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Reforma agrária polêmica volta à cena no Zimbábue
Em provável segundo turno, Mugabe centrará campanha nas terras tomadas de brancos
Tema divide país em linhas raciais e provocou violência em 2000 após ditador impor via rápida de expropriações, sem pagar compensações
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A HARARE
FABIO ZANINI
EM HARARE
O regime de Robert Mugabe,
84, começou ontem a dar sinais
de que voltará a usar a polêmica
sobre a posse da terra como
mote principal de campanha
num esperado segundo turno
no Zimbábue. Os resultados da
votação presidencial, há uma
semana, não foram divulgados.
Ontem, líderes do grupo dos
veteranos da guerra, da base do
partido governista Zanu-PF,
afirmaram que haverá resistência armada caso ex-proprietários de terras brancos tentem
retomar suas fazendas -algo
que vem sendo sugerido em caso de vitória do opositor MDC
(Movimento pela Mudança Democrática). "Não permitiremos que seja revertida essa
conquista do movimento de libertação", disse à Folha Christopher Mutsvangwa.
O tema divide o país em linhas raciais e já foi usado em
2002 por Mugabe, em sua última eleição, marcada pela violência. A disputa opõe os chamados "veteranos da guerra de
independência" e fazendeiros
brancos, que detinham 37,5%
de toda a terra do país, segundo
a associação de ex-proprietários Justiça para a Agricultura.
Em 2000, Mugabe perdeu
um referendo constitucional
que previa expropriações sem
indenização; ainda assim, iniciou uma reforma agrária por
"via rápida", retirando as terras
dos brancos sem compensação
e oferendo-a aos negros.
"Ninguém discute a necessidade de reforma agrária", afirma John Worsley-Warrick, 51,
expropriado de sua fazenda em
2002 e presidente do grupo,
quase exclusivamente branco.
"Mas não foram seguidas as
leis do país, muito menos as internacionais." Ele diz que foram tomadas sem compensação 6.800 propriedades; 4.000
fazendeiros foram expulsos.
"Mais de 50% deixaram a África, e 18 foram assassinados."
A associação afirma que a
maioria das terras expropriadas havia sido adquirida depois
de 1980 -ano da independência-, contrariando o argumento de Mugabe de correção de
injustiças coloniais. Agora, os
associados querem compensações ou as terras de volta e prometem levar a demanda a tribunais internacionais.
Direitos humanos
Para Rangu Nvamurunsira,
advogado de trabalhadores rurais e negro, a questão da terra é
também de direitos humanos.
"Não foram só os brancos que
sofreram. Milhares de trabalhadores negros das fazendas
foram expulsos e agredidos.
Não têm como sobreviver."
A reforma de Mugabe é citada pela oposição como gênese
da crise econômica do país, sob
inflação de 100.000% ao ano.
Terras produtivas foram dadas
a pessoas sem experiência, fazendo ruir a produção.
Para o governo, o problema é
a "vingança" britânica contra a
tomada de terras. "Não conseguimos recuperar a produção
de grãos por causa das sanções
britânicas", diz Mutsvangwa.
É indiscutível que a agricultura foi arruinada. O tabaco,
que compunha 40% do PIB antes da redistribuição, teve queda de 80% na produção. Com o
apoio diminuto do governo, as
fazendas comerciais estão em
grande parte ociosas.
"Minha fazenda está destruída. Não há produção, e a casa
está abandonada", disse à Folha Stuart Pattison, 51, que teve
a propriedade invadida por veteranos em 2001. "Deram duas
semanas para eu sair", diz ele,
que hoje vive na Austrália.
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