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ANÁLISE
Ação de Bush e guerra dão alento a plano
ADRIAN HAMILTON
DO "INDEPENDENT"
Depois de todas as esperanças
que já se frustraram e as iniciativas que já atolaram no caminho
para a paz no Oriente Médio, por
que alguém deveria imaginar que
as coisas seriam diferentes agora?
O envolvimento do presidente
George W. Bush é um fator evidente quando se leva em conta
sua relutância prévia em se envolver. Mas a verdade é que, de boa
vontade ou a contragosto, todos
os presidentes americanos anteriores já tinham sido arrastados
para esse mesmo atoleiro. E todos
terminaram derrotados pela
complexidade da disputa e a profundidade do ódio mútuo.
Tampouco é possível dizer que
seja um avanço inusitado o fato
de Bush ter conseguido convencer um grupo de Estados árabes
"moderados" a apoiar o processo.
Arábia Saudita, Jordânia, Bahrein
e Egito, os países que Bush levou a
Ácaba anteontem, são todos, em
essência, clientes dos EUA cuja
convocação para apoiar iniciativas dessa natureza já é de praxe.
Os países que fariam a diferença
-Líbano, Síria e, embora mais
distante, Irã- não estavam presentes. Eles ainda se mantêm em
silêncio. Ou em terror.
Nem mesmo os gestos conciliadores vindos do direitista premiê
israelense, Ariel Sharon, diferem
significativamente dos que foram
vistos antes. Quase toda vez que
Washington deu início a conversações de paz, foi com ex-generais, como Yitzhak Shamir e Yitzhak Rabin, saudados como homens que tinham a autoridade de
batalha necessária para convencer a direita israelense a aderir.
Até agora, Sharon cedeu pouco
além do que já havia se mostrado
disposto a ceder.
Não, a verdadeira diferença,
agora, é a mais óbvia. O presidente dos EUA se engajou após vencer uma guerra no Iraque que retirou do cenário um dos maiores
inimigos de Israel, uma guerra
que foi travada explicitamente para redesenhar o mapa de segurança de todo o Oriente Médio. Os
presidentes americanos anteriores, especialmente o pai do atual,
exerceram pressão sobre Israel.
Mas nenhum deles pôde discutir
a paz contando com uma transformação regional. É isso que dá
uma oportunidade única a Bush.
Como o premiê Tony Blair fez
questão de observar ontem, o
progresso já superou de longe o
que previam os "cínicos" -ou
realistas, tratando-se de Oriente
Médio. Mas a observação é perfeitamente válida. Se a caricatura de
Bush vem sendo a de um homem
dominado pelos neoconservadores e em conluio com a direita israelense, que só quer se envolver
na região para proteger Israel, seu
roteiro nesta semana surpreendeu por ser tão diferente dela.
O problema de Bush, entretanto, não é que deveríamos duvidar
de sua palavra. Os últimos 12 meses mostraram que o que ele diz,
desde o discurso sobre o "eixo do
mal" até suas declarações sobre
"mudança de regime", é o que ele
quer dizer. O problema é determinar para onde ele vai com suas declarações. Tendo resolvido a questão iraquiana, ele vê a questão palestina como o próximo
obstáculo à paz regional.
As concessões mais difíceis
-desmontar as colônias estabelecidas desde 1967, dividir Jerusalém como capital, negociar qualquer retorno dos refugiados-
poderiam ser adiadas com segurança. A primeira fase do plano
seria o bastante, por enquanto. Os
palestinos não estão em condições de rejeitá-la, e não é do interesse de Israel fazê-lo. Além disso,
ambas as populações se beneficiariam de uma pausa no terror.
Quanto a Bush, nas eleições presidenciais do próximo ano ele poderia apresentar o que fez como
avanço inovador. E, se tudo desse
errado depois disso, ele teria dado
o melhor de si e feito muito para
melhorar a segurança de Israel.
Um caminho conduz à paz possível. O outro, a um processo que
vai derrapar assim que as eleições
presidenciais ganharem impulso
e o processo teoricamente passar
para a fase seguinte. Um conduz a
um Estado palestino viável. O outro, a mais uma traição à causa palestina.
Tradução de Clara Allain
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