Sgrena foi ferida no ombro.
Sgrena, repórter do jornal de esquerda "Il Manifesto", estava em um carro com três agentes da inteligência italiana a caminho do aeroporto, de onde seguiria para Roma. Em uma barreira na estrada, um veículo blindado dos EUA abriu fogo contra o carro.
O editor do "Il Manifesto", Gabriele Polo, afirmou que o agente morreu quando se jogou sobre Sgrena para protegê-la dos tiros. Os outros dois agentes ficaram feridos. Sgrena foi levada a um hospital em Bagdá, onde faria uma operação para retirar estilhaços de seu ombro.
O premiê italiano, Silvio Berlusconi, aliado de George W. Bush, pediu explicação aos EUA. "Como o fogo veio das forças americanas, eu decidi chamar o embaixador americano imediatamente. Acho que devemos ter uma explicação sobre um incidente tão sério, pelo qual alguém tem de ser responsabilizado." A Itália enviou 3.000 homens ao Iraque.
Em telefonema a Berlusconi, Bush expressou pesar pelo incidente, segundo o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. "O presidente assegurou que seria amplamente investigado. Estamos cooperando com as autoridades italianas", disse.
"Forças multinacionais atiraram em um veículo que se aproximava de um posto de controle em Bagdá em alta velocidade", afirmou um porta-voz do Departamento da Defesa, Bryan Whitman. Em uma declaração da Terceira Divisão de Infantaria do Exército em Bagdá, militares americanos afirmam que soldados dos EUA tentaram avisar os ocupantes do carro para que parassem, mas o veículo não diminuiu a velocidade. Eles então teriam atirado no motor, o que fez com que o carro parasse, causando a morte do agente.
"Essa notícia, que deveria ser um momento de celebração, foi arruinada por esses tiros", disse Polo à TV Sky Italia. "Um agente italiano foi morto por uma bala americana. Uma demonstração trágica, que nunca quisemos, de que tudo o que está acontecendo no Iraque é sem lógica e maluco."
O presidente italiano, Carlo Azeglio Ciampi, mandou suas condolências à família do agente da inteligência morto, identificado como Nicola Calipari. Ele teria liderado as negociações para soltar Sgrena.

Julgamento
Um ministro italiano concordou em ser testemunha da defesa no julgamento de Tariq Aziz, que foi vice-premiê e chanceler do Iraque durante o governo do ditador Saddam Hussein.
"Os advogados dele me ligaram, e eu disse sim", afirmou Rocco Buttiglione, ministro dos Assuntos Europeus, segundo o jornal "La Repubblica". Outro jornal italiano, o "Corriere della Sera", citou um porta-voz de Buttiglione afirmando que ele "se dispôs a testemunhar sobre o papel moderado que Tariq Aziz teve em relação a Saddam Hussein". O gabinete do ministro ainda não confirmou a informação.

Outros ataques
Um soldado búlgaro foi morto a tiros ontem na região central do Iraque. Insurgentes mataram também o chefe de polícia de Budayr. Um carro-bomba em Baquba deixou um morto. Três insurgentes foram mortos em conflito com tropas dos EUA em Baghdadi. Em Wihda, moradores atacaram um grupo de insurgentes, matando sete. Eles supostamente planejavam atacar a cidade.


Com agências internacionais


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