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PERTO DO FRONT
Soldado do Exército dos EUA, brasileiro relata sua rotina em base no Kuait durante a guerra
"Ruim era acordar com som das sirenes"
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
"A maioria das bombas vinha
no meio da noite. Ruim era acordar com o som das sirenes." Assim o paulistano Dylan Rios
Matz, 28, descreve o período
mais tenso que passou em uma
base americana no Kuait, durante o ataque anglo-americano ao
Iraque. Com dupla cidadania
por seu pai ter nascido nos EUA,
Matz entrou para o Exército
americano seis meses após se
mudar para Nova York, em 97.
Pára-quedista do Exército,
acabou convocado para a guerra
e passou os últimos quatro meses empacotando suprimentos
para as tropas no front.
A seguir, trechos da entrevista
que ele concedeu por e-mail.
Folha - Como você recebeu a
convocação para a guerra?
Dylan Rios Matz - Eles nos falaram um pouco antes do Natal,
mas como no Exército nada é escrito em pedras, duvidei até o dia
em que o sargento deu a notícia
de que o nosso pelotão seria anexado a uma outra companhia e
que era para tirarmos o dia de
folga e começarmos a preparar
tudo para o posicionamento. Falei com minha mulher e disse
que eu não tinha idéia de como
falaria isso à minha família. Estava dividido. Queria ir, mas ao
mesmo tempo não queria abandonar minha família.
Folha - Qual sua impressão ao
desembarcar no Kuait?
Matz - Minha primeira impressão foi de que um franco-atirador ia me dar um tiro na cabeça
assim que eu saísse do avião. Estava cansado da viagem. Não estava entendendo quase nada, a
nossa base era muito estranha.
Havia vários prédios destruídos
e aquele barulho infernal dos caças britânicos.
Folha - Como era o clima antes de
começar a guerra?
Matz - As semanas de espera
foram tediosas, e comecei a ficar
deprimido. Lembrei-me do meu
pai. Uma vez eu perguntei a ele
como era a guerra, e ele me disse
que era um tédio horrível.
O clima na base era de descontração, uma situação surrealista.
Lembra o filme "Apocalipse
Now"? A cena em que as mulheres da "Playboy" dão um show
no meio do nada? Antes da guerra tínhamos de tudo: boate, filmes, ginásio. As pessoas usavam
roupas civis a maior parte do
tempo.
Folha - Você e seus companheiros temiam ataques iraquianos?
Matz - É lógico que a gente temia. Os ataques eram sempre
aéreos, não sei quantos mísseis
explodiram nos arredores da
nossa base. A maioria das bombas vinha no meio da noite.
Ruim era acordar com o som
das sirenes. Uma vez sonhei que
a sirene ia tocar, e, um minuto
depois, tocou.
Folha - Como era a rotina na base
durante a guerra, o que vocês faziam no tempo livre?
Matz - Nos momentos de folga,
gostava de usar a internet para
mandar notícias para minha
mãe e para minha esposa ou tirar o atraso do sono. Tudo foi fechado na guerra, a gente só tinha
acesso a banheiros, refeitório e
computadores.
Folha - Você concorda com a justificativa do presidente Bush para
a guerra, de que o Iraque tinha armas de destruição em massa?
Matz - Não. Centenas de loucos
iguais ao Saddam estão espalhados pelo mundo e cada um deles
tem a chance de produzir armas
químicas. Arrumar uma justificativa é a coisa mais fácil que
existe, basta querer. É só fabricar
a evidência e convencer as pessoas de que ela existe. A diferença entre tirar Saddam do poder e
não qualquer outro é o custo-benefício da operação.
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