São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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SAÚDE

Reino Unido mergulha em debate ético com a notícia; Antinori, médico da grávida, diz que "idade não é importante"

Britânica de 63 anos anuncia gravidez

Gareth Fuller/Associated Press
Patricia Rashbrook, 63, grávida de sete meses, e marido, John Farrant, deixam sua casa em Lewes


FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Uma psiquiatra de 63 anos abriu ontem um acalorado debate no Reino Unido ao anunciar que está grávida de sete meses. Patricia Rashbrook, que já tem dois filhos na casa dos 20 anos, será a mãe mais velha a dar à luz de que se tem notícia na história do país.
Apoiada pelo segundo marido, John Farrant, 61, ela se submeteu a um tratamento de fertilização artificial com o mais que polêmico médico italiano Severino Antinori, especialista em fazer engravidar mulheres que já passaram da menopausa. Teve introduzido em seu útero um óvulo de uma doadora fértil.
O tratamento foi feito em um país europeu não revelado, já que no Reino Unido, embora não haja proibição legal a respeito, dificilmente as clínicas aceitam mulheres acima de 45 anos.
A história de Rashbrook, revelada pelo tablóide sensacionalista "The Sun" e repercutida com destaque por jornais e TVs do país, acendeu de imediato discussões sobre os limites éticos desse tipo de procedimento.
"É uma sociedade de consumidores que querem absolutamente tudo, e não param para pensar que uma criança não é um produto. Ela está sendo egoísta, pois o maior amor às vezes é dizer não", disse a diretora da ONG Core (Comment on Reproductive Ethics), Josephine Quintavalle.
"É extremamente difícil para uma criança ter uma mãe que poderia ser sua avó", completou.
A mesma acusação de egoísmo foi feita pela editora de saúde do diário "The Guardian", Sarah Boseley. "Não duvido da disposição, da energia e da inteligência deles [os pais]. Mas um filho é para a vida, não apenas para embalar no berço. O importante é que uma criança precisa de alguém com energia para correr por aí e brincar com ela", escreveu.
Embora mais contida, a Sociedade Britânica de Fertilização também alertou sobre potenciais problemas. "Há riscos de saúde associados com gravidez de mulheres mais velhas. Elas têm mais propensão a ter pressão alta, diabetes, desenvolverem problemas com a placenta e aí precisarem de cesariana", observou o secretário da entidade, Allan Pacey.
Num comunicado divulgado ontem, o casal defendeu seu direito a ter e criar o bebê. "Estamos realizados em confirmar essa gravidez, não obstante os seus aspectos inusuais e potencialmente controversos. Queremos enfatizar que não foi um esforço empreendido facilmente ou sem coragem", afirmaram.
Os futuros pais disseram ainda terem tudo preparado para assegurar à criança bem-estar "presente e futuro, em termos médicos, sociais e materiais".
"Estamos muito felizes por termos dado a vida a um já muito amado bebê e nosso desejo agora é dar-lhe a paz e a segurança de que precisa."
O italiano Antinori, acusado por vários cientistas de charlatão, afirmou que os 63 anos de Rashbrook são a idade-limite para uma mulher poder fazer o tratamento de fertilização. E defendeu a paciente. "Quando um casal se ama, naturalmente quer ter um filho. A idade não é importante, o que importa são as condições físicas da mãe."
Em 1997, o Reino Unido já vira polêmica semelhante, quando Liz Buttle, 60, mentiu a idade para poder fazer tratamento no país (afirmou ter 49). Em janeiro passado, a romena Adriana Iliescu teve uma filha aos 66 anos, tornando-se possivelmente a mãe mais velha do mundo a dar à luz.


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