São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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Relatórios críticos à CIA derrubaram diretor, diz jornal

DA REDAÇÃO

O ex-diretor da CIA George Tenet deixou o cargo de modo surpreendente, anteontem, porque era iminente a divulgação de três relatórios contundentes sobre o trabalho da agência de inteligência americana, disse ontem o jornal "The New York Times".
A informação circulou no mesmo dia em que outro importante membro da CIA -James Pavitt, vice-diretor de operações- anunciou sua aposentadoria. Um comunicado da agência disse que a saída de Pavitt não tem relação com a de Tenet e fora decidida havia um mês. Mas a nova baixa serviu para acentuar a impressão de crise na CIA.
Segundo funcionários do governo americano, um dos relatórios a que o "Times" se referiu -um documento de 400 páginas produzido pela comissão do Senado para a Inteligência- destaca desde a deficiente coleta de informações por espiões e satélites no período pré-Guerra do Iraque até análises medíocres, freqüentemente baseadas em fontes não-confiáveis, responsáveis pela conclusão de que o regime de Saddam Hussein tinha armas químicas e biológicas.
"É um ataque total à CIA e à maneira lamentável como ela estragou tudo", disse ao "Financial Times" um funcionário do Congresso com acesso ao documento.
Os outros relatórios são da comissão independente que analisa a atuação dos serviços de inteligência nos ataques do 11 de Setembro e do funcionário da CIA encarregado de procurar o arsenal proibido no Iraque. Os três relatórios se tornarão públicos nas próximas semanas e meses.
A saída de Tenet fez ressurgirem os pedidos para a realização de uma ampla reforma da CIA. Parlamentares republicanos e democratas e jornais se manifestaram nesse sentido.
Em editorial, o "New York Times" disse que a Casa Branca e o Congresso deveriam "finalmente agir seriamente quanto à reforma da comunidade de informação e fornecer ao próximo diretor [da CIA] as ferramentas necessárias para o trabalho".
Segundo o diário nova-iorquino, Tenet tinha a responsabilidade de supervisionar 15 agências de inteligência, mas era desprovido da autoridade necessária para exercer o controle delas. O jornal também observa que a maior parte do orçamento de inteligência fica fora do controle da agência, sendo encaminhado para o Pentágono, e que o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, tentou repetidas vezes esvaziar a importância da CIA.

"Criatividade"
O agora ex-vice-diretor de operações James Pavitt, 58, entrou para a CIA em 1973, tendo trabalhado na Europa e na Ásia e no quartel-general da agência em Langley (Virgínia). Ele chefiou a diretoria de operações -à qual estão subordinados os agentes secretos- nos últimos cinco anos.
Seu substituto no cargo será Stephen Kappes, que tem uma carreira de 23 anos na agência.
"Ele [Pavitt] liderou o serviço secreto com energia e criatividade, reconstruindo a infra-estrutura para recrutar, treinar e apoiar os operadores que buscam as informações que são tão vitais para proteger nossa nação e os interesses americanos", disse Tenet, que continuará à frente da CIA por mais um mês. Ele disse ter pedido demissão "por motivos pessoais".


Com agências internacionais


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