São Paulo, sábado, 05 de março de 2011

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FOCO

Americanos e líbios vêm se estranhando desde 1801

BRUNO TORANZO
DE SÃO PAULO

As sanções aplicadas pelos EUA à Líbia, além da ameaça do uso da força na região, fazem parte de mais um capítulo da história conturbada entre os dois países.
Em 1801, os americanos, um quarto de século após conquistarem sua independência, entraram em guerra com o reino de Trípoli, hoje a capital da Líbia.
"A primeira incursão militar externa da história dos EUA foi contra os piratas da Berbéria no começo do século 19", diz o sociólogo Demétrio Magnoli.
O norte da África, região conhecida como Magreb, era chamado de Berbéria antes da ocupação europeia.
A Berbéria era formada pelos pequenos reinos de Argel, Túnis, Marrocos e Trípoli, região banhada pelo mar Mediterrâneo, uma posição estratégica, já que o comércio mundial passava por ali.
"Os portos de Darnah e Benghazi, como são para a Líbia, eram importantes para o reino de Trípoli", diz o professor de sociologia da USP Fernando Augusto Mourão.
Os berberes mantinham a autonomia, mas tinham obrigações com o Império Otomano, como o pagamento de uma espécie de tributo.
Para isso, cobravam dos europeus e americanos quantia considerável para fazer a segurança dos navios.
Os piratas da Berbéria representavam uma ameaça para os navegadores. Eles contavam com o apoio, mantido em segredo, dos paxás -os que ocupavam cargo de alto escalão no Império Otomano- dos quatro reinos.
Dessa forma, os paxás ganhavam em dois momentos: nos assaltos feitos pelos piratas e na cobrança para fazer a segurança dos países.
"Os europeus discordavam dessa situação. Não declaravam guerra porque estavam acostumados a combater as forças de um Estado formal, o que não existia na região, formada por poderes locais", analisou Magnoli.
Os EUA, recém-integrados ao comércio, fizeram, no início, como a Europa. Quando o paxá de Trípoli, Yusuf Karamanli, decidiu cobrar mais de US$ 220 mil em 1801, o primeiro ano de Thomas Jefferson na Presidência, os americanos se negaram a pagar.
Karamanli surpreendeu e declarou guerra. Jefferson, com o apoio do Congresso, respondeu com o envio de fragatas para a região.
Do lado americano, o saldo foi de 35 mortos e 64 feridos. Do lado de Trípoli, foram 800 mortos e 1.200 feridos.
Dois acontecimentos marcaram o confronto. O primeiro ocorreu em 1803, quando os combatentes capturaram uma das embarcações mais modernas da Marinha americana, a fragata Filadélfia.
Já o segundo resultou na vitória americana. Os americanos, com a participação de mercenários, usaram a cidade egípcia de Alexandria para entrar em Darnah, parte do reino de Trípoli.
No dia 4 de junho de 1805, o paxá assinou, a contragosto, um acordo que determinou o fim das hostilidades.


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