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Brasileiro localiza filha 5 dias após tremor
JOÃO WAINER
ENVIADO ESPECIAL A CONSTITUCIÓN
GABRIELA MANZINI
DA REDAÇÃO
Nos últimos cinco dias, Sandro Gilioli Penha, 42, viveu a
angústia de não saber o paradeiro da filha Joyce, 7, que mora com a mãe em Constitución,
no Chile. Pela mídia, ele descobriu que a cidade foi uma das
mais afetadas pelo tremor de
magnitude 8,8 que devastou o
país no sábado passado e pelo
tsunami que o seguiu. Foi só
ontem, cinco dias depois da tragédia, que o homem, morador
de Ribeirão Preto (SP), cidade
em que a menina nasceu, teve a
confirmação de que ela estava
bem. "Agora estou respirando."
A notícia veio pelo funcionário da empresa de um amigo,
com sede em Santiago, cujos
parentes moram em Constitución. Ontem, a Folha também
foi visitar a brasileira.
Joyce dormia ao lado da mãe
quando o tremor ocorreu. Parte da parede do quarto em que
estavam desabou, mas para o
lado de fora. "As coisas começaram a cair, os armários, as
louças. Era um barulho forte,
pensamos que íamos morrer",
disse a mãe, a chilena Joice Elisabeth Albertz Navarro.
Ela contou que quis vestir
Joyce antes de fugir, mas, percebendo a intensidade do tremor, decidiu que as duas correriam de pijama mesmo pela
rua. Durante a fuga, relata, o
chão balançava como uma onda, e era difícil ficar de pé. O
que as duas queriam era chegar
a um morro, onde ficariam a
salvo do tsunami. A onda chegou até cerca de duas quadras
de distância da casa.
Em meio à devastação, a família teve como único prejuízo
o soterramento da sua camionete SsangYong Musso, em um
estacionamento vizinho.
Mesmo assim, a situação está
longe da tranquilidade. A mãe
denuncia que os saques às lojas
das proximidades começaram
apenas algumas horas depois
do terremoto. "Eles roubavam,
levavam tudo embora e depois
voltavam para roubar mais e
mais. Nos trancamos em casa e
ficamos entre o medo do saque
e o de novos tremores. Foi horrível." Agora, eles precisam
conviver também com a falta
de energia elétrica, água e telefone. "Temos dinheiro, mas isso não adianta nada aqui, não
temos onde comprar as coisas
de que precisamos e não podemos mais trabalhar", afirmou.
O pai, que acompanhou a
mudança da ex-mulher e da filha para o Chile, em 2008, costuma visitar a menina no Natal.
Neste ano, ele deve adiantar a
ida e levar a namorada, Jane
Camilo, 31, que ainda não conheceu Joyce pessoalmente.
"Você não sabe o alívio que a
gente está sentindo. Era tudo
que a gente precisava saber.
Que está tudo bem, que a casa
não foi atingida, não perderam
nada. Olha como Deus é bom",
disse Jane.
Mas Joyce não saiu totalmente ilesa do terremoto. Segundo a mãe, a garota está
traumatizada e sem remédio
para tratar uma alergia. "Desde
o terremoto ela não sai de perto de mim, fala pouco e, depois
que anoitece, me abraça e não
solta mais. Ela pergunta do pai
e diz que quer voltar ao Brasil,
pois lá não tem essas coisas."
Como os familiares, ela enfrenta racionamento de comida e água. "Queremos voltar
[ao Brasil], mas nossa vida está
aqui, não podemos simplesmente trancar a porta e deixar
tudo para trás", diz a mãe.
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