São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2010

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Brasileiro localiza filha 5 dias após tremor

JOÃO WAINER
ENVIADO ESPECIAL A CONSTITUCIÓN
GABRIELA MANZINI
DA REDAÇÃO

Nos últimos cinco dias, Sandro Gilioli Penha, 42, viveu a angústia de não saber o paradeiro da filha Joyce, 7, que mora com a mãe em Constitución, no Chile. Pela mídia, ele descobriu que a cidade foi uma das mais afetadas pelo tremor de magnitude 8,8 que devastou o país no sábado passado e pelo tsunami que o seguiu. Foi só ontem, cinco dias depois da tragédia, que o homem, morador de Ribeirão Preto (SP), cidade em que a menina nasceu, teve a confirmação de que ela estava bem. "Agora estou respirando."
A notícia veio pelo funcionário da empresa de um amigo, com sede em Santiago, cujos parentes moram em Constitución. Ontem, a Folha também foi visitar a brasileira.
Joyce dormia ao lado da mãe quando o tremor ocorreu. Parte da parede do quarto em que estavam desabou, mas para o lado de fora. "As coisas começaram a cair, os armários, as louças. Era um barulho forte, pensamos que íamos morrer", disse a mãe, a chilena Joice Elisabeth Albertz Navarro.
Ela contou que quis vestir Joyce antes de fugir, mas, percebendo a intensidade do tremor, decidiu que as duas correriam de pijama mesmo pela rua. Durante a fuga, relata, o chão balançava como uma onda, e era difícil ficar de pé. O que as duas queriam era chegar a um morro, onde ficariam a salvo do tsunami. A onda chegou até cerca de duas quadras de distância da casa.
Em meio à devastação, a família teve como único prejuízo o soterramento da sua camionete SsangYong Musso, em um estacionamento vizinho.
Mesmo assim, a situação está longe da tranquilidade. A mãe denuncia que os saques às lojas das proximidades começaram apenas algumas horas depois do terremoto. "Eles roubavam, levavam tudo embora e depois voltavam para roubar mais e mais. Nos trancamos em casa e ficamos entre o medo do saque e o de novos tremores. Foi horrível." Agora, eles precisam conviver também com a falta de energia elétrica, água e telefone. "Temos dinheiro, mas isso não adianta nada aqui, não temos onde comprar as coisas de que precisamos e não podemos mais trabalhar", afirmou.
O pai, que acompanhou a mudança da ex-mulher e da filha para o Chile, em 2008, costuma visitar a menina no Natal. Neste ano, ele deve adiantar a ida e levar a namorada, Jane Camilo, 31, que ainda não conheceu Joyce pessoalmente. "Você não sabe o alívio que a gente está sentindo. Era tudo que a gente precisava saber. Que está tudo bem, que a casa não foi atingida, não perderam nada. Olha como Deus é bom", disse Jane.
Mas Joyce não saiu totalmente ilesa do terremoto. Segundo a mãe, a garota está traumatizada e sem remédio para tratar uma alergia. "Desde o terremoto ela não sai de perto de mim, fala pouco e, depois que anoitece, me abraça e não solta mais. Ela pergunta do pai e diz que quer voltar ao Brasil, pois lá não tem essas coisas."
Como os familiares, ela enfrenta racionamento de comida e água. "Queremos voltar [ao Brasil], mas nossa vida está aqui, não podemos simplesmente trancar a porta e deixar tudo para trás", diz a mãe.


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