São Paulo, quinta-feira, 05 de março de 2009

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memória

Disputa por terra arável gerou conflito

CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO

O conflito em Darfur opõe grupos rebeldes da região e milícias nômades Janjaweed, ligadas ao governo, que disputam as escassas terras férteis. Em 2003, três povos locais insurgiram-se contra o governo, desencadeando uma brutal campanha de repressão, com apoio dos Janjaweed, grupo de língua árabe.
Os Janjaweed expropriaram as terras das comunidades locais, forçando o deslocamento de mais de 2 milhões de aldeões -5% da população sudanesa-, muitos refugiados no Chade. Cerca de 300 mil pessoas morreram no conflito.
O fluxo de refugiados agravou tensões com o Chade, que acusa os milicianos de apoiarem insurgentes no país e de atacarem aldeias na fronteira. O ditador do Chade, Idriss Déby, é de etnia zaghawa -um dos povos rebelados em Darfur. Um conflito internacional aberto, porém, poderia ser fatal para os dois governos, desgastados por lutas internas.
Os principais grupos rebeldes de Darfur, o Exército de Libertação do Sudão (ELS) e o Movimento Justiça e Igualdade (MJI) estão cindidos em várias facções, minando sucessivas iniciativas de paz.
A despeito das iniciativas de paz e da presença de Unamid, missão da ONU e da União Africana, os conflitos persistem. "Não se pode falar em "processo de paz" em Darfur", diz Reed Brody, da Human Rights Watch. "A guerra dura seis anos e recrudesceu nos últimos meses."
Alinhadas no combate a Cartum, o ELS e o MJI têm origens distintas e mantêm sua própria identidade e ideologia.
O ELS surgiu no final dos anos 80, recrutando milícias de autodefesa que reagiam ao crescente assédio de nômades às terras comunitárias, durante a seca que varria o Sudão e o Chifre da África. Desde então, o índice pluviométrico na região caiu 40%, agravando as disputas por recursos, segundo a ONU.
Islamista, o MJI surgiu de disputas internas do governo, com a deserção de Hassan al Turabi, líder da Frente Nacional Islâmica, que apoiara o golpe de Bashir em 1989. Turabi e seus partidários, sobretudo muçulmanos do sul, foram ostracizados em 1999, após apoiarem uma lei que reduzia os poderes da Presidência. Eles acusam os árabes de monopolizarem a riqueza.
Cartum afirma não ter controle sobre os milicianos Janjaweed, armados e treinados pelo regime. O líder da milícia, acusado de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, está preso no Sudão, que não reconhece a autoridade do Tribunal Penal Internacional.


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