São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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IRAQUE OCUPADO

João Paulo 2º critica guerra, faz referência à tortura de iraquianos por americanos e pede papel maior à ONU

No Vaticano, Bush ouve sermão do papa

Andrew Medichini/Associated Press
Em Roma, italianos pintam suástica na bandeira americana


DA REDAÇÃO

Em encontro ontem com o presidente George W. Bush no Vaticano, o papa João Paulo 2º voltou a criticar a invasão do Iraque pelos EUA e disse que o mundo ficou perturbado com recentes "eventos deploráveis", numa aparente referência à tortura de iraquianos por americanos.
A presença do presidente dos EUA na Itália provocou uma onda de protestos em Roma. Com faixas com dizeres como "Não à guerra" e "Não em meu nome, sr. Bush", milhares de manifestantes foram às ruas. As estimativas do tamanho da multidão variaram entre 7.000 e 200.000 (em fevereiro de 2003, houve uma manifestação em Roma com cerca de 1 milhão de pessoas contra a iminente invasão do Iraque). Um grupo de simpatizantes de Bush fez um ato de apoio na praça Navona.
A maioria dos italianos se opôs à invasão no ano passado. Apesar disso, o governo do premiê Silvio Berlusconi deu apoio decidido aos americanos. A Itália tem a terceira maior força militar no Iraque, com cerca de 3.000 soldados.

"Posição inequívoca"
"O senhor já está familiarizado com a posição inequívoca da Santa Sé a esse respeito [da guerra], expressa em numerosos documentos, contatos diretos e indiretos e esforços diplomáticos", disse o papa. "É desejo claro de todos que essa situação seja normalizada o mais depressa possível, com a participação ativa da comunidade internacional, em particular das Nações Unidas, para restituir rapidamente a soberania do Iraque", prosseguiu o papa, que sofre de mal de Parkinson, com voz e mãos trêmulas.
Funcionários da Casa Branca disseram ter tido dificuldades para entender o papa e que teriam que ler a transcrição do discurso antes de fazer algum pronunciamento. A fraqueza de João Paulo 2º, 84, também foi comentada por um prelado do Vaticano: "É muito chato. Ele está em um de seus dias ruins. Ele tem uma mensagem dura para transmitir, e ela não passará na televisão".
Bush respondeu chamando o papa de "devoto servo de Deus" e afirmando que trabalharia pela "liberdade e dignidade humana". Ele não fez alusões diretas ao Iraque nem às torturas contra prisioneiros iraquianos feitas por militares americanos.
Famoso por sua pontualidade, Bush chegou 15 minutos atrasado ao encontro, desagradando a funcionários do Vaticano. Bush agraciou o papa com a Medalha Presidencial da Liberdade, maior honraria americana concedida a civis. Os dois ainda tiveram uma reunião fechada de 15 minutos.
Embora as comemorações dos 60 anos da libertação da Itália do domínio nazista e do desembarque aliado na Normandia sejam o motivo oficial de sua visita à Europa, Bush pretende aproveitar a ocasião para conseguir mais apoio internacional à posição dos EUA no Iraque -especialmente à nova proposta de resolução apresentada ao Conselho de Segurança da ONU.
Apesar das divergências quanto ao Iraque, o papa fez elogios ao presidente, falando de sua "imensa apreciação" pela defesa que Bush faz de valores tradicionais, "particularmente no que diz respeito à vida e à família".
Bush, que é metodista fervoroso, é um dos presidentes americanos que mais faz referências à religião. Candidato à reeleição em novembro, tem defendido com bastante ênfase bandeiras dos conservadores, como a proibição ao aborto e aos casamentos gays.
Além do encontro com o papa e da homenagem aos mortos na Segunda Guerra, os compromissos do presidente americano na Itália ontem incluíram uma breve visita ao presidente italiano, Carlo Azeglio Ciampi, e um jantar oferecido por Berlusconi. Hoje, Bush tem nova reunião com o premiê e depois prossegue seu giro europeu com uma visita à França.

Com agências internacionais


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