São Paulo, domingo, 05 de março de 2006

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GUERRA SEM LIMITES

Presidente visita o ditador Musharraf, elogia seu empenho e não o pressiona por mais democracia

Bush afaga Paquistão por guerra ao terror

DA REDAÇÃO

O presidente George W. Bush disse ontem estar convencido da determinação do Paquistão no combate ao terrorismo islâmico.
Em sua curta passagem por aquele país, ele evitou criticar o ditador Pervez Musharraf por não ter conseguido desmantelar os campos de treinamento da Al Qaeda, existentes possivelmente na fronteira com o Afeganistão. E não fez declarações contundentes em favor da democracia para não constranger seu anfitrião.
Referindo-se ao terrorismo, afirmou que "venceremos juntos essa luta". Disse também que, "embora tenhamos muitas tarefas a cumprir, é importante que prossigamos na caça", menção às bases terroristas que talvez abriguem Osama bin Laden.
Apesar da ditadura existente -Musharraf é um general que se amparou do poder num golpe de Estado em 1999- Bush acredita, diz a Reuters, que o governante tem favorecido um contorno tolerante e moderado ao seu país.
Procurando não colocar seu anfitrião numa posição incômoda -eles conversaram a portas fechadas por 60 minutos, em Islamabad-, o presidente americano exprimiu o desejo de que as eleições marcadas para o ano que vem sejam "abertas e honestas". Disse também acreditar "que a democracia seja o futuro do Paquistão", sem, no entanto, aprofundar na questão.
Musharraf, que também participou da entrevista coletiva, defendeu os avanços que promoveu na abertura de seu regime, citando a existência de uma imprensa mais livre, de um Parlamento eleito e o fato de as mulheres terem hoje mais direitos.
Enquanto Bush ainda se encontrava no país, o governo determinou a prisão de Imran Khan, líder de um pequeno partido de oposição e bastante popular por ter sido treinador de um time de críquete. Khan qualificou Musharraf de "escravo dos americanos".
Durante a tarde, nos jardins da embaixada americana, Bush deixou que os fotógrafos registrassem sua primeira tentativa no críquete, um esporte popular no Paquistão, ex-colônia britânica.
Bush também se esforçou para, a partir de Islamabad, capital de um Estado islâmico, atrair as simpatias do mundo muçulmano. Mencionou a assistência do governo americano nas operações pelas vítimas do terremoto de outubro último, que matou 86 mil pessoas e deixou outras 2 milhões desabrigadas. "Estamos orgulhosos por ajudá-los", afirmou, ao visitar viúvas e órfãos do terremoto.
Seu gesto coincide com um forte sentimento anti-Estados Unidos entre os paquistaneses, em razão da presença militar americana no Iraque.
As medidas de segurança durante a visita de Bush foram draconianas. Na véspera de sua chegada um atentado matou um diplomata americano em Karachi. Três helicópteros protegiam o automóvel do presidente americano quando ele deixou a fortaleza da Embaixada de seu país para se dirigir ao palácio presidencial.
Indagado se favoreceria o Paquistão com tecnologia nuclear semelhante à que prometeu à Índia -país que visitou nos três dias precedentes-, Bush disse não ser o caso, porque os dois países "têm histórias diferentes".
O Paquistão, a exemplo da Índia, tem a bomba atômica. Mas seu papel na proliferação nuclear tem sido bem mais vergonhoso, em razão da descoberta, há dois anos, de que o chefe de seus cientistas nucleares, A.Q. Khan, era também, paralelamente, o líder de uma rede mundial de tráfico de componentes para reatores e enriquecimento de urânio.
Bush não fez objeções ao projeto de construção de um gasoduto que permitiria à Índia e ao Paquistão receber o combustível do Irã. "Nosso problema com o Irã não é o gasoduto, mas seus planos de desenvolver armas atômicas."
O presidente americano embarcou de volta a Washington depois de um jantar de gala no palácio.


Com agências internacionais


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