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Argentina pune casal que criou bebê de desaparecidos
Jovem foi registrada como filha e iniciou processo
DA REDAÇÃO
A Justiça argentina condenou a, respectivamente, oito e
sete anos de prisão, Osvaldo Rivas e María Cristina Gómez
Pinto, casal que, em 1978, se
apropriou da filha de dois dissidentes desaparecidos nos porões da última ditadura militar
argentina (1976-1983).
Rivas e Gómez foram processados por iniciativa da própria
filha adotiva, María Eugenia
Sampallo, 30. Foi a primeira
vez que um julgamento deste
tipo foi iniciado pela própria
pessoa apropriada.
A Justiça também condenou
o capitão da reserva Enrique
José Berthier -responsável
por seqüestrar Sampallo e entregá-la a Rivas e Gómez- a
dez anos de prisão.
A decisão do Tribunal Federal Oral de Buenos Aires é a primeira a condenar pessoas que
adotaram bebês roubados de
dissidentes mortos ou desaparecidos durante a ditadura. Antes, só militares responsáveis
pela entrega dos bebês já haviam sido condenados.
A acusação pedia a condenação do casal e de Berthier por
25 anos, sentença máxima, sob
as acusações de retenção ilegal
de Sampallo e de falsificação da
certidão de nascimento dela.
Gómez foi absolvida da segunda imputação.
Sampallo descobriu sua
identidade real em 2001, quando, após ser localizada pelas
Avós da Praça de Maio, um exame de DNA revelou que ela era
filha de Leonardo Sampallo e
Mirta Barragán, seqüestrados
em dezembro de 1977 pela ditadura argentina. Em fevereiro
do ano seguinte, Barragán deu à
luz no cativeiro. Em maio do
mesmo ano, a menina foi entregue por Berthier ao casal que a
criaria. Já os pais biológicos estão desaparecidos até hoje.
"Eles não são meus pais. São
meus seqüestradores. Não tenho nenhum tipo de ligação
emocional com eles", disse
Sampallo, em entrevista recente. "Estes são meus pais", completou, em lágrimas, segurando
uma foto dos desaparecidos.
As Avós da Praça de Maio,
grupo dedicado à recuperação
de filhos de desaparecidos durante a ditadura, calculam que
500 bebês tenham sido roubados e entregues a casais como
filhos adotivos. Desde a sua
criação, o grupo já ajudou a
identificar 77 jovens criados
nessas circunstâncias.
Em sessões anteriores do julgamento, Sampallo havia dito
que o objetivo de seu processo
era que "a sociedade deixe de
aceitar que se roubem filhos de
outras pessoas". Sobre aqueles
que a criaram como filha por 19
anos, quando abandonou a casa
já sob a suspeita de ser filha de
desaparecidos, Sampallo disse:
"Não guardei lembranças relacionadas a Rivas e Gómez como
pais, porque prefiro não me
lembrar disso".
Desde 2005, quando a Corte
Suprema de Justiça anulou as
leis de anistia do governo Raúl
Alfonsín (1983-1989), foram
reabertas na Argentina mais de
800 causas contra integrantes
da ditadura.
A sentença de ontem soma-se a outras simbólicas como a
que no ano passado condenou à
prisão perpétua o padre Christian von Wernich por participação em torturas e assassinatos -foi a primeira condenação
deste tipo contra um membro
da Igreja Católica.
Com agências internacionais
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