São Paulo, sábado, 05 de maio de 2007

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Sarkozy "paz e amor" recorre a De Gaulle na reta final

Socialistas já falam em novas alianças, mais ao centro; será preciso "inventar outra coisa", afirma o presidente do PS

Candidato conservador tenta se afastar de retórica à direita que marcou sua campanha durante o primeiro turno francês

Michel Euler/Associated Press
Partidários da socialista Ségolène no último comício, em Brest


JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Depois da publicação das últimas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de amanhã na França, um dos porta-vozes da candidata socialista Ségolène Royal, Julien Dray, disse à Rádio França Internacional que a situação da esquerda "é difícil", diante da vantagem do candidato conservador, Nicolas Sarkozy.
A própria Ségolène, em discurso na cidade de Lorient, noroeste francês, afirmou que "ainda há esperança" e que é preciso "abrir os olhos" e votar de acordo com a "moral pública". Lançou mão de metáforas fortes, em favor de uma "França iluminada", e opôs a "luz" à "escuridão" que seu adversário representaria. Ainda em Lorient, disse prometer demonstrar que as pesquisas mentiam.
Antes, Ségolène havia advertido que pode haver "brutalidade e violência" caso o adversário vença, numa referência aos confrontos entre Sarkozy, quando ministro do Interior, e os moradores dos subúrbios habitados por uma segunda geração de imigrantes muçulmanos, nos quais automóveis foram queimados aos milhares em outubro de 2005.
Um quadro mais apaziguador desses subúrbios foi dado pouco depois, no entanto, pelo "Le Monde", que aliás apóia Ségolène. Três repórteres daquele jornal entrevistaram prefeitos de áreas conflagradas há dois anos. Os prefeitos disseram não haver perigo de novas explosões sociais e citaram a melhoria dos canais políticos, exemplificados pela baixa abstenção e a elevada inscrição nas listas eleitorais (o voto por aqui não é obrigatório).
Sarkozy, que passou o último dia de campanha na região dos Alpes, mostrou-se fleumático, num inesperado estilo "paz e amor". "Por que será que uma mulher tão cheia de qualidades exprime sentimentos tão violentos?" Ele a acusou de estar "febril", mas ao mesmo tempo se recusou a cantar vitória por antecipação.
"Sarkô" visitou o planalto de Glières, base da Resistência (1939-1944) durante a ocupação alemã. E prometeu que, se eleito, visitaria o local ao menos uma vez por ano. Foi um novo gesto para se afastar de posições empedernidas de direita, mote de sua campanha no primeiro turno, e se apresentar agora como um sucessor do general Charles de Gaulle, ex-presidente da República e chefe da Resistência.
Ainda ontem, três dirigentes socialistas deram declarações que podem na melhor das hipóteses sinalizar o perfil político do governo Ségolène ou, na hipótese mais realista, os rumos do Partido Socialista após a derrota presidencial.
Pierre Mauroy falou em "abrir o círculo" para a inclusão dos centristas. Lionel Jospin, ex-primeiro-ministro e ex-candidato presidencial, falou em aliança com "os republicanos progressistas". E François Hollande, presidente do PS e marido de Ségolène, afirmou ao jornal econômico "Les Echos" que depois das legislativas, em junho, "será preciso inventar outra coisa" com as demais forças progressistas.
Seria, mais ou menos, uma coligação semelhante à que levou o italiano Romano Prodi ao poder e que reuniu no ano passado da extrema esquerda ao centro cristão.
Ontem, o PS francês e o Partido Social-Democrata alemão defenderam "uma nova base constitucional" para substituir a proposta de Constituição européia derrotada pelos franceses em referendo em 2005. Os dois partidos pedem que o novo tratado torne obrigatórios em particular os direitos sociais e simplifique os procedimentos da UE.


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